Até mesmo o modo como ela comia sua comida calmamente me parecia familiar.
Segurando as batatas fritas desajeitadamente e colocando uma por uma na boca, mexendo no canudo de seu suco várias e várias vezes...
Eu não a conhecia?
Tinha essa sensação desde quando ela me encarou após nos esbarramos da primeira vez.
Mas poderia ser apenas coisa da minha cabeça.
Normalmente, eu conhecia tantas pessoas que facilmente esquecia seus rostos. Embora fosse diferente com música. Cada melodia, cada acorde, eu lembrava tudo.
E nesse momento, eu desejei que ela fosse como a música. Desejei lembrar dela, independe do momento em que nos encontramos antes.
Porque essa sensação... essa familiaridade... não era normal.
– Por que está me olhando assim? – Liv perguntou.
Seus lábios estavam tocando levemente o canudo do suco, como se ela estivesse brincando com eles e isso soava provocativo aos meus olhos. Macios, rosados e belos.
Mesmo sem querer, imaginei levemente como seria beijá-la. Isso me pegou de surpresa.
– Porque você come igual uma criança – Sorri.
– Corpinho de vinte e um, mentalidade de cinco – Ela falou.
– Então posso considerá-la uma prodígio?
– Como assim?
– Tão nova e tão talentosa no violino?
Observei-a ficar surpresa por alguns segundos e disse:
– Você é a melhor da turma, não é? O professor me disse isso quando optei por estudar violino também. Ele disse que era bom que mais uma pessoa extraordinariamente talentosa entrasse.
– Só porque existe alguém talentosa na sala não quer dizer que sou eu.
– É verdade, mas eu perguntei - Informei, sorrindo, o que deixou-a ainda mais surpresa. – Olívia, você realmente é uma garota surpreendente.
Observei um brilho nos olhos dela, como se quisessem expressar alguma coisa importante, mas ela não disse nada. Apenas voltou a comer mais batatas e olhar ao redor.
Um sorriso cresceu em meus lábios com aquilo.
Ela era, surpreendentemente, encantadora.
Como eu não havia notado isso antes?
Como eu não havia a notado antes?
Era estranho.
Estudávamos no mesmo campus, possuíamos aulas quase que similares, mas nunca, em todos esses dois anos de estudo, nos esbarramos. E por que?
Talvez não houvesse de fato um motivo, mas era intrigante o fato de eu não tê-la notado antes.
E talvez a culpa disso fosse minha por ser tão desligado ao meu redor.
– Por que você passou para o violino? – Olívia perguntou, voltando sua atenção para mim.
– Então quer voltar a falar comigo?
– Não quero, mas estou curiosa.
– Ah, me esqueci que crianças fazem perguntas sem parar.
– Ei! – Ela jogou uma batata em mim e soltei uma leve risada.
– Sempre quis aprender – Falei, simplesmente.
Mas essa não era a única verdade.
– Só isso? – Ela pareceu não acreditar.
– Já não é motivo o suficiente para eu poder cursar tal coisa?
– Sim, mas parece vazio.
– Meu interesse?
– Sua resposta.
Violino... Eu amava tocá-lo.
Mas tinha parado depois dos vários acontecimentos do passado. Depois do trauma. Então, por algum motivo, depois de ter escondido essa paixão durante anos na minha vida, resolvi apenas tomar coragem e voltar a fazer algo com o coração.
Música era minha paixão. E o violino? O início dela.
Mas principalmente... a pessoa cujo havia me feito ser um apaixonado.
– Vamos – Disse, levantando-me da cadeira.
– Para onde?
– Sala. O professor deve ter chegado.