A policial não soube bem o que falar depois de soprá-las, estava bastante emocionada. Surpreendia-se ao ver aquela pequena comemoração feita para ela. Só o que pode dizer foi várias vezes obrigada.
Em alguns momentos, Cláudia conseguia ser um pouco indecisa. Mas, sempre, era perspicaz. Na hora crucial e no final de tudo conseguia estar certa ou apta a fazer o que disse que faria.
Lembrou-se de um dia na praia com seus pais onde viu um menino da sua idade construir um castelo de areia. Nunca tinha visto um, assim como nunca tinha visto uma praia, apesar de ter uma lembrança de estudar sobre os animais marítimos na sua escola. Perguntou aos pais se poderia ir até o garoto.
— Pode ir, filha — disse Mark.
Eles não viram problema algum.
Deu uma boa olhada no castelo durante o curto percurso. Chegando lá, pôs suas mãos nas costas as fechando. Balançou seu corpo da ponta do pé ao calcanhar e disse confiante:
— Olha só! Eu acho que posso fazer um castelo melhor que esse. Então, proponho um desafio. Quem ganhar pode destruir o castelo do outro.
Cláudia adorava desafios. No entanto, para sua tristeza, o menino a ignorou. Estava concentrado fazendo um muro. Ela presumiu que ele o construía, obviamente, para impedir que a água do mar invadisse a construção quando a maré enchesse.
— Oooi?? — tentou novamente contato.
Dessa vez houve uma resposta. Uma resposta inesperada.
—Não valeu — respondeu o garoto dando de ombros. — Mas você pode pegar um balde emprestado para construir o seu se quiser.
— Ah, tá. Obrigada — retrucou com um sorriso amargo.
O garoto continuou vidrado no castelo. Cláudia sem ligar muito, mas com uma pequena raiva, pegou um dos baldes e voltou ao seu guarda-sol onde começou a construção do seu próprio castelo. Primeiramente, nivelou o chão com suas mãos e encheu o balde com a areia que estava ao seu lado. Ao virá-lo, porém, viu sua torre desmoronar. Ficou pasma.
— Cláudia, você precisa usar areia úmida — falou seu pai enquanto a mãe lia um livro.
Ela não havia percebido que ele observava. Fez o que disse. Seguiu na direção do mar e cavou. Colocou a areia extraída dentro do balde que segurava. Constatou também que ali a areia era mais gelada e por um momento sentiu a água tocar seus pés. Depois de encher o balde, a menina andou lentamente de volta ao seu guarda-sol. Devagar, porque, simplesmente, não tinha medo de estar ali sozinha como a maioria das crianças teria.
Dessa vez, sua torre deu certo e ficou sem nenhuma falha. Assim se sucederam as outras que fez. Construiu cinco torres, empilhou três, em cima delas mais duas e depois uma última, criando, por fim, um grande triângulo de torres que chamou de pirâmide.
Olhou para o lado e viu o menino ainda dedicado em seu castelo. Achou que o seu havia ficado definitivamente melhor e mais simétrico.
Novamente, voltou a mirar a sua pirâmide. Imaginou onde e de quem seriam os quartos. Talvez lá vivesse uma princesa, ou talvez um grande vilão? Quem saberia responder?
"As minhas torres não precisam de muros" pensou Cláudia "O castelo é tão grande e mágico que a água irá circulá-lo ao avançar sobre a faixa de areia da praia".
***
Todos já haviam saído de seu escritório. Geralmente, decorava-se como o respectivo dono desejasse. Porém, não tivera tempo para isso. Ninguém diria que aquele lugar era o de Cláudia. Gostaria de ter colocado uma foto dos pais e ter trazido seu CD favorito da banda Oasis, o álbum "Definitely Maybe".
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Entre Os Ventos de Yellow Hill
Mystery / ThrillerA jovem Cláudia se vê iniciando seu primeiro trabalho como investigadora na delegacia da cidade há pouco reconstruída de Yellow Hill. É quando recebe um caso aparentemente simples: a morte de uma mulher, Ericka, e de seu marido, Edward, durante o to...