Sabe aquela pessoa que se contenta com o pouco que tem, e acha que desse pouco um dia vai conseguir mover montanhas? Então, essa era eu alguns tempos atrás. O tipo de pessoa que realmente era um zero à esquerda na vida. Eu olho para minha história, e vejo o quão rude eu fui. Foi preciso me decepcionar, me magoar, me ferir para finalmente amadurecer. Foi preciso tanta coisa ruim acontecer na minha vida para não confiar tão rapidamente nas pessoas. É horrível ser decepcionada por alguém em quem você tanto confiou, tanto amou e, tanto colocou esperança. É como ter o chão tomado dos seu pés e não ter nenhum lugar para se apoiar. Tudo que guardei em mim foram decepções, corações partidos e muita dor. Mas ainda acredito que erros possam ser corrigidos e perdoados, tenho fé em mudanças e corações bons e finais felizes. Todos erramos, e infelizmente tive que aguentar os erros de muitas pessoas. E isso só foi a vida me mostrando o quão forte eu sou, e que nada está acabado.
Há dois anos atrás, eu namorava o Renato. — dono do meu acúmulo de decepções — O garoto que eu pensava que seria aquele Cara com C maiúsculo, o namorado perfeito, sabe. Que entenderia cada detalhe meu, que curtisse meu gênero musical exótico, — ou que pelo menos fingisse que estava gostando — que fizesse questão de perder seu digníssimo tempo para ouvir minhas asneiras, que me escrevesse aqueles textões de aniversário, o cara que gosta do jeito que eu ando, do jeito que eu falo e do jeito que eu faço as coisas. Ou seja, o cara na medida certa.
Conheci o Renato através de amigos, numa festa de aniversário do irmão da minha melhor amiga, a Fanny, conhecida por dar as melhores festas — e que de vez em nunca é raro acabar sem policia. — Logo quando avistei aquele deus grego, com seu gingado vagabundo, sua calça rasgada no joelho, o boné virado para trás, entrando na festa ladeado por mais dois amigos — que também eram super gatos. — A primeira coisa que veio em minha cabeça foi: Ele é o meu Cara! — E não é que foi? — Ele fazia total o meu tipo. Pelo menos era o que eu achava. Sempre gostei de caras com roupas meio largadas, sabe?
Nem foi preciso bolar um plano pra traçar o moreno. Renato ficou me paquerando a festa inteira. E eu inocente sem saber o embuste que ele era, acabei dando brecha ao seu sorriso torto que eu A-do-ra-va! No final da festa ele veio como quem não quer nada, me ofereceu um gole da sua cerveja, não aceitei. — Alerta, me fazendo de difícil — Como o caçador nato de meninas abobalhadas e indefesas que o Renato era, ele não parou por aí não, foi logo atingindo o ponto certo do alvo. Me esperou ficar desprevenida, para aparecer do nada e perguntar se eu estava afim de comer no Hallfire — um restaurante que é um sonho para muitas meninas da minha cidade, principalmente para aquelas que não tem uma renda financeira muito boa, como eu. — Como já havia dito, as festas da Fanny quase nunca acabam sem uma policia no meio. Entraram cinco polícias abarrotando tudo. Até aí, só me lembro de ouvir o garoto sarado que estava dando encima de mim, gritando:
— Ei garota! Você não me disse se aceita. Ei, você também não me deu seu número...
A essa altura eu já estava à uns cinco metros de distância do Renato, lutando pra chegar em casa com todos os membros do corpo inteiros.
Numa quarta-feira um hora antes de eu ir para escola, o improvável acontece. Adivinha quem me ligou? O cara gato da festa, que não sabia meu nome, e que a propósito não tinha meu número. Quando eu disse que ele era um caçador nato de meninas abobalhadas e indefesas, não foi atoa não.
— Oi menina, que saiu correndo sete léguas da polícia! — disse ele ao telefone, com aquela voz grossa, levemente rouca em um tom bem-humorado.
Não precisou de muito esforço para reconhecer de quem era a voz que estremeceu minha medula espinhal.
— Olha, vai logo falando quem te deu meu número. — ordenei.
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Netuno É O Mais Distante
Genç Kurgu[CAPA TEMPORÁRIA] Melanie crê que o único desafio que terá de enfrentar é o último ano do ensino médio e as lembranças de sua antiga desilusão amorosa, que insiste em se fazer presente no seu cotidiano. Contando com a má sorte, esses não serão os ún...