Capítulo 3

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"Eu queria poder trocar de lugar com você... Dormir e deixar tudo para depois. Esquecer os problemas, esquecer as pessoas. Só dormir.

Será que você sonha? Se sim, você deve estar sonhando com algo bom. Você parece tão calma.

Eu imagino qual deve ser a sensação. "

—A Arya está aqui, ela veio te ver. —Minha mãe parece realmente feliz hoje.

Eu ofereço a ela um sorriso e ela sai, indo buscar a Arya, minha melhor amiga. Nós estudamos juntas pouco tempo, apenas três anos, mas quem olhava de fora pensava que nossa amizade era antiga. Nós não desgrudávamos uma, completávamos a frase da outra, gostávamos das mesmas músicas e tínhamos o mesmo gosto para garotos. Éramos praticamente a mesma pessoa em duas versões.

Mas isso foi antes.

Dois anos mudam muito uma pessoa. Eu não precisei de uma conversa longa com a Arya para provar isso. Assim que ela entrou em meu quarto, eu já vi que ela tinha mudado. Seu modo de se vestir não era como ela costumava ser. A menina que antes adorava vestidos mais que tudo e que não suportava nem ver uma roupa preta, agora vestia calças rasgadas, tênis surrado e uma blusa preta com os dizeres: Punk rock made me do it! Sua maquiagem, apesar de não ser tão pesada nesse momento, era quase toda escura, nada como o rosa com brilho que antes ela adorava usar.

Eu não reconhecia a garota que entrou no meu quarto.

—Hey...— digo sorridente apesar de tudo. Ela se aproxima de mim e me olha como se fosse a primeira vez que nos viamos e a primeira coisa que ela diz é:

—Você não mudou nada.

Estava lá, a primeira discordância de opinião. Eu, quando me olhei no espelho a primeira vez depois de acordar, não consegui enxergar a menina que costumava ver. Meus olhos não eram mais os mesmos, havia uma escuridão neles que eu não sabia de onde vinha. Meu rosto agora parecia mais velho e cansado. As olheiras embaixo de meus olhos fazendo com que eu me sentisse com cinquenta anos ao invés de dezenove.

—O tempo parou, que nem com a bela adormecida. —brinquei e ao invés de sorrir, ela fez uma careta e retrucou.

—Mas com ela foi só no castelo, não?

—Para mim também... —disse pesarosa. —Foi o meu tempo que parou, não o do mundo.

Ela me observou por um tempo longo e eu vi tantas perguntas em seus olhos. Eu queria que ela as fizesse, que ela se interessasse e que se aproximasse de mim como ela sempre fez.

Mas ela não fez isso. Ela estava determinada a manter uma distância segura entre nós duas.

—Você perdeu tanta coisa...— ela começou a caminhar pelo quarto, sem me olhar e quando parou no pequeno armário onde minha mãe havia colocado minhas coisas, ela pegou um cd e olhou enquanto perguntava. —Ainda ouvindo esse lixo?

—Não era lixo há dois anos. — disse na defensiva e ela me olhou rapidamente.

—Bem, agora é.

Ela colocou o cd de volta no lugar e começou a olhar os livros que também estavam lá. Tentando preencher aquele silêncio incomodo que havia ficado, eu pergunto.

—O que você tem feito? —Isso parece trazer a tona a Arya antiga. Seu rosto se iluminou enquanto ela se virava e me olhava, se encostando no armário e cruzando os braços.

Antes, ela teria se jogado na maca e começado a falar como louca enquanto eu escutava. Agora ela permaneceu lá, distante da pessoa que ela prometeu não se afastar.

Enquanto eu dormia.Onde histórias criam vida. Descubra agora