Capítulo 5 - Que Nem Feijão Com Arroz

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"Quando a cólera ou o amor nos visita, a razão se despede." – Marquês de Maricá.

Dois anos se passaram.

Eduardo estivera tão focado nos estudos, que mal tinha tempo de ver Mônica, deixando-a chateada. Ele deixara crescer os cabelos, não demais. Aprendeu a beber, e começou a trabalhar. Pequenos empregos aqui ou ali. Lanchonete, fast-food, livraria, qualquer lugar que o aceitasse.

Mônica ainda explodia em gargalhadas ao lembrar-se de Eduardo de uniforme cinza, boné amarelo e vermelho, símbolo da rede de fast-food em que trabalhara.

Sentia falta de quando se encontravam quase todos os dias. Agora, tinha sorte se ele pudesse vê-la duas vezes na semana. Ele estava estudando muito para o vestibular. Passava o dia estudando, e não era raro que a mãe o encontrasse dormindo em cima dos livros.

Mônica se formava em algumas semanas, mas já estava trabalhando num hospital.

Por volta das três da tarde, ela, alguns enfermeiros e um médico especialista tiveram de correr para ajudar um homem que acabara de chegar numa ambulância, ele sentia dores e os paramédicos achavam que ele podia ter um enfarto a qualquer momento. Ela nunca esqueceria aquela cena. Eles estavam carregando a maca do homem quando Eduardo e uns amigos invadiram a recepção, alegres, comemorando, ensopados de tinta. Os colegas de Mônica, e os próprios funcionários do hospital tinham se acostumado com a presença de Eduardo, e até apreciavam-na. Por isso não se incomodaram quando ele chegou daquele jeito, gritando: "Eu passei! Eu passei!".

Mônica correu até ele parabenizou-o e o beijou, mas voltou correndo ao paciente.

Mais tarde, quando Mônica estava livre do serviço, eles saíram para comemorar. Compraram um monte de pizza e refrigerante e foram para casa dela, comer, beber e assistir televisão. Mais tarde, eles abriram algumas cervejas.

Menos de três semanas depois estavam comemorando novamente, mas, dessa vez, era a formatura de Mônica. Foram a um restaurante com toda a família, e, depois, foram juntos, apenas os dois, para a casa de Mônica, onde puderam comemorar sozinhos.

******

Os dois comemoraram juntos e também brigaram juntos, muitas vezes depois.

Uma de suas brigas, o motivo, o qual nenhum dos dois se lembra, aconteceu uns dois anos depois de Eduardo passar no vestibular e Mônica se formar.

Fora uma briga feia, um abajur foi quebrado, Mônica expulsou Eduardo da casa dela, xingando-o alto o suficiente para que os vizinhos ouvissem claramente.

As palavras de Mônica fariam sua avó lavar sua boca com sabão se ela ouvisse. Eduardo foi para casa irritado. Menos de uma hora depois de chutar Eduardo de lá, Mônica foi embora chorando.

Depois de duas horas em absoluto silêncio, nem ligações, nem mensagens, Eduardo decidiu procurá-la. Ficou chateado quando ela não respondeu as mensagens, ou atendeu suas ligações. Preocupado quando foi até sua casa e ela não atendeu a porta. Desesperado, quando sua vizinha lhe contou que ela não estava. Saíra chorando com uma mochila nas costas e andando de moto. Ele se sentiu horrível. Não, não podia acabar daquele jeito, não podia acabar. O que ele faria se ela o abandonasse? Ele a amava. Catou a bicicleta e saiu pedalando por aí, tentando encontrá-la. Tentou ligar mais algumas vezes, e nada. Ele podia sentir a embalagem no bolso de sua jaqueta, apertada contra seu peito, lembrando-o da promessa que fizera a si mesmo. Iria encontrá-la, pedir desculpas, e lhe entregar aquilo.

Mas não fazia ideia de onde procurar. Tentou o parque, onde ela sempre ia quando precisava se acalmar, procurou por todos os cantos, todas as trilhas, mas ela não estava lá. Tentou sua lanchonete preferida, sua cafeteria preferida. Ela não estava em nenhum lugar.

Foi por acaso que a encontrou. Começara a chover, ele estava abalado e exausto, decidiu ir para casa dela e esperar para ver se ela voltava. Ele andava no cantinho da rua. Havia uma moto alguns metros à frente. Ao fazer uma curva, a moto derrapou pelo asfalto, levando junto a pessoa em cima dela. Ele desceu da bicicleta e correu para ajudar.

-Calma! Vai ficar tudo... Mônica?! – ele exclamou ao virar a moça e ver seu rosto. Ela tinha um braço ralado, assim como a bochecha esquerda, e sua testa, por baixo do capacete, sangrava.

-Eduardo? – ela murmurou, erguendo os olhos, não se conteve e o abraçou com força. Ele a segurou e retribuiu o abraço.

-Me desculpa, me desculpa, me desculpa – ele sussurrou com o rosto contra o cabelo dela – Onde é que você tava? Eu fiquei tão preocupado, a sua vizinha disse que você tinha ido embora de mochila nas costas. – ele falou, tão rápido que ela sorriu, acalmando-o.

-Esfriando a cabeça, desculpa não ter respondido você. Você sabe que a Dona Márcia é uma fofoqueira. – ela disse, tirando as mechas de cabelo da frente do rosto dele, acalmando-o, vendo que seus olhos brilhavam de lágrimas – Me desculpe também.

Ele assentiu e sorriu, ambos se desculparam e ele levou Mônica ao hospital. Um tornozelo torcido, e alguns arranhões, nada grave. Ela ficou mais algumas horas em observação e depois pôde ir embora. Quando chegaram em casa, de táxi, Eduardo lembrou-se de sua promessa. Tirou a caixinha do bolso, embalada e entregou para ela.

-Um presente. – ele dissera. Mônica pegou-o e desembalou devagar. Quando ela encontrou o anel lá dentro, ele se aproximou, se ajoelhou e pediu: - Casa comigo?

E, claro que ela aceitou, afinal, ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz.

******

Eles demoraram mais dois anos para se casar. Não foi uma cerimônia enorme e luxuosa, mas foi mais do que suficiente para os dois. Eduardo se formou uns dez meses antes do casamento e arranjou outro emprego, dessa vez fixo e com salário maior. O dinheiro que eles economizaram na cerimonia, gastaram viajando, de praia para praia. Viajaram tanto que gostariam de ficar lá para sempre, em sua lua de mel eterna. Ambos voltaram tão bronzeados para casa, depois de dois meses, que pareciam duas torradas, segundo os pais e os amigos.

Eduardo & MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora