Sentidos

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— Dave!

Então ele me encara puxando todo o ar que foi possível em seu diafragma e despejaria de uma só vez tudo o queria dizer.

— Esperando mais alguém? Por isso me ignorou até agora? Atrapalho?
Reviro os olhos para ele em sinal de indignação. Mas, na real, nem sei por que me surpreendi com o comentário, mas fui logo o alertando:

— Se veio continuar a discussão sem sentido, saiba que não estou no clima.

— Qual é, Lynn? Quer me matar de preocupação? Por que não me atende ou responde as minhas mensagens? – Ele passa por mim como um foguete, e quando o vejo, já está no meio da sala, andando de um lado para o outro, gesticulando muito enquanto fala.

Não queria me estressar. Então fico muda e evito qualquer movimento corporal brusco que possa ser mais revelador que as palavras e só olho para ele dando a atenção exigida. Dave então percebe que desta vez estou diferente. Presa em meus pensamentos. 

O sonho que acabei de ter era tão real que foi inevitável em questão de segundos comparar ambos os comportamentos, mesmo sabendo desta dualidade. Matt queria conversar. Dave, discutir. Então, Matt era de longe a pessoa com quem queria estar agora e me senti péssima em trair David em pensamento. Ele estava ali na minha frente e eu estava arrebatada por outro e balanço a cabeça em negação na esperança que com este movimento os pensamentos simplesmente desapareceriam e que eu pudesse não ter uma crise de consciência anunciada. 

Não entro na sua onda e como consequência, sua adrenalina vai baixando. Em outras ocasiões estaríamos gritando um com o outro, até dizermos tudo o que incomoda e assim que extravasado, nos acertamos, numa "pegação" compensatória.

Absorta ainda em meus pensamentos volto da órbita com o toque dos dedos sutis de Dave em meu queixo posicionando meu rosto para encontrar o seu olhar já diante de mim e repouso minhas mãos em seu peito. 

Dave envolve seus braços em minha cintura, e sua respiração já não é a mesma.

— Você é só minha, Lynn. Não quero você... – Coloco minha mão sobre sua boca, bloqueando suas palavras.

— Nem continua, Dave. Para por aí se sua intenção for mesmo consertar as coisas. – Ele sabe muito bem o que penso sobre relacionamentos possessivos.

— Certo, esquece. – O mesmo se desculpa de forma automática, e sei que a sua vontade seria de prosseguir com a sua intenção de posse e controle.

— Certo, já esqueci. – Dou um selinho, pegando-o de surpresa e me afasto dele dando a chance de processar a mensagem:

— Tínhamos muitos planos para hoje, e perdemos parte da nossa tarde juntos por inseguranças sem sentido da sua parte.

— Você tem toda a razão.

Aproveitei o momento de bom senso de Dave para deixar claro que não permitiria que ele me tratasse como propriedade dele novamente em qualquer circunstância, e foi receptivo. Só espero que suas atitudes correspondam a esse suposto entendimento.

— A tarde está ótima, vamos dar uma volta? – Pergunto, inocentemente.

— Agora? – Ele me pergunta de volta, com uma tonalidade vocal de dúvida não demonstrando interesse. — Lynn, preciso voltar e deixar o carro do meu pai. Demorei pra chegar porque o meu simplesmente não pegou. Agora percebo que foi melhor assim. Deu tempo de esfriar os ânimos, não acha? – Ele complementa.

— Eu concordo. – Digo, assentindo com a cabeça. — Faz assim, eu te pego na sua casa às 9:00 PM e vamos juntos para o pub encontrar a galera. A gente vai se divertir, e estamos precisando disso, não? – Dou um meio sorriso.

— Também acho. Pensando bem, vá direto você. Te encontro lá.

— Ué, mas por quê?

— No caminho para cá, Nathan me ligou e precisa falar comigo com urgência. Não posso deixar ele na mão. Sabe como é, né?

— Claro que não! – as palavras saem em um tom sarcástico. — Mas me prometa que não vai se envolver muito com os problemas dele, que já é intriga na certa.

— Nem continua, Lynn. Agora é a minha vez.

— Dave... – O encaro fixamente, na esperança de fazê-lo mudar de ideia. — Vou ignorar este comentário.

— Ah, sim. Afinal, eu ADORO te provocar. Talvez porque o que eu aprecie é o depois da fúria.

— Ah é? Tchau Dave, resolve logo isso, tá bom? Nos vemos mais tarde. – Beijo o canto de sua boca, o surpreendendo novamente e subo as escadas o mais rápido que consigo. — Bata a porta quando sair! – Grito, esperando que o mesmo ouça. E a porta batendo é a sua resposta.

Fecho a porta do quarto num gesto automático, buscando uma privacidade desnecessária, já que estava sozinha na casa. 

Vou até a sacada novamente e me sinto privilegiada por ver um pôr do Sol tão lindo quanto o apreciava há pouco em meu sonho, com uma companhia que não sai da minha cabeça.

Q1Onde histórias criam vida. Descubra agora