CAPÍTULO 03

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Apertou várias vezes o botão do único elevador e esperou. O aparelho persistia parado no sexto andar enquanto ela estava no sétimo. Bufou e decidiu descer as escadas. Abriu a pesada porta de metal contra incêndio e foi-se rapidamente. Contou em sua mente os andares a medida que passava por eles. Aliviada chegou no térreo. Cumprimentou o porteiro que estava numa espécie de soneca. Ela o cutucou. Teve de esperar ele acordar e ao vê-la abrir o portão do condomínio.

Cláudia verificou as horas no celular e já eram dez para as oito. Seu coração voltou a disparar. A menos de três quadras ficava a delegacia, porém, ainda assim, havia pouco tempo. Caminhou num ritmo incessante até chegar.

O novo cotidiano a tinha feito decorar o sentido e o nome das ruas que se acostumara a passar quase todo o santo dia. Virava-se à esquerda e continuava na Rua Antônio Frey, a primeira à direita e estava na Rua Ramos de Oliveira e depois a segunda à direita na Avenida Colibri em que se localizava a delegacia. O edifício se destacava em relação a todos os outros em volta.

Podia contar nos dedos as lojas de roupas, sapatos, as agropecuárias, os salões de beleza, os mercados e as barbearias. Apesar disso, a Avenida Colibri era de fato a mais movimentada de Yellow Hill.

Era um prédio grande e que atendia boa parte da região metropolitana de West Valle. Começar a trabalhar ali não fora nada fácil para quem sempre esteve acostumada a estar em lugares um tanto que pequenos.

Olhou para o relógio novamente e lhe restava somente dois minutos. Então, entrou no edifício e passou seu cartão na catraca. Assim que na pequena tela a cor verde piscou, sentiu um alívio. Seguiu reto até seu departamento. Entretanto, para sua surpresa, encontrou Hugo em frente a sua sala. Ficou sem saber o que fazer.

—Tudo bem? —perguntou um pouco desesperada.

— Pontual — disse ele, para seu alívio.

O delegado era um estereótipo da profissão. Sapatos pretos bem engraxados e um terno também preto em que se destacava uma gravata azul sobre uma camisa branca. Além disso, sem saber o motivo, o delegado carregava consigo uma caixa de papelão de tamanho mediano.

Os poucos fios de cabelo que lhe restavam não condiziam com sua verdadeira idade assim como as rugas que começavam a marcar sua pele. Ele devia ter muitos outros problemas além das longas horas que passava verificando inquéritos e remediando investigações. Apesar disso, fazia um bom trabalho. Era considerado exemplar.

—Como sempre não é, Doutor Hugo? — tentou ser doce. — Mas o que lhe traz aqui na minha sala já que não é porque estou atrasada?

A correria havia sido tamanha que Cláudia havia até esquecido o que havia feito durante a noite anterior. Hugo sacudiu a caixa e permaneceu olhando para a policial.

—Vamos lá! —disse animado. — Pegue!

Cláudia segurou a caixa sem entender muito bem o porquê. Ficou olhando fixamente para o delegado em um estado de confusão e receio. Hugo ficou meio desapontado e sua fisionomia mudou para uma de certa irritação.

—Decepcionante, Cláudia, decepcionante. Você que é uma investigadora deveria saber! Abra logo. É sua! — disse o delegado saindo da frente da porta da sala e indo em direção a sua sala mais ao fundo. 

A policial ficou vermelha. Não sabia o que fazer. Entrou no escritório, colocou a caixa sobre a mesa e procurou por uma tesoura. Sentou-se na cadeira e cortou as fitas que lacravam a caixa de papelão. Quando abriu sentiu tomar-se de uma raiva de si mesma. Mas também viu tomar-se de uma felicidade que se espalhava por seu peito.

Estava ali, bem na sua frente. A sua tão esperada Glock G17.

Segurou a arma de maneira forte. Os olhos cintilavam. Tudo que se espera muito acaba ganhando um grande valor sentimental. Finalmente, estava segurando ela. Sabia certamente dos riscos de uma pistola e quando realmente deveria usá-la, pois, todavia, havia sido treinada para isso.

As lágrimas caíram naturalmente pois esperara muito desde sua infância por aquele momento. Não notou que Hugo a observava de longe e que entrara lentamente na sala, assim como atrás dele vieram outros policiais. Quando os viu, tentou conter as lágrimas para demonstrar força. Havia sido um trabalho duro chegar ali.

Cláudia passara em segundo lugar no concurso público para a polícia e foi chamada para iniciar o curso já duas semanas depois da divulgação das notas. Os dois anos de treinamento foram os mais puxados de sua vida inteira. Não só teve testes de aptidão e aulas de diversas disciplinas, como também testes físicos rígidos que exigiam um bom desempenho corporal. Obviamente, como em tudo na vida, pensara em desistir de tudo aquilo. Mas era o que gostava de fazer. A cada etapa que vencia mais orgulho sentia de si e de sua profissão.

Havia umas dez pessoas ali. Uns dentro da sala e outros no corredor a beira da porta. Os nomes que lembrava eram os de Ed e Berry. Os que tivera mais contato nos seus dois meses fazendo o trabalho de reconhecimento da delegacia. E não poderia esquecer de Anna que apareceu por último, a única mulher ali além dela.

Colocou pela primeira vez a arma em seu coldre e levantou-se da cadeira. Deu um rápido abraço em cada um. Parte dos policiais segurava um cartaz que dizia "Bem-vinda a equipe" e outra um bolo de morango com chantilly com as velas já acesas. Todos batiam palma num volume bem alto.

Eram poucos agentes novos que se juntavam a equipe todo ano por isso a grande celebração. Geralmente havia mais gente saindo do que entrando. Cláudia ficou sem palavras para descrever aquele momento enquanto tentou novamente segurar suas lágrimas.

—Agora você é parte do time! — disse o delegado.

—Obrigada a todos! Não tenho como agradecer por isso e espero não decepcionar vocês. Agora me traga aqui esse bolo.

Soprou as velas sem pensar muito. Só desejou uma bela jornada na profissão que escolhera. Desejou mais amor e mais paz nesse mundo tão conturbado. Sorriu. Sorriu feliz pela nova etapa que começava.

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Oi, turma. O que estão achando do início da história. Tem muita coisa pela frente ainda. Estamos na etapa em que Cláudia entra por definitivo na polícia. O que lhe espera agora? No próximo capítulo saberemos.

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Com sinceridade, Gabriel Ganzo.

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