Cada um lambendo as feridas

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Tânia trêmula abriu seu carro e se sentou respirando fundo. Os olhos lacrimejando, o nó na garganta pedindo para sair:

-Você não vai chorar, sua palhaça!- Falou para seu reflexo do retrovisor. - O que você pensou que era tudo isso?!

Depois desses segundos se recriminando e tentando segurar as lágrimas, ela dar partida no carro, soltando o ar que estava preso.

(... )

- Nossa Tânia! Nunca imaginei que o Bauti pudesse pensar assim...- Revelou  Clara sentada ao lada de Tânia. - Vocês vão conversar com mais calma e resolver tudo isso...- Consolou a amiga.

Tânia apática olhou para Clara:

- Não quero ver aquele falso,hipócrita  nunca mais! Comprando livrinho de gravidez... "Isso não é bom pra gravidez ", "É melhor fazer tal coisa que é bom para o bebê" !- Tentou imitar a voz de Bauti enquanto reproduzia as falas de Bautista.- E eu como uma tonta acreditando que ele estava feliz com o bebê!- Disse tentando se manter firme e não permitir que as lágrimas rolem.

Clara acariciou os cabelos de Tânia, querendo confortar a amiga e volta a consolá-la:

-Vocês já brigaram tantas vezes por diferentes motivos e depois tudo ficou bem entre vocês... dessa vez você vai ver ,vocês vão conversar e resolver isso também!

- Não tem o que resolver! Eu escutei bem ele falando com o amiguinho dele que NUNCA quis esse bebê! - Explicou ela acariciando seu imenso ventre como uma clara demonstração de proteção. - Eu não quero impor o meu bebê a um homem que não quer ele! Eu vou amar o meu filho por ele e por mim...Ele não vai precisar mendigar o amor de ninguém! - Ela não conseguiu segurar suas lágrimas por mais tempo.

-Calma,Tânia. Claro que Bauti ama o filho de vocês!

Tânia se levantou, enxugando as lágrimas, não queria se permitir chorar:

- Já me iludi demais com ele! E não sou mulher de me iludir. Não preciso disso!

Tânia com essas palavras entrou no banheiro de seu estúdio, queria se isolar para se recompor. Desde que o escutara há quase uma hora, não aguentou pensar em voltar pra casa sozinha remoendo aquelas palavras e quando se deu conta havia voltado para o estúdio, sabia que Clarinha estaria ainda ali e precisava desafabar. Esperava não desmoronar, ela era Tânia Maldonado: brincalhona, explosiva ,escandalosa, até mesmo um pouco louca; jamais a vítima, a sofrida ou a chorona! Não se permitiria ser vista assim NUNCA! Sabia que havia pressionado a Bautista para que aceitasse ter um filho com ela, sempre soube que ele não queria ser pai ou qualquer tipo de relação permanente ( E o que era mais permanente do que ser pai?), como ela também não quisera, mas do momento que passou a sonhar em ser mãe, somente imaginava um filho com ele, era impossível não imaginar uma criança com aquele sorriso dele que derretia toda aquela sua camada de proteção...

Por alguns poucos minutos ela se manteve no banheiro, mas sempre de costas para o espelho, não queria ver sua decepção estampada em seu rosto. Assim que achou que já estava em condições de ir para casa, saiu fazendo um coque em seu longo cabelo.Clara que de mantinha ali esperando para ver como ela estaria após voltar, perguntou:

-E o que você vai fazer agora ?

-Vou pra casa, pedir uma pizza gigante...

- E um pote de sorvete como as americanas ?-Tentou brincar para distrair a Tânia.

-Não! Prefiro brigadeiro!

Assim Tânia abraçou a amiga e disse:

-Obrigada!

-Quer que acompanhe você ?

-Não, Clarinha! Você já me escutou demais, vai pra casa. Eu vou ficar bem!Eu sempre fico!

Ela seguiu para seu apartamento, tentando não pensar sobre tudo que sentia. Precisava se concentrar em seu bebê apenas !

(...)

Bauti entrou em seu apartamento, que já havia semanas que não ia. Somente não estava cheia de poeira, porque a senhora que limpava vinha uma vez por semana. Entrar em seu apartamento silencioso era a pior sensação que ele poderia sentir naquele momento. De uma hora pra outra toda a agitação de Tânia fazia com que ele se sentisse mais vivo do que nunca e agora, o silêncio era parte novamente de sua vida. Por muito tempo acreditara que o melhor que podia acontecer era depois de um dia de trabalho chegar em seu apartamento, tomar um bom banho, pegar uma cerveja extremamente gelada e ficar sentado na sacada de seu apartamento olhando para a praia no horizonte. E agora ?

Foi direto para o banheiro, precisava de um banho urgente. Queria esfriar a cabeça,  queria imaginar como fazer com que Tânia o escutasse, ela escutara a conversa pela metade! E por quase uma hora, ele tomou um banho refrescante. Foi a sua geladeira e pegou uma cerveja... E apenas de boxer sentou na sacada do prédio com seus pensamentos. Sabia que faria as pazes com Tânia, sempre fizera, mas não conseguia entender porque agora estava mais temeroso do que nas outras tantas vezes que haviam brigado. Talvez por causa do bebê... nas duas coisas estavam claras para ele : O bebê era SEU filho e Tânia era SUA mulher!  Ela podia espernear, gritar, xingar ou qualquer outra locura que estava acostumada a fazer ,mas ela voltaria para ele como sempre fizera! Por mais louca que fosse, ela sentia como ele,os dois nunca havia definido a relação, mas sabiam que se amavam !Ele a amava e sabia que ela o amava, podiam não dizer ,mas de que outra forma poderia explicar a relação escandalosa, quente e louca deles ? Talvez alguns homens gostassem de mulheres tranquilas, discretas, mansas, mas ele AMAVA Tânia, totalmente diferente desses adjetivos. Tânia o havia puxado para seu turbilhão de emoção e ele se viciou. O bebê deles fazia parte daquele turbilhão, de uma hora pra outra ela decidira que queria ser mãe e imaginar um bebê dela com outro homem fizera com que ele logo de imediato aceitara ser pai. Ao longo das primeiras semanas da gravidez, descobriu que se ele não tomasse o lado lógico e equilibrado, tremia somente em imaginar como seria aquela gravidez. Assim comprara livros que explicassem todo o desenvolvimento do bebê, participava de todas as consultas, das compras para o enxoval,  sabia que Tânia sonhava apenas, ele precisava ter os pés no chão. Agora isso! Amanhã, iriam conversar e acertar os ponteiros. Provavelmente, mais calma e sentindo a sua falta( como ele sentia sua falta), ela conseguiria escutar a ele e os dois fariam as pazes!

Tânia (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora