Capítulo 1

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Mais uma história, agora uma um pouco diferente das que estou acostumada. Minha primeira original. 

Obs importante: A recuperação da protagonista não se baseia em nenhum evento comprovado, podendo assim haver erros e exageros, mas que em um mundo ficcional há margem para tal. 

Espero que gostem.


Eu ainda lembro a primeira vez que eu ouvi sua voz

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Eu ainda lembro a primeira vez que eu ouvi sua voz.

Eu podia não me lembrar de nada mais, do acidente que me fez ficar nessa cama por dois anos, do dia antes do acidente, quando eu tinha ganhado o prêmio da feira de ciências na minha escola, e do dia antes disso...

Mas eu lembrava da primeira coisa que o ouvi dizer para mim.

"Me Desculpe."

Não era romântico, não era engraçado e eu nem sequer podia dizer o porquê daquele pedido de desculpas. Mas eu lembrava disso e de tudo o mais que ele me disse nas outras vezes que ele me visitou.

—Mas mãe, eu estou te dizendo...— eu tentava desesperadamente fazer com que minha mãe acreditasse em mim.

A sua resposta padrão era: "Minha filha, isso foi um sonho. Ninguém além do seu pai e eu tinha permissão para entrar no quarto e claro, o médico."

Quando eu insistia que, com certeza, mais alguém tinha entrado lá, ela terminava a conversa para evitar perder a paciência comigo. Antes, se eu insistisse, ela gritaria dizendo para eu parar de inventar coisas. Agora ela preferia se afastar.

Depois do acidente, ela se culpou por meu estado, sendo ela que estava na direção do carro e não tinha saído do acidente com nenhum machucado grave, e acabou entrando em depressão e tendo que ter ajuda médica para conseguir passar por tudo aquilo.

 Meu pai foi o pilar da casa nesse tempo, tomando conta não apenas de nós duas, mas da casa e de tudo que era preciso cuidar. Foi ele quem viveu por nós duas nesse período.

 Minha mãe melhorou, mas ainda tinha alguns momentos em que ela vacilava.

Meu pai me contou tudo o que aconteceu enquanto eu fiquei aqui. Que ele tinha sido promovido, que a minha mãe se descobriu uma artista enquanto fazia a terapia e já tinha uma clientela assídua para seus quadros, que a minha banda favorita havia se separado e que o Trump havia sido eleito presidente dos Estados Unidos.Ele se certificou de que eu soubesse de tudo, não só as coisas boas, mas tudo que aconteceu no mundo e com as pessoas com quem eu me importava.

Foi mais ou menos depois de três meses que eu toquei no assunto do garoto misterioso pela primeira vez.

Eu estava fazendo a fisioterapia e meu pai havia colocado música para tocar no ambiente. A recuperação foi bem difícil no começo, eu não conseguindo nem falar, nem me mexer sozinha. As vezes eu acordava confusa, sem saber onde eu estava e sem poder me mexer. O silencio sufocante a noite quando eu não conseguia dormir. Aquilo me deixava em pânico.Foi muito difícil para todos nós.

Meu pai percebeu que o silêncio me deixava apreensiva agora, então ele comprou os cds mais recentes dos grupos e cantores que eu gostava e dos que estava na mídia e colocava para tocar enquanto me assistia a fazer a minha rotina. Isso virou meio que um ritual para nós dois.

Quando começou uma música mais lenta naquele dia, eu de alguma forma a reconheci e comecei a cantar junto, baixinho. Meu pai me ouviu e me perguntou como eu a conhecia, já que era uma música de um ano atrás e ele nunca tinha colocado essa para tocar.

"Os sonhos que deixei embaixo da cama, cobrindo o meu coração exausto.

Quando eu fecho meus olhos, tudo está bem. De uma forma que é diferente dos outros, eu estou dormindo sozinho."*

— Ele cantou essa música para mim. Ele dizia que lembrava a nós dois. — eu continuei, alheia a expressão confusa do meu pai.

Ele se levantou depois de algum tempo e saiu, não esperando o termino da minha seção. Quando eu voltei para o quarto, antes de entrar, eu pude ouvir o médico dizendo.

—Ela pode estar confusa. Entenda, ela sofreu uma lesão na cabeça grave. Essas lembranças podem ser memórias misturadas com estímulos sonoros vindo do ambiente. Faz apenas um mês que ela acordou, a sua recuperação tem sido excelente visto o tempo que ela passou em coma.

—Isso pode ser algum tipo de sequela doutor?

­—Nós só poderemos afirmar isso com acompanhamento. Os exames não mostram nenhuma anomalia. A fraqueza dos músculos nós podemos tratar agora, pois são sintomas que aparecem de imediato. Com o cérebro temos e iremos ter um maior cuidado.

—Mas...

—Não se preocupe Senhora Sung, nós iremos cuidar da sua filha. Ela está indo muito bem.

Antes que eles pudessem ver que eu estava ouvindo, eu me afastei da porta e fingi que voltava agora da seção.

Minha mãe me olhou temerosa assim que eu entrei, mas meu pai me recebeu com seu sorriso acolhedor e logo me ajudou a entrar. Todos permaneceram ali por mais algum tempo até que meu pai precisou ir para casa e o médico o acompanhou para fora.

Eu olhei para minha mãe e sorri para ela, chamando para que ela se aproximasse. Ela se abaixou na frente da cadeira de rodas e pegou minha mão.

—Eu estou bem, mãe. — a acalmei e recebi um sorriso em troca. Ela me abraçou e disse.

—Claro que está, você é a filha do seu pai afinal. — brincou e me ajudou a me levantar para que eu pudesse tomar banho. Depois que terminamos, ela saiu para pegar o meu almoço.

Foi só quando eu estava prestes a me deitar para dormir que eu toquei no assunto do menino desconhecido com ela.

—Mãe, você sabe quem era que vinha no meu quarto enquanto eu ainda estava em coma?

—Ninguém vinha ao seu quarto além do seu pai e eu. — me disse parecendo um tanto quanto apreensiva.

—Não, eu tenho certeza que vinha sim.

—Minha filha, você está confusa. O Médico disse que isso pode acontecer, você confundir algumas coisas. — ela tentou me explicar sem que o medo que ela sentia transparecesse.

—Mas mãe... — Minha voz saiu um pouco esganiçada. As vezes acontecia isso enquanto falava. O médico disse que iria melhorar com o tempo.

—Filha, ninguém vinha. — ela disse e quando me olhou, seus olhos tremiam imersos em lágrimas.

—Ok. — aquiesci, assustada com a força do medo que vi em seus olhos.

—Vá dormir. — ela ajeitou o cobertor em cima de mim e se deitou em sua própria cama naquele quarto estéril. —Boa noite querida. Durma bem.

Ela se virou de costas para mim, provavelmente tentando impedir que eu tentasse conversar com ela.

—Boa noite mãe. — disse em um suspiro e olhei para o teto. Era meu passatempo preferido a noite. Não fechei os olhos por muito tempo, até não aguentar mantê-los abertos mais. Minha mãe e o médico dizia que era insônia que me fazia ter pequenos intervalos de sono, mas a verdade era que eu tinha medo de dormir e não acordar mais.

Mais tinha algo bom no sono. Lá eu podia sonhar e, mesmo que eu não sabia como seu rosto parecia, ele sempre vinha me visitar.

Nos sonhos, ele era real.





* Trecho da Musica Breath, do Park Hyo Shin.

Enquanto eu dormia.Onde histórias criam vida. Descubra agora