CAPÍTULO 02

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Cláudia não era de sonhar. Mas uma escuridão sempre tomava sua mente enquanto dormia. Esse escuro, na verdade, era agonizante para ela. Sempre parecia escutar um bipar de máquinas e uma imobilidade constante em seu corpo. Era como se estivesse acordada, mas não estivesse. É como se percebesse tudo a sua volta, mas não tivesse como reagir.

Talvez aquilo fosse pior que um sonho ruim. Os pesadelos sempre refletem algo que ocorreu com as pessoas durante sua vida. Geralmente, buscam as nossas feridas e marcas mais profundas. Colocam esses momentos de medo fora do nosso controle e em que o inconsciente passa a comandar. Cláudia não tinha certeza, porém tinha uma leve percepção de que aquele escuro, que quase toda noite aparecia a ela, era uma memória de sua infância.

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O despertador tocou três vezes em intervalos de cinco minutos até finalmente acordar. O sol já tomava conta do quarto e a cortina da janela se mexia com a leve brisa que entrava. Já era sete e meia e se viu preocupada a atrasar-se para o turno que começava as oito horas da manhã. Levantou-se sonolenta, mas tentou trocar-se rapidamente. Vestiu uma calça jeans preta e uma camiseta branca, confortáveis e discretas. Esse passara a ser seu figurino desde o início do ano.

Correu para a cozinha. Para preparar sua primeira refeição do dia. Percebeu a pia entulhada de louças não lavadas. Cláudia nunca fora a exemplar dona de casa que se encanta com a arte de limpar. Sempre achou entediante gastar tempo de sua vida com uma bobeira como aquela que agora havia virado uma obrigação.

O micro-ondas apitou informando que o leite já estava quente. Enquanto torcia para o tempo passar mais devagar para não se atrasar, fez uma torrada com manteiga e um café com leite. Comeu e jogou o prato e a xícara que acabara de sujar junto da pia já entulhada. Tentou achar um jeito de coloca-los dentro. Ajeitou um prato de um jantar de anteontem e afastou dele um copo de achocolato que fizera ontem. Até achar um espaço.

Não teve nem tempo de passar maquiagem, só de escovar os cabelos e os dentes. Estava de cara lavada mesmo, torcendo para não encontrar pelas ruas o amor de sua vida.

Antes de ir embora colocou seu colete a prova de balas que estava pendurado na cadeira da mesa da sala. Ela tinha grande orgulho de vesti-lo. Arrumou seu distintivo que estava quase caindo e que brilhava contra a luz. Calçou o tênis esportivo também confortável que havia se tornado o seu companheiro do dia-a-dia.

Saiu. Já no corredor, trancafiou a porta com a maior chave de seu chaveiro. Virou-se em direção ao elevador e então deparou-se com um homem que estava do outro lado do corredor. Aparentemente jovem, poderia muito bem ter a mesma idade que ela. 

Quando a olhou, ficou pasmo. Talvez estivesse encantado com a sua beleza, pois Cláudia era uma mulher realmente bonita. Não só de corpo, mas também com um coração enorme. Alta, mas não demais, e com cabelos longos e sedosos. Sempre teve os homens a sua mão, apesar de nunca ter dependido deles para viver.

Na verdade, ele não estava naquele estado por estar encantado com sua beleza. Talvez, um pouquinho. Mas a principal razão era de que havia a reconhecido de algum lugar. Se aproximou mais e ela foi analisando seu rosto. Até que um nome veio a sua cabeça.

—Justin?! — disse surpreendida.

Cláudia não pode acreditar em quem via. Naquele momento queria se esconder de tão desarrumada que estava.  Encontrava-se num estado caótico. 

No mesmo instante, ele também disse encantado:

—Cláudia? É você, mesmo?!

Ela se aproximou e deram um abraço longo e apertado um no outro. Naquele instante, Cláudia lembrou da amizade durante a adolescência que teve com ele e Alice. Os três eram um trio e tanto. Brincavam e adoravam fazer traquinagens. Relembrou da vez em que roubaram papel higiênico de suas casas e foram direto para a escola atirá-los sobre as árvores e sobre os portões do pátio no último dia de aula.

Entretanto, quando o Ensino Médio acabou, o grupo foi se afastando. O amigo entrou para a faculdade de jornalismo e Alice se mudou para West Valle com sua família. Prometeram um ao outro que nunca deixariam de conversar no grupo criado por eles no MSN, o que não aconteceu. Sem assuntos em comum, foram deixando de manter o contato e o laço foi se perdendo com o tempo.

—O que você faz aqui? — ela perguntou abismada.

— Perguntaria o mesmo, mas estou vendo sua roupa — respondeu dando um daqueles sorrisos de orgulho — Não me prenda, por favor.

Era um bobo.

—Só se você me desse um motivo.

Riram e se abraçaram novamente. Quando se afastaram, o jovem falou:

— Meus avós moram aqui e pelo jeito agora são seus vizinhos. O que eu não sabia era que uma moça tão bonita estava morando na frente deles.

 Ela não concordava nem um pouco com a parte do "bonita" .   De qualquer forma, condizia-se com o perfil do prédio os avós dele morando ali. O edifício era um tanto quanto aconchegante apesar de pequeno.  

— Eu estou péssima, Justin. Olha só para mim. Mas, você. Você está lindo! 

Era verdade, Justin tinha se tornado um rapaz e tanto. Com cabelos loiros e grandes olhos verdes, detinha uma beleza notável. 

A vontade de conversar era enorme. Porém o elevador não chegava e Cláudia não poderia atrasar-se. Sabia que Hugo, o delegado, não a perdoaria dessa vez. Já havia se atrasado e não o queria fazer novamente. Foi perdoada porque ele lhe disse que também se atrasava quando era apenas um policial em treinamento. Quer dizer, como Cláudia havia observado, ele continuava se atrasando, porém, agora, podia, pois, era o delegado.

Ela queria marcar serviço e mais um atraso significaria corpo mole o que não era nem de perto a visão que desejava passar para seus colegas.

—Precisamos nos encontrar em algum lugar. Que tal um café? Não seria legal? Só que agora, infelizmente, eu tenho que realmente ir — disse despedindo-se.

Um receio começava a tomar a sua mente. Será que estaria lá a tempo?

—Seria ótimo um café! E eu por enquanto não sairei daqui Senhorita Clister —respondeu fazendo sinal de sentido e entrando no seu apartamento.

Cláudia se perguntou por qual motivo Justin estava morando junto dos seus avós. Sabia que se fosse só para uma visita não usaria a expressão "por enquanto". Notou também como aparentava abalado. O que haveria acontecido? Mesmo assim, para Cláudia, ele ainda continuava o mesmo. 

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Olá, meu queridos leitores. Mais um capítulo desse livro que estou achando incrível escrever e espero que vocês  também estejam achando incrível lê-lo. 

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Obrigado de coração, Gabriel Ganzo.  

Entre Os Ventos de Yellow HillOnde histórias criam vida. Descubra agora