♡ Capítulo 04: A sensação de conhecer alguém especial ♡

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Capítulo 04: A sensação de conhecer alguém especial  

 "Quando tá escuro e ninguém te ouve. Quando chega a noite e você pode chorar. Há uma luz no túnel dos desesperados. Há um cais de porto pra quem precisa chegar. Eu tô na lanterna dos afogados. Eu tô te esperando, vê se não vai demorar"Lanterna dos afogados. Os Paralamas do sucesso 




Rodrigo ⚜



Rodrigo sempre esteve a ponto de ter um colapso, sempre teve muitas responsabilidades. Era filho único e como tal, herdeiro do seu pai e responsável por uma grande parte dos negócios da família. Sua vida se resumia a trabalho, viagens de negócios, e mais trabalho. Suas últimas e únicas férias foram em um verão, quando terminou a faculdade. Foi à Disney e nem foi como ele esperava. Contos de fadas não eram a praia dele. Se sentiu como o capitão América, após acordar anos depois de um sono profundo. Não acreditava em finais felizes e não tinha tempo para historinhas. Sempre teve os pés no chão e seu pai, Roberto, contribuía para mantê-los lá. Sua mãe, Stella era, na maioria das vezes, muito só. Mesmo nas viagens de negócios com o marido ou com a presença constante da amada avó de Rodrigo, Ivy. Mesmo assim, ela sempre se sentia muito só. Por sua carência desmedida, ela cobrava a presença Rodrigo. Uma esposa e filhos, do qual ele fugia mais que o diabo da cruz.— Mulheres são bichos complicados demais para um jovem recém-formado no exército, e que só pensa em se divertir —dizia Rodrigo. 

Mas não foi sempre assim, ele se apaixonou aos dezesseis anos por Elice, a filha dos empregados da fazenda.— Ela era linda, e eu, um bocó, cai em seus adjetivos —dizia para si mesmo. 

Foi uma experiência única, maravilhosa, porém destrutiva. Elice, aos quinze anos, não valia um tostão furado. Se apaixonar por ela foi uma loucura e ele não queria passar novamente por tudo que havia passado. Com mais ninguém! Se entregar ao acaso de relacionamentos momentâneos foi a solução para não enlouquecer. Mulheres fáceis, sem cobranças afetivas e sem muito diálogo, foram a melhor solução para um cara como ele, que tolerava tampouco "mi, mi, mi".Se tornara uma ave de rapina procurando presas em praça pública onde, naquele horário, muitas mulheres iam fazer seu horário de café. Seus olhos corriam para todos os lados em sua busca. Quando a encontrava, lançava seu bico doce. Dificilmente elas lhe negavam aconchego por uma noite, todas caiam na lábia dele, sem exceção. Depois, mais nada. Saia fora e não as procurava mais. Se as reencontrasse algumas vezes, fingia nem as conhecer. Por causa de uma paixão desequilibrada, esse foi o homem que Rodrigo se tornou. 

Em sua sala, sentia-se entediado. As cobranças de sua mãe por uma nora já o estavam aborrecendo. — Já está em tempo de você se casar, meu filho — ela dizia na primeira oportunidade. Ele ignorava para não a chatear, mas via em seu rosto o peso da solidão e a ânsia de ter netos, por enquanto eles não viriam. Talvez nunca viessem!— Sou jovem demais para me enforcar. Não nasci para ser homem de família! Mas minha mãe não sabe disso — era o que ele vivia repetindo para si mesmo. 

Era um final de tarde como outro qualquer, o sol tinha aquele amarelo brilhante com o tom alaranjado nas nuvens, perfeito para a caçada de Rodrigo. Ele tinha acabado de sair de uma reunião chata e exaustiva com Ivy e alguns empresários, na qual foi apresentado um projeto que alguns alunos de uma escola de formação profissionalizante tinham desenvolvido. Ele achou o projeto realmente muito bom, tinha uma estrutura bem elaborada e ele havia prometido a avó que ia estudá-lo com mais calma e atenção, mas não agora.Prometeu dar à avó uma resposta, só não precisava ser naquele momento. Ele tinha um contrato para resolver em algumas horas e isso era bem mais importante, ela teria que esperar. 

Envolver jovens no mercado de trabalho era uma burocracia danada, mais dor de cabeça do que aproveitamento. Fechou a porta da sala dele, após avaliar quem estava dando sopa na praça e saiu para desanuviar a mente que estava perturbada. Fumava um cigarro enquanto seus olhos corriam a toda e qualquer direção, era tão automático e descontrolado. Suas narinas sugavam o perfume, que lembrava o cheiro de folhagem verde na relva, como aquele cheiro típico da fazenda, com o adocicado do mel. Era o cheiro do campo, uma fragrância adorável e única. — De onde vem? — se perguntou, já sentindo crescer aquela sensação de dor nas bolas que antecedia a libido. 

Uma brisa soprou em seu rosto, trazendo um frescor. Ele identificou alguém logo a sua frente, o vento brincava com seus cabelos negros. — Me provocando — bufou possessivo.Ele observava cada detalhe, cada movimento. Seu coração bombeava muito rápido, sentiu-se trêmulo e de repente, sem fôlego. Já havia fumado três, quatro, cinco cigarros um atrás do outro e seus nervos estavam à flor da pele. Era hipnótico, seus olhos não desviavam, por mais que ele tentasse. 

Ele vasculhava sua mente, tentava rapidamente encontrar em algum lugar do seu ser alguma explicação para tal hipnotismo. — De onde a conheço? De onde ela é? E quem é ela?Eram as perguntas que teriam respostas apenas se ele as fizesse a ela pessoalmente. Suas lembranças não lhe traziam nenhuma recordação de reconhecimento, apenas aquela fragrância insistente invadindo suas entranhas. 

À sua volta, alguns outros homens a observavam, causando desconforto a ele. Cada gesto era um insulto, cada expressão exibida no rosto pálido e cansado era um insulto, até o riso solto.— Fodeu! — Gemeu. 

Todo o seu cérebro entrou em conflito com suas teorias de contos de fadas e "mi, mi, mi" de mulherzinhas. Ela não lhe parecia uma mulher, quantos anos ela teria? Involuntariamente ele caminhou até ela, não ouvindo a razão. Ainda hipnotizado, ele podia adivinhar o som da sua voz, que ele acreditava ser doce e meiga, assim como o seu jeito menina de ser. Em um diálogo curto, ela respondeu educadamente e assim como ele imaginava, o seu timbre era algo que ele decidiu que queria ouvir mais e mais, para gravar em sua mente, apenas para se lembrar quando ela partisse. 

Ele emudeceu diante da informação, ela partia em direção a catedral e ele não tinha coragem de mover os pés para acompanhá-la.— Uma menina, droga! Que droga ser atraído por uma menina. — dizia a si mesmo, sentindo-se um filho de uma puta. 

Acendeu mais um cigarro e pensou em voltar para sua sala.— Como voltar?! Se a minha mente fez com que eu a olhasse pela última vez?Ela o atraía, o insultava e o provocava. 

O vento leve trazia o odor dela, seus cabelos pretos e com ondas sincronizadas, quase na altura da cintura, movimentavam-se, brincando com os sentidos dele. O sorriso era a chama acesa de uma vela, prestes a ser apagada pela brisa. Acendia e morria nos lábios cheios, os olhos eram fixos e iluminados. Ela usava uma blusa fina, marcando os seios fartos que estavam escondidos, como dois montes atrás do tecido mole. O vento brincava com eles, atiçando a imaginação de Rodrigo. A cintura fina era um conjunto perfeito com o quadril e as coxas cobertas pela saia bem cinturada, em um tecido mais firme. Aparentemente eram grossas, de acordo com as pernas bem torneadas, que eram possíveis de serem vistas bem abaixo dos joelhos. 

O vento brincava com ela também e passeava livre entre suas pernas.A ereção dele se movimentou dentro das calças, em uma dor quase insuportável. Um rosnado escapou do seu peito sem permissão. Seus pensamentos eram sujos e insanos. Ele precisava ficar longe daquela moça, para protegê-la dele mesmo.— Ela procura emprego, Rodrigo — falava consigo mesmo. "Como eu poderia ajuda- lá? Tenho uma solução, o projeto da vovó Ivy!" Pensou o rapaz.  

Ele tentou uma nova aproximação, mas não se expressou muito bem. E mesmo sendo a garota muito educada, ela não deixou de parecer grossa. Ele imaginou que ela já tinha levado muitas cantadas baratas por onde esteve, por isso foi dura e fez uma carranca para se defender dele. Ele se envergonhou de sua ação e pediu mil perdões. Mas ela não ouvia mais... 

O mesmo sino que a fez parar e permanecer mais um tempinho ao lado dele, o fez parar também e observá-la mais de perto.

Recomeçar... (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora