Escrito por: @ FlaviaRayana
- Está vendo aquele casal ali? - Perguntei a pequena nuvem ao meu lado. Aquele pequeno pedaço do que os humanos dizem parecer algodão doce havia se desprendido de mim ontem á noite. E como era minha cria, meu dever era ensiná-lo sobre as coisas da vida.
- Estou - Respondeu com a voz sonolenta.
- Sempre venho aqui quando eles estão - Falo deixando que o pequeno pedaço de mim se aproxime - Ás vezes, quando as nuvens maiores não estão olhando, eu costumo segui-los por aí.
- Porque faz isso? - O pequeno tufo perguntou com a dúvida estampada em seus olhos.
- Sabe - Comecei - As nuvens são eternas, sabe o que isso quer dizer? - Perguntei afagando os pequeninos tufos que pareciam querer se soltar dele.
- Não - Falou olhando para o casal que ria lá em baixo despreocupadamente.
- Isso quer dizer querido, que nós vamos viver para sempre - Respondi encarando o céu azul.
O sol estava forte. Depois de dias de chuva intensa, ele resolveu aparecer. Por isso, o pequeno parque estava cheio. Havia crianças brincando de pega, pessoas lendo em baixo de árvores.
Alguns andavam de bicicleta enquanto outros preferiam os patins. Mas eles estavam lá, deitados lado a lado, conversando animadamente como se tivessem acabado se de conhecer e quisessem saber ainda mais um do outro.
- Eles também vivem para sempre? - Perguntou o pequeno com o olhar seguindo uma pequena menina de cachos ruivos que se jogou nos braços de seu pai.
- Não - Respondi pesarosa - Eles têm um tempo limitado.
- Por quê? - Quis saber meu pequeno curioso.
- Vou te contar o motivo de gostar tanto daquele casal ali - Falei posicionando-me de forma á tapar um pouco o sol para que eles não se sentissem incomodados com os raios fortes sobre suas peles.
Todo cuidado é pouco.
- A primeira vez que eles se viram - Comecei com um olhar nostálgico - Foi aqui nesse mesmo parque - Prossegui - Ele tinha seis anos e ela cinco. Era um passeio da escola, o primeiro dia de aula. Ela tinha os cabelos presos em uma maria chiquinha muito bem alinhada, e ele os sapatos muito bem engraxados. Logo ficaram amigos e foram brincar de esconder. Era a brincadeira favorita dela, e ele não se importou de brincar apenas para ver seu sorriso onde, claramente um dente estava faltando.
- Ela não escovou bem os dentes né? - Perguntou sentindo-se o mais sábio das pequenas nuvens - Você explicou ontem sobre a importância de manter os dentes sempre bem escovados.
Eu sorri. Havia mesmo explicado e fiquei feliz em saber que ele havia prestado atenção na lição passada.
- Não - Respondi ternamente vendo seu olhar sabichão tornar-se confuso - Os humanos possuem uma coisa chamada dente de leite, eles nascem primeiro e depois quando os dentes definitivos ficam prontos, eles caem para dar espaço aos novos dentes.
Ele fez uma cara pensativa.
Provavelmente se perguntando sobre a necessidade de ter que perder seus dentes para que outros possam nascer. Também fiz esse mesmo
questionamento quando vi aquela doce menina exibindo sua banguela com seu sorriso atrevido.
- Tudo bem - Ele Respondeu - O que aconteceu depois? - Deixou a questão do dente de leite de lado para voltar a se concentrar na história.
- Depois eles deitaram com mais alguns colegas e passaram a observar o formato das nuvens para brincar de "com o que se parece?"
Ele não falou nada inicialmente, mas olhou para mim com os olhos inquisidores.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pequenas Artes
RandomEste livro é a União de escritores e aspirantes de vários estados do Brasil, que usaram sua criatividade e doaram suas obras para o projeto pequenas artes, com o único objetivo em ajudar instituições de caridade. Não podemos ficar parado e a União...