A busca

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O toque inesperado, mas sutil, em meus ombros aliados de um breve sussurrar em meu ouvido esquerdo me fez reconectar ao tempo e espaço.

Pisco não mais do que duas vezes antes de levantar o olhar para a gentil garçonete, ainda em um estado absorto, em um silêncio total enquanto permaneço na tentativa de ler seus lábios, franzindo o cenho, na esperança que ela repetisse o que dizia e assim o fez:

― O pedido não está do seu agrado, senhor? 

De repente, e de uma única vez todo o som ambiente e movimentos locais até então ignorados pelo meu transe, vieram à tona, e com isso, uma energia me invadiu e se consolidou ao ouvir o sino da porta ao abrir.

Ignoro por completo a garçonete e observo a entrada dela: Lynda!
Ela estava muito diferente de quando eu a havia conhecido, mas, mesmo assim, conseguiu ficar mais irresistível ainda. 

Seus cabelos extremamente lisos num tom de azul índigo lhe dava um contraste em seu novo visual totalmente alternativo. O pequeno piercing em seu lábio inferior lhe trouxe um charme de rebeldia que me fez ficar mais apaixonado ainda, embora não seja meu visual preferido.

Seus olhos no tom raro de violeta encontraram os meus. Não fiz o menor esforço em desviar e ela percebe o meu interesse.

Antes mesmo que eu me virasse para segui-la com o olhar, senti sua presença atrás de mim, e me viro satisfeito por ela estar ali, bem como ansiava. 

Lynda então leva a mão esquerda aos seus cabelos, colocando-os atrás de sua orelha, que, aliás, é um dos meus movimentos preferidos, e me pergunta: 

― Licença, eu te conheço de algum lugar? Você me parece tão familiar... Considerando a forma com que você me olhou tive esta impressão...e... 

― Mais do que você imagina; devo admitir. – A interrompo na tentativa de que com o som da minha voz novas lembranças viessem à tona.

Fico em pé em uma distância mínima entre nós, e o autocontrole foi absurdo para não roubar um beijo.

― Da forma como diz, fico intrigada, porque se o conheço tanto me lembraria de fato e ao mesmo tempo é tão familiar. É muito doido isso... A não ser que seja de um passado distante, o que não acho que seja o caso. 

Ela esboça um sorriso tímido e segura a respiração. Sem jeito, porque meus olhos não desviavam de jeito nenhum dos dela e isso a intimidou. 

― É porque eu não faço parte do seu passado. Eu sou o seu futuro! Literalmente!

― Ui ui ui, uma cantada com ar de romantismo, seria esta a classificação correta?

— Diz você! – As palavras saem quase em um sussurro. — Como você espera que eu me lembre de você se você é o "meu futuro"? – Ela dava um breve riso avaliando o contexto. 

― Dando-me a oportunidade de te mostrar. Simples assim. – Ela então fecha os olhos e ao reabri-los, pergunta:

― Insisto por uma resposta: Você está me cantando? – E me observa mais atentamente ainda.

― Não e sim! Reconquistando-te eu diria. Há tanta coisa que você precisa resgatar.

― Eu não me lembro do senhor ter me conquistado. Afinal, nem seu nome eu sei direito! – Ela caçoava de modo adorável.

Antes que dissesse meu nome, ela morde os lábios na ansiedade declarada, e isso me animou, e muito. 

― Ok! "Senhor" foi demais, admita! – Suavizo meu rosto que passa a externar agora a felicidade de enfim encontrá-la e ela nem tem noção completa do que isto significa. 

Q1Onde histórias criam vida. Descubra agora