CAPÍTULO 05: PARTE II

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O relógio continuava: "tic-tac-tic-tac". Às vezes, Cláudia devaneava e pensava consigo mesma. Sabia que tudo era questão de tempo. Quanto mais se dedicasse a algo, isto é, quanto mais tempo tomasse, mais rápido as respostas que queria viriam. Por isso, não desistia fácil. Desistir joga fora cada hora já gasta, cada minuto, cada segundo. O esforço é fazer com que o tempo dure. Alexia persistira e conseguira, finalmente, o que queria. Mesmo que só após vinte anos de insistência.

A velha despediu-se. Só que dessa vez as palavras saíram da sua boca de uma forma bem mais leve. Hugo surpreendeu-se com aquela fala doce que adotara. Parecia bem mais feliz de como a havia visto pela primeira vez. Foi-se, passou pela porta e, então, pela catraca para, depois, sumir de vista.

Antes que Cláudia pudesse dizer qualquer coisa, Hugo levantou-se de sua cadeira e disse que ela deveria segui-lo. Saíram. Percebera, somente, que havia esquecido o celular quando passou pelas cadeiras da frente da sala novamente e viu seu dispositivo. Então, rapidamente, o colocou de volta no bolso para não perder o delegado de vista.

Hugo abriu a porta das escadas e começou a descer. O mesmo fez ela.

—Para onde estamos indo, afinal?

—Você já vai ver.

Desceram apenas um lance de escadas. Cláudia já imaginava para onde ele a guiava. E viu que estava certa ao ver a porta.

Era trancafiada por um sistema onde era necessária a digital de alguém para abrir. Nesse caso, a digital do delegado.

Acima da porta, havia uma placa amarela que informava em letras pretas três frases "Subsolo. Acesso restrito. Propriedade da Polícia Investigativa de Yellow Hill. "

Ele passara três vezes seu polegar. Nenhuma funcionara. Já impaciente, na quarta tentativa, conseguiu. Na tela do aparelho de digitais piscou a informação "Acesso liberado. " Portanto, o detetive tornou a abrir a pesada e maciça porta contrarrupturas.

Todos os arquivos estavam ali. Documentos, declarações, casos concluídos, casos arquivados e provas de todos os tipos. Havia exemplares de resquícios de bala de variáveis armas. Havia até brinquedos que, por exemplo, se encontravam na hora de algum crime. Tudo era lacrado.

Cláudia achou bizarro um que de longe parecia um grande "alien" de pelúcia. Mas não poderia ter certeza, talvez fosse um urso. O fato era que o bicho era gigante e que estava todo envolto em uma espécie de plástico.

A sala tinha um pé direito baixo, mas era muitas vezes maior em área que a própria sala do Doutor Hugo. Havia várias seções, centenas estantes de metal e milhares de prateleiras.

— Seção de Arquivados, Estante 21, Prateleira 4, Número 11—falou Hugo de repente.

Aqueles, provavelmente, eram os números onde se encontrava o arquivo que Alexia tanto falara.

Enquanto procurava, Cláudia quis agradecer a oportunidade e confiança que nela estava depositando.

—Doutor? — chamou.

Concentrado em achar o arquivo, demorou para virar-se e respondê-la.

— Oi. O que foi?

— Eu queria agradecê-lo. Muito obrigada. Estou recebendo meu primeiro caso e nem posso acreditar. Veja bem. Meu caso! Isso é incrível! Mal posso imaginar em começá-lo.

Novamente demorou. Os dois continuaram andando e Cláudia a segui-lo.

— Não precisa agradecer. Nem se engane. Esse caso é fácil — disse ele enquanto caminhava. — O fato é que que essa mulher insiste em vir todo ano a delegacia pedindo para reabrirmos novamente o caso de Edward Mórmon, seu filho, e Ericka Mórmon, sua nora.

— Qual o motivo de depois de tanto tempo para ela continuar pedindo a reabertura das investigações? —perguntou intrigada.

—Não sei direito — disse ele.— Arrá! Aqui está você!

Foi até uma escada que se encontrava um pouco mais a frente e trouxe até eles. Abriu, subiu e pegou um envelope. O delegado não era um dos mais altos do mundo. As estantes eram de uma altura razoável, o que fazia com que um homem de estatura comum como a dele já não alcançasse a quarta e última prateleira.

Desceu a escada segurando o envelope que entregou a Cláudia. Quando segurou viu que era leve e que tinha um grande número onze de uma letra apressada sobre o papel pardo."Caso Mórmon" também estava escrito.

— Os dois morreram durante o tornado que atingiu a cidade há vinte anos atrás. Você ainda era um bebê e eu uma criancinha.

— Espere aí? O tornado? O tornado que devastou toda Yellow Hill? — questionou abismada.

Aquilo, a única coisa que temia, envolvido mais uma vez na morte de mais pessoas e na tragédia de mais uma família.

— Sim. Quer dizer, então, que, supostamente, os dois morreram por causa dele. Entretanto, a Senhora Alexia Mórmon continua a dizer que não. Fala que, na verdade, houve um assassinato. O problema é que nem ela sabe dizer porque acha isso.

Alexia não devia estar indo vinte anos seguidos na delegacia por, simplesmente, nada. Realmente acreditava naquilo e queria que Hugo também acreditasse.

— Mas por que aceitou reabrir o processo?

—Não tinha aceitado porque, primeiramente, não havia um motivo real e concreto para isso. E, segundo, ainda não havia gente sobrando na nossa equipe. Como me vi um tanto incomodado com a persistência da Senhora Mórmon, decidi que este seria seu primeiro caso. Assim ela também pararia de incomodar um pouco a mim e ficaria feliz com o caso correndo como sempre sonhou.

Fazia todo sentido agora. Às vezes, o delegado conseguia ser bem esperto.

—Não acredite muito no que ela fala, Cláudia. Ela já nem mais sabe o que diz.

— Então, eu preciso concluir esse caso para que ela possa aceitar finalmente a morte de seu filho e seguir em frente. É isso, não é? Mas, ainda assim, sinto pena dela por ter tanta dificuldade em aceitar que perdeu o filho mesmo depois de duas décadas.

Cláudia estava mais para o lado do delegado do que da mãe de Edward. Ele que tinha anos de experiência deveria estar certo. Mas nunca jamais descartaria possibilidades. Não falou tudo que pensava para que não achasse que ela fosse um pé no saco. A policial ainda tinha suas dúvidas e precisava urgentemente ouvir da própria boca da Senhora Mórmon o que ela tinha a lhe dizer.

— Isso mesmo. Não dá! Ela não consegue. Você vai ajudá-la. Não esqueça de ler o relatório!

"Ah, sério? Não tinha nem pensado nisso. " 

Cláudia naquele momento ficou com raiva do delegado que continuava a vê-la como uma policial tola e totalmente inexperiente. Precisava ler aquele arquivo para ficar por dentro dos detalhes. Pois sabia que, no fim, tudo era questão de tempo.

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Oi! Como vão vocês? Mais um capítulo postado. Espero muito que tenham gostado.

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Grato, Gabriel Ganzo

Entre Os Ventos de Yellow HillOnde histórias criam vida. Descubra agora