Capítulo SETE

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Após a discussão com Gustavo, nada mais era normal no ambiente de trabalho, o que quebrou ainda mais as chances da menina melhorar.

Ela passara bem cedo no RH do prédio, pedindo uma carta de afastamento na justificativa de ter que viajar por alguns dias.

Mas por seu costumeiro azar, Gustavo estava saindo da sala ao seu lado naquele mesmo instante e percebeu o que ela pretendia fazer.

— Vai se demitir? — dizia em tom irônico.

— Vou me afastar. —respondia ela, virando-se para vê-lo melhor e se apoiando no balcão.

— Melhor mesmo... assim você conseguirá relaxar, respirar e se desintoxicar desse seu drama inquieto todo.

— Tenha um bom dia você também. —dizia Aurora em tom mais alto, percebendo que Gustavo já se esvairia da sala onde estavam.

Ela assinou um contrato por tempo determinado e se dirigiu com os papéis nos braços para o canil da cidade.

Pretendia pedir um cargo por lá.

Não somente para ajudá-los mas para observar de perto aquele homem.

Aurora ainda queria mata-lo com suas próprias mãos, mas sabendo como ele era forte e ela uma mulher, pretendia arquitetar tudo perfeitamente para não dar errado e ela não sair machucada.

Entrou pela porta do canil com um sorriso radiante, que era falso e ela sabia.

Abordou a moça cacheada e perguntou se haveriam vagas disponíveis no canil para que pudesse a preencher.

A mulher sorriu feliz da vida e entregava-lhe um avental azul com um rasgo em um dos bolsos, como se já a aguardasse naquele dia.

— Tá meio rasgado porque deixei guardado há muito tempo antes de querer usá-lo. —dizia, colocando o avental rapidamente em Aurora — Você caiu do céu menina!

Aurora sorriu em duvida, arqueando a sobrancelha e resmungando.

— Basicamente três dos meus funcionários pediram às contas hoje porque eu havia atrasado alguns pagamentos. Não que eu vá atrasar o seu... — ela se explicava, gesticulando com as mãos e agarrando Aurora pelos ombros — bem...oro para que eu não vá atrasar, que eu consiga pagar tudo bonitinho. Mas estou tão feliz que nem consigo pensar nisso ainda! Obrigada menina.

Quando Aurora deu por si, a moça já estava a abraçando pela cintura.

Seu tamanho era quase a metade de Aurora. Ombros pequenos, pernas pequenas, um olhar calmo e um sorriso que trazia segurança e esperança. Cabelos cacheados e volumosos e um cheiro doce de Floratta estava preso em sua blusa.

— Veio por causa do trabalho?

—Na verdade eu desisti do meu trabalho, temporariamente...

— Oh.. porque? — perguntava ela, mas não muito confiante de que receberia uma resposta — tudo bem se não quiser falar...

— Não... é que eu preciso resolver umas coisas pendentes que ficaram no passado e ficar onde eu estava não me fazia muito bem... Enfim... Só vou ficar ajudando vocês por carinho, não quero que se preocupe em ter que me pagar por isso..

— Isso não!

Aurora insistiu.

— Tá bom. Tudo bem. — respondia, indo até o balcão em razão de um novo cliente na loja. — Lá nos fundos têm algumas prateleiras novas que chegaram ontem, se quiser ver como elas são e sei lá...

— Sim. Vou lá.

— Qualquer coisa tem um sino que você pode tocar pra me chamar, eu volto depressa...

As prateleiras novas foram limpas recentemente, organizada em etiquetas bonitas e por ordem de cor.

Algumas fichas dos cães estavam sobre a mesa e haviam filhotes choramingando mais para trás.

Aurora incluiu a pasta que estava fora do lugar e observara o fluxo do canil pelo espaço pequeno da porta, sem que soubesse teus olhos penetraram a uma caixa sem harmonia de cor nenhuma pouco acima de algumas fichas.

Sua curiosidade a fez subir em um banco pequeno e a pegou-o nas mãos.

A caixa media cerca de trinta centímetros e tinha uma cor de preto com mistura estranha de vermelho e roxo. Totalmente empoeirado e aparentava ser uma caixa esquecida mas não escondida.

Era um bilhete.
Um bilhete endereçado em teu nome com destinatário "Criador".

Aurora pegou o bilhete, leu por completo e correu enraivada até à frente do canil já aos gritos.

— Que brincadeira é essa? — gritava jogando o papel em cima do balcão.

A moça pegou o papel imediatamente e revirava procurando algo escrito que deveria ter causado total raiva de Aurora.

— O que foi Aurora?

— Essa mensagem sobre minha vida! Quem deu o direito à você de achar que pode ditar minha vida o que eu faço ou deixo de fazer?

— Eu não estou entendendo... Aqui não tem nada escrito, do que está falando?

Aurora pegou o papel das mãos dela e mostrou com um dos dedos bem próximo ao teu rosto, da forma mais estupida possível.

— Está escrito bem aqui: não dê ouvidos aos teus pensamentos e não aja como teu coração mandar, eu não quero que você faça o que pretende fazer. Me ouça".

— Aurora... — ela dizia, com os olhos arregalados — eu não vejo nada disso neste papel. Eu não vejo nada escrito!

—Tá me chamando de mentirosa agora também? — ainda em gritos ela retirava o avental do corpo — Quer saber? Eu vou fazer sim tudo que eu quiser fazer, porque eu esperei minha vida inteira pra isso.

— Eu não estou entendendo nada... você está me assustando Aurora. Me ouça, eu não vejo letra alguma neste papel, ele está limpo, sem letras. Veja Beth, tem algo escrito? — dizia ela mostrando o papel para a estagiária magricela, que a fez dizer não e ficar também assustada. —Viu? Quer dizer que nós duas então estamos chamando você de mentirosa?

Aurora não queria compreender aquilo e continuava brava.

—Por favor... vá pra sua casa, respire um pouco — ela dizia, tocando as mãos de Aurora e a puxando para fora — volte quando estiver melhor...

— Eu não vou inspirar, nem respirar, nem coisa alguma. Me solta. Me deixem em paz, você é seu sobrinho — ela se desvincilou das mãos da moça e saiu ainda com raiva com tuas lágrimas pingando em força pelo rosto.

Aurora relembrara sobre o que Benjamin havia dito referente ao vínculo com o canil e era como se as peças foram se encaixando.

Concluira que a culpa não era somente da moça pela inconveniência mas também de Benjamin por quebrar o sigilo de um segredo. 

Digitava uma mensagem nervosa no chat para mandar ao Benjamin, dizendo que nunca mais ele teria o poder de lhe mandar qualquer tipo de contato, e neste mesmo instante ela atravessara a esquina rumo ao prédio onde o homem estava instalado, não percebendo que seguia em sua direção um carro em alta velocidade.

Ela fora atropelada com força brutal.

Seu corpo se revirou no ar por umas três vezes seguidas e depois caiu no asfalto.

O sangue que saia pelo seu nariz já podia ser visto pelo chão.

Aurora desmaiou.

Através do seu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora