BRASILAmanda estava debruçada sobre o beiral da varanda e encarava o celular com surpresa, passava uma das mãos pelo rosto deslizando até sua boca, sem perceber que parecia alegre e assustada ao mesmo tempo, seus dedos longos deslizavam por seu rosto enquanto digeria o que tinha cabado de ver. Luana estava voltando ao Brasil, pelo menos era o que mostrava sua foto em uma rede social, o passaporte em sua mão, o sorriso em seu rosto, ela voltaria. Havia se passado cinco anos desde que foi morar na casa de seus pais na Inglaterra, Luana partiu sem se despedir, Amanda estava sempre de olho nas redes sociais de Luana, gostava de se sentir perto mesmo estando há milhares de quilômetros de distância, parecia sempre saber um pouquinho de sua vida, mas apenas se falavam quando necessário, geralmente aniversários, ou datas comemorativas, Amanda sempre tentava uma aproximação, por mais que soubesse que Luana iria se distanciar.
O avião de Luana partiria da Inglaterra as onze da noite, contando com o horário de verão e as escalas, provavelmente chegaria ao Brasil no início da noite. Amanda girava o celular entre seu dedo indicador e polegar, andava de um lado para o outro tentando tomar uma decisão, abriu o aplicativo de mensagens e encarou o contato de Luana, escreveu "Oi", apagou, escreveu "Tudo bem?", apagou novamente, "Soube que vem para Vitória". Dessa vez ela encarou por algum tempo, e reuniu toda coragem para clicar em enviar. A resposta demorava a chegar, Amanda sempre muito ansiosa, mordiscava os cantos da unha tentando puxar uma cutícula que há uns dois dias incomodava-a, deixou o celular na mesa da varanda, olhava fixamente para o mesmo, mas achava que se não mais estivesse em suas mãos controlaria a ansiedade. O celular vibrou e antes que a mensagem aparecesse na tela, Amanda já estava novamente com ele em suas mãos, a reposta era um tanto seca, ela sabia que viria assim, mas tinha esperança de que não: "Estou sim, chego amanhã à tarde". Amanda contorcia os lábios para esquerda e para direita, pensando se seria ou não adequado o que estava digitando. "Posso te buscar no aeroporto? Deve ser estranho chegar aqui e pegar um taxi". Luana estava digitando, Amanda olhando fixamente para tela. "Não sei se isso seria bom", Amanda respondeu logo em seguida "Vou te buscar, e se quiser tomamos um café, o aeroporto é caminho para minha casa na volta do trabalho". Em seguida veio a resposta de Luana, "Acho melhor não, estou acostumada a pegar taxi, até mais", nada mais do que era esperado por Amanda.LONDRES
Luana não esperava por aquelas mensagens, estava na fila para embargue e se perguntava se deveria ter aceitado a ajuda de Amanda. Foi tão impulsivo da parte dela fazer aquilo, ela sabia que poderia esbarrar com Amanda por lá, Vitória é uma cidade pequena, mesmo sendo capital. Mas não imaginava que isso partiria de Amanda. O que Amanda tinha na cabeça para querer buscar ela no aeroporto, que tipo de conversa teriam? Luana não aguentava mais os mesmos pedidos de desculpas, as mesmas conversas de sempre, estava cansada, cinco anos se passaram e ela continuava cansada da história que viveu em Vitória. Na verdade, depois que voltou para Londres imaginava nunca mais ter de pisar em Vitória, sua família estava na Europa, a maioria de seus amigos, excetos alguns que tinha feito na universidade, mas que com o tempo ela havia perdido o contato. Tudo que era importante para Luana estava na Europa, sinceramente não sabia por que resolveu dar uma chance para o Brasil novamente.
O avião já estava prestes a decolar, o piloto passava as informações de segurança.
Durante o voo Luana pensava e repensava tudo o que havia vivido no Brasil, as decepções e mágoas que deixou para trás, a esperança que tinha de que a vida seria melhor na Europa, a sensação de uma nova vida começando, e agora tanto tempo depois, voltava para o mesmo lugar esperando que o destino fosse mais legal, porque ela já estava cansada de quebrar a cara.BRASIL
Amanda estava no seu segundo turno do dia, trabalhava como professora em um curso preparatório para concursos públicos durante a manhã, e na parte da tarde era a inspetora Lacerda, trabalhava para a Polícia Civil nas investigações de campo, adorava seus dois empregos, manteve-se sã por muito tempo focando em seus empregos, a vida era bem complicada desde que seus pais se mudaram para o interior do estado, ela os via em alguns feriados e nas férias, mas era difícil que as férias batessem, as folgas como professora nem sempre caiam no mesmo dia que as de inspetora, então Amanda havia se tornado uma pessoa solitária, era difícil manter as amizades com uma escala tão complicada, quantas vezes perdeu algum jantar de comemoração por conta de uma investigação que durou até mais tarde, relacionamentos então, eram impossíveis de se manter, mas tudo bem, Amanda havia se focado em ser uma ótima profissional.
A tarde ia se acabando enquanto Amanda dirigia seu carro, iria deixar seu parceiro na delegacia e depois seguiria para o aeroporto, o avião de Luana chegaria as 16h, Amanda estava preocupada, já eram 15h47. Na verdade ela deveria sair as 17h, mas como não havia muita movimentação pediu para ser liberada mais cedo.
__Algum compromisso?
__Como?
__Você não para de checar o relógio, e não é comum você pedir pra sair mais cedo.
__Tenho de buscar uma amiga no aeroporto, estou um pouco atrasada.
Joaquim era o parceiro perfeito, sempre calmo e tranquilo, passava o que Amanda precisava, ela estava sempre falando e Joaquim era bom ouvinte, o silêncio de hoje demonstrava que Amanda não estava em seu melhor momento, ele então resolveu seguir a viagem calado.
Amanda tentava dirigir o mais rápido que podia, faltavam cinco minutos para o pouso do avião de Luana, por sorte ainda não havia transito na reta do aeroporto, mesmo assim, Amanda achava que não conseguiria chegar a tempo. Ao finalmente conseguir entrar no aeroporto, o estacionamento estava lotado, e ela não conseguia nenhuma vaga, enquanto rodava de um lado para outro, um responsável pelo estacionamento começou a segui-la gesticulando, Amanda olhou para os dois lados, de um o segurança do estacionamento e do outro um taxi guardando as malas de uma mulher.
__Luana!
Amanda parou o carro atrás do taxi, abriu a porta, saiu enquanto Luana entrava na porta traseira, se apressou para chegar até a janela do carro enquanto o taxista guardava as malas dela. Bateu no vidro da janela traseira, Luana se assustou e demorou um pouco a reconhece-la. Amanda fazia um gesto para que Luana abaixasse o vidro.
__Por que não me esperou?
__ Eu disse que pegaria um taxi, na verdade eu disse que não era uma boa ideia, lembra?
Amanda sorria enquanto Luana falava.
__ Acho que essa parte da mensagem não chegou pra mim, vamos, desce, eu te ajudo com as malas. - Amanda abriu a porta do taxi para que Luana descesse.
__ Não.
Nesse momento o taxista estava gritando com Amanda, e o segurança do aeroporto multando seu carro, ela não tinha percebido que tinha fechado completamente o estacionamento quando parou daquele jeito.
__Não pode UBER dentro do aeroporto, não!! Sai fora sua maluca, a passageira é minha, sai, sai!
__Calma, não sou uber, ela é minha amiga!
__Não somos amigas, Amanda!
__Deixa que eu resolver isso aqui.
__Eu vou chamar a polícia! Você quer enganar quem? Eu sei que você é UBER!
O segurança do aeroporto se aproximou com o barulho feito pelo taxista escandaloso, Amanda inspirou fundo sabendo que tudo aquilo poderia ser mais fácil. O segurança estava pedindo para que ela se retirasse junto do seu carro, Luana tentava fechar a porta, o taxista não parava de chamá-la de uber, e ela só queria conversar com Luana depois de cinco anos sem vê-la.
__Ok, vamos lá, eu não sou uber, os senhores podem por favor parar de gritar?
Amanda virou-se para Luana, séria dessa vez, com a postura ereta, retirou do bolso sua carteira de identificação da polícia e começou a falar.
__Senhora Luana Assis, por favor me acompanhe até o carro, a polícia civil do Espirito Santo necessita que você preste esclarecimentos.
__O que? Você está me prendendo? Não acredito Amanda, de verdade eu não acredito!
__A senhora só precisa prestar depoimento, por favor me acompanhe.
Os dois ficaram assustados com a cena, mas se afastaram e deixaram que Luana fosse levada por Amanda, enquanto Luana entrava no carro batendo a porta, Amanda transferia suas malas de um porta-malas para o outro.
__ Não acredito que você tá abusando do seu poder de autoridade, isso ainda é crime no Brasil, não?
__ Eu, representando a polícia civil do estado, precisava falar com você, não houve crime. Era só um café, não precisava de tudo isso.
__Você continua com essa dificuldade de aceitar não com resposta, né? Olha, eu não acho que seja bom para gente se reencontrar, faz muito tempo e foi muito difícil para ambas, e é complicado. Você sabe que eu estou em um relacionamento, e que...
__ Calma, é só um café, ok? Só quero conversar, podemos ir?
Luana suspirava, irritada.
__OK.
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Passagem para o passado [REVISÃO]
RomanceAmanda e Luana se conheceram no passado, a história das duas teve um fim e Luana resolve embarcar para uma vida nova na Europa, mas o que pode acontecer cinco anos depois quando Luana resolve voltar?