Local Do Crime

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Era simplesmente horrível ir até lá. Ir ao local em que sua irmã havia sido assassinado, a sangue frio, ele não podia evitar as lembranças doces de sua infância, que fluíam em sua mente.

Estavam em um descampado, sua irmão, aos 8 anos, corria atrás de borboletas enquanto ele e a mãe comiam sanduíches de pasta de amendoim e tomavam limonada. Era um dia lindo de verão. Fresco, sem nuvens. Bea havia finalmente conseguido pegar a borboleta. Foi correndo até a mãe e o irmão.

-Mamãe, mamãe, olha que linda!

Assim que abriu a mão a borboleta bateu as asas lentamente cerca de 3 vezes e saiu voando. Era preta e tinhas belos detalhes azuis, que refletiam a luz do sol.

-Linda como seus olhos. –Disse Annie sorrindo. Não era fácil acreditar que era uma mulher de 50 anos. Não tinha praticamente nenhuma ruga. Seus cabelos eram perfeitamente castanhos, sem nenhum traço grisalho. Os olhos eram da mesma cor. Ela sempre dizia que seus filhos eram parecidíssimos com o pai, que havia falecido quando Luke tinha 4 anos e Bea 2. Loiros e de olhos azuis. Luke sentia falta dele, embora não tivesse convivido com ele por muito tempo.

Tirou aquela lembrança da cabeça. Não ia conseguir nada se ficasse se lamentando pelo seu passado. Teria que seguir em frente para conseguir uma luz no presente. Não queria encontrar o assassino apenas por sua causa dele ou de sua irmã, mas também por sua mãe. Havia cansado de vê-la chorar por medo de o assassino vir atrás de seu filho, ou pela injustiça que era acabar com uma vida tão jovem.

-Ok. –Disse Andrew. –O que procuramos, Julie?

-Rastros biológicos. Cabelos, unha, até mesmo sangue que não tenha sido limpo é útil. É possível que ele tenha tentando lutar.

-Ela sempre andava com um canivete na bolsa. –Lembrou Luke. –Nunca o largava. Ela não o deixou em casa no dia do crime, mas a polícia também não achou sua bolsa e nenhum sinal de que tenha sido cortada ou perfurada.

-Isso pode ser útil. Vocês dois se espalham aqui por baixo. –Ela olhou para a escada. –Eu vou olhar lá encima.

Resolvi ir a frente. Já estive ali várias vezes com ela antes. Costumávamos matar aula, sentar e ouvir música, conversar, ou até mesmo fazer nossas tarefas já que era um lugar calmo.

Olhei ao redor. Havia a mesa em que sempre sentávamos. Me aproximei e vi um prego com a ponta pra fora. Lembrei da vez e que resolvemos sentar ali para fazermos as tarefas. Eu a empurrei e ela bateu o braço no prego. Teve que levar 4 pontos. Analisei a mesa, não havia nada ali.

Olhei para a coluna na qual costumávamos nos esconder para assustar alguém ou para fugir de seguranças. Bea sempre havia achado engraçado o instinto humano. Ela o comparava ao animal. "Quando você se sente em perigo ou com medo, você corre e se esconde. Como uma presa encurralada", dizia ela. Não conseguia parar de imaginá-la com uma presa encurralada agora. Foi até atrás da coluna. Percebeu algo no chão. Algo que não devia estar lá. Um fio de cabelo. Loiro. Ensanguentado. O sangue poderia ser de sua irmã. Afinal ela havia sido assassinado ali. Mas o fio de cabelo... o cabelo de Bea era completamente ondulado. Mas aquele fio. Era completamente liso.

-Muito bem, descartamos todos os suspeitos de cabelo castanho.

Guardei o fio em um saco de plástico. Julie havia dito que tinha como ela analisar amostras de sangue em casa. Tinha quase certeza que era de Bea, mas era melhor ter certeza. Pegou seu celular e olhou a hora. 18:30. Eles deviam estar esperando no lugar em que se separaram. Aquele era o ponto de encontro. Fui correndo. Afinal, também tinha horário para chegar em casa.

Viu Julie quando estava chegando, antes de ver Andrew. Eles foram ao seu encontro.

-Encontraram alguma coisa? – Sabia que provavelmente não teriam achado nada, mas não podia perder a esperança.

-Nada no outro andar. –Julie dirigiu o olhar para Andrew.

-Eu achei o canivete dela cara. Essa merda tem sangue seco na lâmina. Ela com certeza cortou o merdinha que tentou fazer isso com ela.

-Ah, cara, você não sabe como é bom ouvir isso.

-E você, Luke? –O olhar de Julie estava me fitando, sentia como se ela olhasse minha alma e não meus olhos. Nunca havia reparado, mais ela tinha olhos lindos. Por um momento, esqueci da pergunta. Sacudi a cabeça, como se estivesse fugindo de um transe.

-Ah certo, ahn... –Tirei o fio de cabelo do bolso e entreguei a Julie. –Achei isso onde ela... –Limpei a garganta antes de continuar –Onde ela foi assassinada.

-Mas, Luke, -Ela parecia estar me achando um retardado agora. –esse cabelo é da Bea.

-Não, não. Olha, a Bea tinha o cabelo ondulado, lembra? Esse fio é completamente liso.

-Assim como o da Ashley.

Não podia acreditar. Ela estava implicando com a Ashley de novo.

-Ou como os de Jason. Ou como os da Piper.

-Piper? O que, aquela gata do segundo B? –Andrew me olhou, indagativo. Esqueci que ele tinha uma queda por ela também.

-Olha, vamos levar isso pra minha casa. Tenho um laboratório lá, a gente analisa e depois discute.

-Eu não vou poder. –Lembrei. –Ao contrário de vocês, eu tenho que ajudar minha mãe a limpar a casa.

-Tá, então... –Pensativa de novo, pensei. –Amanhã, só temos aula de manhã. Passa lá em casa por volta da uma 13:30, a gente analisa juntos. Agora, vamos indo. Todos temos hora pra chegar em casa.

Mas eu não estava mas pensando em horário ou no fato de que tinha de ir. Gostaria de ficar uns minuto em um lugar que passei tanto tempo com Bea. Sozinho.

-Luke? –Julie parecia estar atenta ao que eu ia fazer em seguida.

-Podem ir, eu... vou ficar mais um pouco.

Fui em direção a mesa, sem olhar para ver se eles haviam saído. Sentei no mesmo banco de concreto de sempre, de costas pra mesa, dessa vez. Era solitário sem Bea, e não queria me sentar olhando, pra mesa, imaginar ela rindo e fazendo piadas ali, do outro lado. Senti um mão no meu ombro e percebi que Julie estava sentada ao meu lado.

-Você tá bem? –Olhei em seus olhos. Tinha uma expressão preocupada no rosto, e eu não gostava de vê-la assim. Fico de pé, não queria ficar ali, com todas aquelas lembranças.

-Eu tô bem, eu só... –Não consigo conter as lágrimas. Vejo Julie se levantar. Nunca havia reparado, mas ela era apenas alguns centímetros mais baixa que eu. Ela me abraçou. Aquilo era reconfortante, apesar de estranho. Era bom, sentir o cheiro do seu cabelo. Nunca havia percebido isso também, mas eles tinham cheiro de lavanda, um cheiro doce.

-Eu só queria que ela estivesse aqui. –Consigo dizer em meio as lágrimas.

-Vai ficar tudo bem. –Ela diz, acariciando meus cabelos. Não queria que aquilo parasse nunca. Eu precisava disso. –A gente vai achar quem fez isso.

Aquilo não foi uma promessa, mas em meu interior, percebi que era como se fosse. Talvez, ainda houvesse esperança no fim. 

O Assassinato de Beatrice ParkerOnde histórias criam vida. Descubra agora