Hiroshi POV
Estava tirando um cochilo quando acordei com o barulho do telefone.
- Alô - falei tentando disfarçar a voz de sono-
- Senhor, temos informações sobre a família Ikeda. - o rapaz disse ao telefone -
- Venha até minha casa - disse me levantando da cama - Estarei esperando vocês.
Coloquei o telefone no gancho e fui até o banheiro. Lavei meu rosto e mudei de roupa. Tinha que estar apresentável para meus homens.
Não demorou muito até eles chegarem. Eram dois rapazes que pareciam ter quinze anos. Pedi para que sentassem no sofá da sala e me contasse tudo.
- Um informante nosso foi noticiado de que o líder da família Ikeda morreu - O menino com uma franjinha falou -
- Um homem jovem assumiu seu lugar. - disse o outro com cabelo espetado.-
- Estou orgulhoso de vocês, rapazes - disse com um sorriso e vi que eles ficaram menos tensos -
- Obrigado senhor - eles falaram quase ao mesmo tempo -
- Vocês sabem o nome dele? - perguntei me ajeitando no sofá -
Então eles ficaram tensos novamente. Eles olhavam um para o outro para ver quem iria falar. O de franjinha começou a tremer.
- Se não souberem, não tem problema - disse para ver se tranquilizava - Tentem descobrir pelo menos.
- Nós sabemos o nome, senhor - o de cabelo espetado tomou coragem. -
- Então diga - falei olhando nos olhos dele -
- Takashi Ikeda
Naquele momento eu achei que ele estava brincando. Eu tinha matado Takashi há dez anos atrás. Isso era impossível.
- Esse homem está morto - disse com raiva na voz -
- De acordo com o que nosso informante disse, ele tinha forjado a morte e agora que o pai está morto ele vai assumir como se fosse um líder anônimo. - o de franja disse -
- Impossível - disse me levantando do sofá - Obrigado garotos. Podem se retirar.
Os meninos foram embora. Eu fiquei andando pela casa, pensando e lembrando. Como Ikeda estava vivo? O navio afundou e meus homens ainda atiraram nele. Isso era impossível!!
No auge de minha raiva eu soquei a parede. Eu queria que aquela parede fosse ele. Eu iria matar ele. Novamente.
Takashi POV
Depois que acabei de fazer os meus discursos, voltei aos meus afazeres. Marquei um encontro com um policial que passava informações para a família. Iria pedir para me dar informações sobre qualquer movimento do grupo de Shimizu. Eu tinha uma certeza muito grande do vazamento de informações, ninguém guarda segredo por muito tempo e sei que esses homens não guardariam. Tenho que estar preparado se Shimizu souber que estou vivo e tentar alguma coisa.
Coloquei meu chapéu e meu sobretudo e peguei uma arma. Por mais que ele fosse nosso aliado, era sempre bom estar prevenido caso algo acontecesse. Nunca se sabe se ele é um espião do lado rival ao seu.
Peguei o carro e estacionei a algumas quadras dali. Fui andando até o local marcado do encontro. Minha arma estava no bolso de dentro do sobretudo, então eu poderia me defender facilmente se fosse uma armadilha. O homem ainda não havia chegado. Eu tinha chegado cedo, para falar a verdade.
Depois de uns cinco minutos o rapaz chegou. Era magro, branco e um pouco mais baixo que eu. Pelo que eu percebi ele não usava barba.
Eu juro que eu esperava por tudo nesse dia. Tudo menos o que aconteceu.
Quando ele se aproximou, eu olhei melhor o rosto dele. Aqueles olhos, aquela boca e eu não conseguia processar.
Aquele homem era Matt.
O homem que eu mais amei em minha existência, aquele a quem eu entreguei meu corpo e alma de todo coração. Ele queria ser arquiteto, porque ele estava na polícia? Eu queria beija-lo, sentar e conversar com ele. Saber o que aconteceu na vida dele esses últimos anos.
No momento em que ele se aproximou de mim e viu meu rosto, vi que ele ficou em choque. Ele parou de andar e ficou paralisado. Ele olhava nos meus olhos e eu sentia que seus sentimentos não tinham mudado.
- Não é possível - ele disse ainda em choque -
- Eu também achava que isso nunca aconteceria - disse tentando segurar o choro -
- Takashi Ikeda? - ele estava incrédulo-
- Sim. Matthew Butler? - perguntei já sabendo a resposta -
- Sim. Sou eu - ele deu um passo para trás -
- Matt, eu sei que eu não fui honesto com você - disse andando na direção dele - Me desculpe.
- Não há nada para se desculpar. Aliás, há sim. Por todas as mortes que sua família causou.
- Eu não podia mudar meu destino, Matt.
- Você está morto!! - ele gritou - É impossível você estar aqui. Eu estou vendo coisas.
Matt POV
Eu estava louco. Tinha que ser internado no manicômio mais perto dali. Takashi Ikeda estava morto e mesmo que estivesse vivo eu não poderia me envolver com ele.
Eu estava chorando em desespero. Achava que aquilo era um sonho ruim que eu não conseguia acordar. Tudo era tão detalhado. A cicatriz nos lábios dele, a voz dele quando me chamou pelo apelido e até o cordão de cavalo marinho.
Ele estava andando na minha direção e eu olhei para aquele cordão. Eu peguei em meus dedos.
- Você tem isso? - perguntei em meio a minhas lágrimas -
- Eu nunca tirei - ele disse permanecendo calmo -
Eu larguei o cordão e me afastei dele. Peguei a arma da minha cintura e apontei para ele.
- Você tinha que estar morto!! - eu gritava - Se você não morreu eu vou te matar agora!
- Matthew - ele colocou as mãos para o alto - Eu quero conversar com você !
- Não há o que conversar! - disse sentindo as lágrimas escorrerem.-
Então ele abaixou as mãos e veio andando na minha direção. Eu paralisei. Eu tinha que ter atirado, mas eu não fiz isso. Ele chegou perto e tirou a arma da minha mão.
-Se você não me amasse, teria atirado - ele disse colocando a arma na minha cintura - Mas não atirou.
Eu não conseguia falar nada.
- Você me ama, Matt - ele colocou a mão no meu queixo e a outra na minha cintura -
- Mais do que você pensa - disse sem parar de chorar -
Então ele me beijou. Aquele gosto que eu não sentia há dez anos. Aquele toque que me deixava arrepiado. Eu me entreguei a ele e esqueci do meu dever. Dentro de mim eu implorava para que fosse um sonho e eu não tivesse que encarar as consequências daquilo.
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O Gato Da Yakuza
RomanceSob as luzes de Tóquio e além de becos escuros, respira uma organização de mafiosos que encontra prazer na dor de suas tatuagens e nos gritos de agonia de suas vítimas. Takashi Ikeda, destinado a suceder seu irmão na liderança após a morte dele, se...