Capítulo 9

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No dia seguinte, depois de toda a minha rotina de exercícios, eu fui até o saguão e sentei em uma das cadeiras, dispostas perto da parede, que tinham uma boa linha de visão para a entrada do hospital.

Eu vi uma comoção logo assim que me sentei, vários médicos e enfermeiras passando empurrando uma maca, tentando reanimar o paciente que estava bastante ferido se a quantidade de sangue nas roupas dos médicos eram algum indicativo.

Pensei em sair dali, não queria ficar onde houvesse muito barulho, pois precisava pensar um pouco, mas logo o saguão ficou com o seu zumbido normal e eu decidi ficar lá. Eu precisava também checar a entrada das pessoas ali.

Depois de me acomodar, com as muletas descansando em pé escoradas na parede, peguei no bolso da minha roupa meu telefone e aquele pedaço de papel que eu levava a todo o lugar.

Mesmo tendo gravado o número não apenas na memória do meu telefone, mas como também na minha própria, aquele papel era agora um tipo de amuleto, tocá-lo fazia parecer que eu poderia fazer qualquer coisa, inclusive ligar para ele, que foi o que vim fazer.

Depois de ter um sonho estranho ontem a noite, um que me deixou muito apreensiva quando acordei, eu decidi que já era hora de deixar de ter medo do que poderia acontecer. Eu perdi tempo demais deitada naquela cama por dois anos, sem poder fazer nada do que eu sonhei antes do acidente. Eu perdi muitas oportunidades que eu não conseguia mais recuperar, mesmo não sendo minha culpa. Agora que eu podia fazer as coisas que eu queria, deixar de fazê-las por medo era uma tolice. Eu me convenci disso ontem a noite e aqui estava eu, pronta para discar o numero e acabar com isso de uma vez por todas.

Se ele tivesse me esquecido, paciência. A vida segue e eu seguirei com ela.

—Ah...é tão mais fácil falar do que fazer. —digo fechando os olhos e escorando a cabeça no encosto da cadeira, me sentindo frustrada e ao mesmo tempo excitada. Esse misto de emoções fazia com que meu estomago se agitasse de uma forma tão forte que eu estava com medo de colocar todo o meu café da manhã para fora.

—O que você está fazendo? — ouço a pergunta e abro meus olhos para ver a Maria de pé na minha frente, com as mãos no bolso e me olhando com curiosidade.

—Fotossíntese. —digo para ela e vejo suas sobrancelhas se erguerem.

— Você não teria que ser uma planta para isso? —ela me questiona, sentando do meu lado, esperando a minha resposta.

—Fiquei sabendo que meu apelido na escola que estudei era vegetal. — explico e ela faz uma careta. —estou só cumprindo meu papel.

—Acordou do lado errado da cama hoje, foi? — ela me pergunta, colocando sua mão na minha testa para ver a minha temperatura. Ela sabia que as vezes meu humor oscilava, e estava acostumada com isso agora. E sempre que isso acontecia, ela estava lá para ouvir minhas reclamações e meus choros.

—Tive um pesadelo, só isso. — digo para ela e a olho, sorrindo para que ela não se preocupasse tanto.

—Ainda não ligou para ele, não é? — me questionou e o sorriso em meus lábios se desfez.

A essa altura do campeonato, eu deveria saber que ela não se deixaria levar por minhas palavras leves e que saberia o ponto principal do meu problema. Ela era tão boa em ler as pessoas que as vezes assustava.

—Eu sou tão patética, não sou? —pergunto para ela, me endireitando na cadeira.

—Você está com medo, isso não te torna patética. —diz ela com suavidade— Isso faz de você humana, só isso. —ela me oferece um sorriso encorajador e eu acabo fazendo uma careta.

Enquanto eu dormia.Onde histórias criam vida. Descubra agora