Revelações

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 Aquela altura o que eu não tinha mesmo para digerir era algo no estômago maltratado pela bebida em excesso do dia anterior que me denunciou em protesto num alto e sinistro som que se seguiu por longos segundos sem cerimônia alguma.

 Logo Dave se levanta e ao conferir às horas em seu celular, constata e anuncia ter passado das 2:00 PM e eu não estava nem aí para o fuso horário, só o obsevando.

 Desnorteado como alguém que tem tanto a fazer e não sabe por onde começar, ele por fim, respira fundo e anuncia:

— Primeiro preciso preparar algo para você comer, Lynn.

 Ele diz de uma forma como se tivesse uma lista de providências e a estava organizando mentalmente para serem realizadas e isto não me soou nada bem.

 Confesso que minha curiosidade em perguntar só não foi maior do que a necessidade em abraçar urgentemente meu estômago, que o faço imediatamente passando os braços cruzados por minha cintura e inclinando o corpo para frente com o objetivo de silenciá-lo. Não que eu não pudesse fazer ambas as coisas simultaneamente, inclinar e perguntar, mas isso apenas em dias normais e aquele foi o "day after" de um dia pra lá de anormal! Minha coordenação e sincronização estavam completamente alteradas.

— Não estou com fome! Preciso de água na verdade. Muita água, por favor! – Ao me olhar e processar o meu pedido solta um pausado e sonoro: " O.k."!, num riso frouxo.

— Repete isso para o seu estômago, acho que ele discorda! Mas, como é você quem manda nele e em mim, só me resta providenciar a água. Já volto!

 Antes que ele saísse penso alto deliberadamente:

— Ah! Antes fosse!

 Dave me encara, franzindo a testa fingindo não entender, só pode! Dissimulado!

— Antes fosse, o quê? Não está mesmo com fome? Tem certeza que não quer reconsiderar?

— Não! A parte que mando em você poderia repetir, por favor! E mais..., acreditar nisso!

 Sabendo e temendo o rumo que esta "deixa" daria a ele, então, na velocidade que lhe foi suportável, pois, ainda anda com certa dificuldade, mas imprimindo certo ritmo, já está no corredor deixando a porta entreaberta e quando o percebo já está de volta com duas garrafas de água sem gás. Lembrando que ele percorreu o andar superior, desceu as escadas, atravessou todo o andar inferior que tem um conceito aberto e a cozinha fica na outra extremidade.

 Ele agora esta com a mão estendida em minha direção com uma das garrafas já aberta e coloca a segunda próxima a mim.

 Dou um gole extenso e sinto-a percorrer garganta adentro e gosto desta sensação. Repito a operação "hidratação" num segundo gole, agora de olhos fechados, porque assim os sentidos são prolongados. Assim reza os ditos populares, certo? Olho satisfeita para a garrafa que já está pela metade. Precisava disso!

— Você não tem nada em sua geladeira que valha a pena oferecer, sabia?

— Sim, sabia – Respondo de pronto. — É que depois que minha mãe viajou só comi fora, então é compreensível. Vamos pedir?

— Farei melhor. Está na hora que combinei hoje pela manhã com Adriano para pegar seu carro no Pub, aproveito e trago o seu preferido na volta, pode ser? Não demoro. Steak com vegetais, certo?

— Uhum!

— Já volto! Descanse está bem? – Ele então se abaixa encosta seus lábios aos meus e os beija de forma gentil, não que seja um gesto carinhoso ou romântico demais, porque Dave não é assim, é mais para preservar a sua boca ferida pelo soco que levou ontem.

Q1Onde histórias criam vida. Descubra agora