Enquanto encarava-o, por breves segundos, quis dizer que preferia continuar ali, terminando a batata tranquilamente e conversando. Mas infelizmente, era impossível fugir do inevitável.
Assim que adentramos a sala, olhares foram lançados em nossas direções, contudo eles não eram para mim.
Nunca era.
Na verdade, os universitários apenas encararam Jeon Jungkook, como se ele fosse uma daquelas peças raras de uma coleção. E talvez isso fosse por causa de sua fama.
Um garoto rico e talentoso, que sempre teve tudo o que quis e nunca precisou se esforçar demais para as coisas darem certo ao seu redor... o galanteador, sempre tão envolto de garotas bonitas e populares.
Bem, essa era sua vida.
Era quem ele era.
Comecei a caminhar de fininho para minha carteira ao lado direito da sala, quando ele segurou meu braço. O toque repentino me fez estremer, mas isso não era importante agora.
Porque eu sabia que pelo menos aqui, não podia ficar perto dele. Caso contrário, teria consequências e elas eram graves.
– Para onde está indo? – Perguntou, ignorando as pessoas a nossa volta.
Ainda estávamos na entrada, frente a porta transparente e fui capaz de ouvir leves murmúrios ao redor de nós.
E mesmo que ainda houvessem poucos alunos e o professor não estivessem em sala ainda, o mínimo de atenção possível em relação a mim e ele me causava pânico.
Porque me lembrava do passado.
Me lembrava do medo.
– Para o meu lugar, obviamente – Falei, simplesmente.
– Eu sei, mas por que saiu assim?
– E de que outro modo eu iria sair? Tudo o que fiz foi começar a andar.
– É. De um jeito estranho.
– Bem, eu sou estranha.
Me desvencilhando de seu braço, caminhei até minha carteira enquanto tentava ignorar ao máximo o fato que olhares estavam sendo lançados em minha direção. E eles vinham tanto da sala, quanto de Jungkook.
Joguei as partituras em cima da mesa, imaginando que o garoto fosse continuar falando com as pessoas ao redor, porém sua atitude me surpreendeu.
Curvando-se rapidamente, ele começou a caminhar em minha direção, sentando ao meu lado.
Encarando-o confusa, notei quando esbanjou um sorriso interessado e falou:
– Eu gosto de coisas estranhas.
Meu coração não deveria se afetar com simples palavras como essas, até porque ele as falava da boca para fora, mas foi impossível não sentir a tensão delas.
– Não, você não gosta – Disse, colocando os fones de ouvido. – Por que tá sentado aqui?
– Porque você é a única da sala que eu conheço.
– Bem, não acho que seja difícil pra você fazer amigos.
– Como assim?
– Olha ao redor, Jungkook. Todos estão afim de conhecer você.
Ele soltou um pequeno sorriso e olhou ao redor, fingindo que não havia ninguém na sala de aula. Então voltou a me encarar.
– Mesmo que isso seja verdade, a única pessoa que estou afim de conhecer está bem aqui – ele alargou o sorriso. – Na minha frente.
Fiquei sem reação por alguns segundos, enquanto ele parecia animado ao me analisar, até que o professor adentrou a sala, quebrando aquela tensão e sussurrei, antes de voltar minha atenção para frente e retirar os fones de ouvido:
– Você é maluco.
