Memórias de Família

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-Vamos logo filho, não vai querer se atrasar

A verdade, é que eu queria sim. Havíamos combinados de ir ao campo onde tínhamos uma casa. Passar o sábado lá e tal... Mas eu não queria ir. Não mesmo. Sabia que lembranças me aguardam lá. Me olho em um espelho antes de colocar uma camisa. A academia todo domingo e terça parecia estar fazendo efeito. Várias garotas iam querer alguém sarado, não? Isso se, ao menos, eu andasse sem camisa. Coisa que eu nunca fazia. Pego uma camisa preta qualquer em meu guarda-roupa e passo a mão no cabelo, para colocá-lo em um topete, como sempre fazia. Desço, colocando meus fones de ouvido. Coloco The Little Things Give You Away assim que entro no carro. Ponho o cinto e meus fones de ouvido. Seria uma viajem longa, de 5 horas. E eu não estava nem um pouco afim de conversar.

***

Assim que vejo a velha casa, sinto um aperto no peito. Sabia que seria difícil, mas não tanto.

Estacionamos na frente da casa. Pego minha mochila e entro. Vou até o quarto que sempre ficamos, eu e Bea, juntos. Era incrível como ele parecia tão vazio, mesmo só com uma pessoa a menos. Olho a parte de cima do beliche em que dormíamos. Fazia uns cinco anos que eu não ia ali. Quando mais novos, sempre brigávamos pra ver quem ficava com o beliche de cima. Dou um sorriso triste. Era engraçado como brigávamos e discutíamos por besteiras. Mas a última vez, havia sido diferente. Lembro como se fosse hoje.

***

-A cama de cima é minha!

Ela entrou correndo no quarto, eu andando calmamente atrás dela.

-Ok, Joaninha...

-Eu não gosto quando você me chama de Joaninha! –Ela me interrompe, mas a ignoro.

-...Vamos fazer o seguinte. –Olho pela janela e vejo uma mariposa, linda e rústica, em minha opinião, na árvore mais próxima. Tinha as asas do tom da madeira, para se camuflar. –Se você conseguir capturá-la até hoje à noite, te deixo fica com a cama de cima. Tem um vidro na cozinha.

Seus olhos brilharam com a ideia. Ela saiu correndo

***

Minha mãe entra no quarto. Ela coloca a mão esquerda sobre meu ombro direito o afagando levemente.

-Eu estava lembrando da última...

-...Vez que viemos aqui e como eu mandei a Bea pegar uma mariposa para poder ficar com a cama de cima? –Sinto minha voz embargar e limpo a garganta. –É, eu também.

-Ah, Luke. -Minha mãe me abraça. Sinto meus olhos marejados assim que os fecho. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e cai em sua blusa.

-Por que é tudo tão difícil? –Pergunto em meio aos soluços.

-Tudo vai melhorar, filho. Eu prometo.

Me solto de seu abraço e limpo as lágrimas com a barra da blusa. A minha de minha mãe afaga carinhosamente meu ombro.

-Vamos comer, Leo vai chegar daqui a uns 10 minutos. Vai almoçar aqui e passar a tarde.

Por um breve momento, fico feliz. Leo havia sido um amigo de infância, um ótimo amigo. Perdemos contato nos últimos 5 anos. Ia ser legal vê-lo novamente. Ele era como um irmão mais velho para minha irmã. Sempre admirei isso nele.

Olho minha blusa. Molhada, ótimo.

-Eu vou me trocar e já vou.

Dou um beijo na testa de minha mãe. Ela sempre foi baixinha.

Tiro a mochila e coloco na parte de baixo do beliche. Tiro uma camisa de banda (Panic! At The Disco) de lá. Tiro a blusa molhada e mantenho o olhar em uma cicatriz que possuo a 7 anos. Foi feita de um jeito idiota, claro, mas que Julie achava muito corajoso.

***

Estávamos em sua casa, brincando. Havia um grande lago na parte de trás, mas sempre fomos proibidos de ir lá, pois haviam muitas pedras. Estávamos em sua beirada, e havia musgo no chão. Ela foi correndo em minha direção e caiu dentro do lago. Julie nunca soube nadar e, depois disso, ficou com pavor de aprender. Sem pensar duas vezes, tirei minha camisa e me joguei atrás dela. Quase me afoguei e, assim que sai, nos deitamos no gramado lado a lado. Ela me olhou para agradecer, provavelmente, mas desviou o olhar para minha barriga. Ela sussurrou (ou tentou) meu nome. Olhei para baixo e percebi que estava sangrando muito

***

Coloco minha blusa e vou até a sala de jantar. Me assusto ao ver Leo lá. Ele se levanta e é impressionante o que se tornou.

-Hey, Skywalker. Quanto tempo.


.5Rt

O Assassinato de Beatrice ParkerOnde histórias criam vida. Descubra agora