Biscoito de Queijo

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Escrito por: PipaRivera88


LORENA trabalhava em um café dentro de uma escola de música no centro da cidade, adorava os sons que ouvia das salas de música. Adorava também uma aluna, meio louca, que fazia aula de guitarra lá, sempre passava atrasada no café pedia um biscoito de queijo e um café sem açúcar e entrava correndo na sala. Lorena não sabia seu nome, nem onde morava nem nada, só sabia das aulas de guitarra porque ela entrava todo dia com o case do instrumento e a viu ensaiando, por uma fresta da porta, uma vez.

Vivia trocando a cor do cabelo curtíssimo, naquela manhã ele estava platinado. Chegou ao café, pediu o de sempre e entrou correndo. A operadora de caixa olhou para Lorena e sorriu.

— A Biscoito de Queijo sempre correndo, acho que até pra dormir ela corre!

— Boba! — Lorena disse sorrindo, ao se lembrar que a colega colocara aquele apelido na musicista porque ela fazia aquele ritual todo santo dia e Lorena não sabia seu nome, nem sabia nada a seu respeito. Desde que começou a trabalhar naquele café três meses antes.

— Você é boba, eu já teria perguntado.

— Com que cara eu vou chegar nela e perguntar qual é seu nome? Você é atirada demais, Edna, não consigo. Se ela achar horrível e me der o maior fora do mundo?

— Vai ser melhor que ficar assim amando de longe e só vendo por sessenta segundos, porque os encontros de vocês sempre foram assim...

— E se ela me disser seu nome e começar uma amizade comigo?

— Pra tudo tem jeito, Lorena.

Duas horas depois, Lorena fitava a porta e quando a moça não saía ela pegava uma vassoura e ia limpar perto da porta, foi usando essa tática que a viu ensaiando sozinha no palco da escola vazia.

Edna sempre observava a colega, sorria quando a musicista saía e Lorena suspirava com um sorriso no rosto.

— Acho que esse é o amor mais puro que existe porque você não sabe nada dela e ainda fica com esse brilho nos olhos. Ela paga o lanche com dinheiro, parece que é flanelinha, só paga com moedas. — Edna brincou, arrancando uma risada de Lorena.

O estabelecimento era pequeno, no balcão ficava apenas Lorena, tinha duas cozinheiras que ficavam na cozinha, entregavam os pedidos por uma janela e eram pegos por Lorena que disponibilizava no balcão e quem pediu buscava depois de escutar a senha gritada por ela; operadores de caixa havia dois, Edna ficava de seis às quinze horas e de quinze a meia-noite Plinio, dono do local assumia o posto. Plinio ajudava no atendimento também quando precisava.

Lorena atendia no balcão e cuidava da limpeza do lugar também, com exceção dos banheiros, pois faziam parte da administração da escola.

PLINIO chegou e chamou Lorena para passar umas tarefas extras.

— Você pode ir ao banco comigo na hora do seu almoço? Eu te libero mais cedo se quiser ou pago a hora extra. O Rafael fica no seu lugar aqui até voltarmos de lá.

— Claro que posso, seu Plinio.

— Ok, eu preciso sacar um dinheiro com meu gerente e como já peguei dinheiro essa semana, não vou poder sacar tudo então vou fazer um cheque pra você e você vai descontar. Está com seus documentos certinhos aí?

— Sim, senhor, estão no meu armário. Em meia hora eu saio para o meu almoço.

— Ah, sim, claro. Eu vou buscar umas coisas lá em cima e já desço e vamos lá. — avisou e subiu a escada em espiral que havia ao lado dos caixas.

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