– Oh, sinto muito! – Abaixei-me logo após perceber que havia me esbarrado com alguém e derrubado suas partituras no chão.
Eu estava tão atrasada para aula, que havia resolvido apenas correr pelo corredor da universidade. Bom, eu já deveria saber que isso nunca é uma boa ideia.
– Está tudo bem, não se preocupe. – Uma voz bastante conhecida por mim disse, surpreendeno-me. Eu o encarei, vendo seu lábios curvar-se para um sorriso simpático, logo após ele se lembrar de mim. – Oh, você não é a garota de ontem?
– Sim, sou eu. – Disse, voltando a encarar o chão novamente. – Sinto muito por isso.
– Já disse, não se preocupe. –Ele murmurou, enquanto nós ainda estávamos a recuperar todas as partituras, que espalharam-se pelo local. – De certa forma, foi culpa minha. Eu deveria ter os prendido com alguns grampos.
Jungkook terminou de pegar as últimas folhas caídas nos chãos, e levantou-se logo após eu.
Por que diabos estávamos começando a nos encontrar de forma totalmente inesperada ultimamente?
– Sério, me desculpa mesmo. – Disse, soando educada. Não era a primeira vez que nós nos esbarrávamos e ele realmente deveria estar achando que isso deveria ser proposital.
– Sem problemas. – Ele sorriu. – A propósito, não sabia que você cursava música também. Sei que cursa esta universidade, mas há tantas opções de carreiras aqui... nunca imaginei.
Ele encarou o violino cujo estava em uma de minhas mãos, e voltou a encarar-me alguns segundos depois. Parecia... feliz?
– Ah, sim. Eu curso. – Disse, entregando-o as folhas que estavam em minha mão, e desejando poder ir embora logo após isso.
Não puxe assunto. Não puxe assunto. Não puxe assunto.
Repeti essa frase em minha mente, no entanto, foi inútil.
– Você conseguiu voltar para o seu dormitório ontem ser pega? – Jungkook perguntou.
– O quê?
– Se você cursa música, é bem provável que durma em um desses dormitórios. Se não, por que diabos teria vindo comigo naquele momento? E por que estava tão desesperada por ter dado meia noite? – Ele ergueu uma sobrancelha.
– Talvez por meia noite ser um horário que pessoas normais devessem estar em casa?
Jungkook riu.
– Bem, então nós somos "anormais?"
– Talvez. – Não consegui evitar o sorriso que saiu de meus lábios. – Na verdade, foi um pouco complicado conseguir sair do dormitório masculino ontem á noite.
– Deixe-me adivinhar: Taeyang estava vigiando os corredores? – Acenei levemente com a cabeça. – Aquele cara é realmente um mestre no quesito flagar pessoas tentando entrar ou sair do dormitório após o toque de recolher.
Jungkook pareceu um pouco pensativo, mas logo sua atenção foi depositada a mim novamente.
Vá embora logo, disse a mim mesma, enquanto o encarava. Não se aproxime dele.
– E então, como você fez para passar? – Ele perguntou.
– Passei alguns minutos esperando ele ir para outros corredores, mas nada. – Disse, lembrando-me de ontem á noite. – Para ser sincera, eu já estava desistindo de tentar ir para o meu corredor quando um dos garotos tentou sair e foi pego por ele.
Lembrei-me do garoto alto cujo tentou passar disfarçadamente pela catraca de ferro que abria com nossas digitais ou cartões. Ele havia me visto, eu tinha certeza disso. Ele havia passado por mim e continuado a andar em direção a catraca então por que não me entregou?
Lembrei-me da forma como ele me encarou logo após ser pego por Taeyang, e a forma como ele sorriu. Quem era aquele maluco corajoso?
– Está dizendo que se não fosse por ele, você provavelmente iria passar á noite lá?
– É provável.
– Por Deus... sinto muito, então. – Ele pediu desculpas. De inicio, não entendi o motivo daquelas palavras, no entanto, quando ele voltou a falar... – Eu deveria ter te ajudado. Realmente, eu sinto muito.
– Não se preocupe. – Senti-me nervosa de repente. Por que ele estava pedindo desculpas por algo que sequer fez? – Você não teve nada haver com meu descuido, então está tudo bem. De verdade.
– Ainda assim, me sinto culpado. – Ele sorriu meio sem jeito.
O que diabos era esse sorriso meigo?
– Não se sinta. – Disse, observando as pessoas passarem por nós. No mesmo instante, lembrei-me sobre aula, e o quão atrasava eu estava. – Eu preciso ir. Não posso mais chegar atrasada.
– Se vale de consolo, a aula de violino foi adiada. Então tecnicamente você não está atrasada. – Ele informou.
– Por que? O professor Jiwon não costuma se atrasar ou adiar aulas.
– Pelo que escutei, houve um acidente de carro e ele ficou preso no trânsito.
– Entendo. Que horas você acha que ele chega?
– Daqui há meia hora, mais ou menos. O diretor vem nos avisar quando ele chegar.
– Outra coisa bastante surpreendente: o diretor nos avisando algo. – Disse, irônica. Nosso diretor raramente importava-se com aulas. Era exatamente por isso que ele possuía um vice-diretor. Para lidar com todos esses problemas. – A propósito, você também tem aula de violino?
– Vou começar hoje. Como soube?
– As partituras. – Eu apontei para elas. – Combinam perfeitamente com violino, então apenas chutei.
– Foi um bom chute.
– Eu sei. – Sorri.
Estranhei um pouco a forma como ele parecia incrivelmente alegre e interessado em nossa conversa, porém apenas ignorei.
– Já que temos alguns minutos livres, quer ir até a lanchonete comigo?
Não.
Diga que não quer.
Meu interior pedia-me desesperadamente para negar.
Por breves segundos, pensei realmente em apenas recusar. Entretanto, havia uma certa esperança em seus olhos. Esperança que de alguma forma, eu não conseguia me imaginar quebrando.
– Claro. Não consegui comer nada por pensar estar atrasada, então... meio que estou com um pouco de fome.
Jungkook riu.
– Acho que somos mais parecidos do que pensei. – Ele disse.