CAPÍTULO 05: PARTE I

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— Você que não entende! Esse caso já está encerrado há muito tempo. Seria uma perda de tempo reabri-lo, Senhora Mórmon.

Apesar de calmo, dessa vez o delegado havia pegado pesado. Como poderia falar que, o que aquela senhora afirmava com tanta convicção, era perda de tempo? Cláudia não sabia se deveria entrar na sala. Não era ela quem interromperia aquela discussão. Não quis intervir. Decidiu ficar esperando afastada, prevendo uma conciliação entre os dois.

Sentou em uma das cadeiras estofadas que ficavam ao lado da sala do Doutor Hugo. O delegado acabara de fechar a porta o que não adiantara muito. Todos na delegacia poderiam escutar aquela conversa. A mulher berrava.

— Perda de tempo???!! Perda de tempo? Eu. Eu. Eu não sei o que dizer — disse ela inconformada e com os olhos prontos para derramarem lágrimas. —Eu sinto aqui dentro do meu peito que há alguma coisa errada. Há algo errado! Eu já vi que há. Eu sei.

Mas não parou por aí. Continuou, agora, indignada:

— E outra coisa. Como você me chamou mesmo? Exijo mais respeito. Me trate melhor! "Senhora", onde já se viu!

Cláudia riu assim como Jack, o policial da sala da frente. Queria poder ver como estava a cara do delegado naquele momento. Mas também ficou um tanto incomodada, repleta de perguntas.

Quem era aquela mulher? O que havia acontecido com ela? Sabia que falava sério, dava a alma quando abria a boca. Mas parecia algo tão alucinado e forte que soava desesperado. Como saber se ela não estava apenas sendo exagerada? As respostas somente viriam se alguém fizesse o que a mulher pedia. Investigando.

Cláudia viu-se curiosa. E quando assim estava, sentia-se instigada. Era o que a movia. Como a gasolina que move os carros. Descobrir a verdade e revelá-la sempre com uma pitada de surpresa.

A mulher estava prestes a gritar novamente, quando o delegado surpreendentemente falou:

—Por isso mesmo, você terá uma investigadora a sua posição.

A velha senhora ficara pasma. Assim como, do outro lado da parede, a policial pulara da cadeira no momento em que a fala do delegado chegara ao seu ouvido. Cláudia teria de acostumar-se melhor com sustos.

A mulher levantou a cabeça boquiaberta e balbucio os próprios lábios, tentando processar a informação que não esperava ouvir.

—Você está me fazendo de boba, não está? — disse duvidando do que o delegado acabara de lhe dizer.

—Não, não senhora - sorriu e disse.— Por favor, se acalme. Sente-se.

Com as pernas tremendo, ajeitou seu vestido e passou os dedos sobre os olhos para tirar as lágrimas acumuladas. Então, Cláudia achou que aquela era a deixa perfeita. Bateu na porta e ouviu o delegado dizer que poderia entrar.

Abriu com uma das mãos a maçaneta. A sala era muito maior que a sua. Havia um relógio de pêndulo logo ao lado da porta que fazia aquele típico barulho irritante "tic-tac-tic-tac". Mas apesar de grande era simples e limpa.

O piso de uma cerâmica branca deixava-a ainda mais reluzente. Uma grande estante de madeira do lado direito em que acumulavam-se livros. Do esquerdo uma grande janela que dava para a Avenida Colibri. Uma mesa retangular ao centro.

Assim que entrara, os dois olharam fixamente para a investigadora. Principalmente, a tal Senhora Mórmon que passou um bom tempo analisando-a.

Como pôde perceber, ela usava um vestido preto simples, mas tão lindo. Era magra e alta. Calçava um baixo salto azul, assim como a cor do bracelete. As rugas não eram muitas.

Após vê-la novamente, Cláudia ficou em dúvida em que idade daria para aquela mulher.

Já que Hugo nada falou, decidiu por si mesma quebrar aquele clima. Aproximou-se.

—Prazer, sou a Investigadora Clister — disse estendendo a mão.

Senhora Mórmon também estendeu a mão. Cumprimentaram-se.

—Que bom conhecê-la! Você não tem um nome? Um nome de verdade. Por favor, sem títulos. Sem títulos.

A velha tinha um gênio forte e uma mania de repetir as últimas palavras de suas frases. Teria de aprender a lidar com isso. Não parecia ser maldosa. Mas, sim, parecia procurar por algo que ainda não havia encontrado.

—Sim. Eu tenho — sorriu.—Me chamo Cláudia. E a senhora? Só a conheço por Senhora Mórmon.

A velha virou o rosto na mesma hora que escutou senhora.

— Eu sou Alexia. Me chame apenas de Alexia.

Cláudia assentiu com a cabeça. A voz do delegado irrompeu a sala.

—Insisto que repense sobre reabrir esse caso, Alexia. Já fazem vinte anos. Isso é muito tempo.

A velha apenas ignorou, pois não queria mais tocar naquele assunto. Para ela estava decidido que os policiais veriam as falhas do último inquérito, as suas brechas e as faltas de prova. Porém depois de algum tempo, disse:

—Tudo que eu quero é informações, Hugo. Tudo que eu quero é saber a verdade baseada na verdade. De que maneira e em que hora morreram meu filho e sua esposa durante aquela terrível noite. Só isso. Passo esses anos todos da minha vida sem me conformar com a sua morte. Não por simplesmente não a aceitar, mas porque sinto desde lá que falta alguma peça nesse quebra-cabeça.

— Lhe passarei por um e-mail o contato de Cláudia. Mas, deverá deixá-la trabalhar em paz.

Para Hugo tudo aquilo já tinha sido pautado na última investigação de vinte anos atrás quando ainda não era delegado. Quem comandava a polícia da cidade era o falecido e renomado Delegado Túlio.

Alexia fez uma longa pausa para respirar. Olhou para Cláudia, pegou na sua mão e falou:

— Espero que você me ajude.

— Darei meu máximo — prometeu.

Entre Os Ventos de Yellow HillOnde histórias criam vida. Descubra agora