Escrito por: @Hot_zombie
Talvez a vida pudesse ser menos monótona, ou eu que não sei mais tirar proveito dela. Nesta sala de aula tudo o que posso fazer é rabiscar o caderno sem mais vontade de realmente assistir o professor que parece tão entediado quanto eu em suas explicações. Os braços queimam e não me importo mais como deveria. Os rabiscos da navalha já eram frequentes em minha rotina. Tornou-se um hobby alimentar minha sede de dor e meu ódio por mim mesma. Ao pensar em tudo o que me afeta, quebro o lápis sem perceber. Jogo seus restos na mesa e tento me distrair até ir para casa.
Saindo do colégio não olho e nem falo com ninguém, sou a estranha, gostaria de ser também a invisível, pois chamar atenção por ser diferente é pior ainda. Caminho pelas ruas que se tornam cada vez mais vazias e escuras pelo entardecer que se estende pelo céu, acompanhando meu passo lento e taciturno a caminho do meu inferno pessoal. Minha casa.
Ando cada vez mais devagar, não possuo nenhuma pressa de chegar lá. Minha mãe sempre ignorando tudo à sua volta, meu pai que nunca está em casa, só sabe trabalhar e juntar cada vez mais dinheiro. Meus irmãos mal veem o pai, nem perco meu tempo referindo-me a ele como um pai. Para mim se tornou um estranho completo.
Chegando ao terrível lugar entro e vou direto ao quarto, como já é de costume, e ninguém nunca pareceu se importar. Estão todos ocupados em seus próprios mundos medíocres.
Pego minhas lâminas apenas por diversão e começo a separá-las por tamanho. Algumas de apontadores diversos quebrados ao longo do tempo, navalhas, tesouras afiadas, Gilete entre outras coisas que incrivelmente podem ferir quando queremos.
Olho para meus braços e de repente me ataca uma crise de choro incontrolável. Eu as vezes me vejo de fora e fico a me perguntar o que me levou à esta situação. Isso é frustrante, é decepcionante, comigo mesma. Como posso fazer isso sem ter um verdadeiro porquê? Eu só sinto como se eu precisasse morrer e fico na vida procurando somente um porquê. Uma razão para usar de desculpa. Eu sinto isso me invadir e não consigo controlar, nem suportar.
Choro deitando na cama com as lâminas sem tomar cuidado algum, sentindo algumas delas arranharem minha pele. Paro repentinamente e fico a olhar o vazio, em transe, como se escutasse a voz da morte me chamando. Fecho os olhos e espero esta loucura passar, por fim acabo dormindo, exausta de lutar contra minha própria mente.
Acordo no dia seguinte com dores de cabeça e levanto devagar. Olho em volta enquanto tento me adaptar à claridade do quarto. As laminas caídas no colchão coloco de volta no lugar e levanto para fazer algumas coisas em casa.
São 7h da manhã e não consigo mais pegar no sono então procuro o que fazer, lembro que hoje é dia do clube de leitura, que eu adorava participar, mesmo que eu não esteja comparecendo há mais ou menos um ano, era minha paz, e até isso eu tirei de mim mesma. Fico mal e decido voltar para a cama sem fazer nada. Meu corpo se sente completamente inerte, como se não quisesse se mover, deixo isso me dominar, me subjugando ao quarto pelo maior tempo possível, por isso costumo faltar muito na escola, apesar de ser um pouco inteligente e conseguir me virar tirando notas boas quando vou, já quase repeti várias vezes, mas sempre percebiam meu "potencial" e me passavam apesar das faltas em grande escala.
Estou cursando o 3º ano do ensino médio no momento, já é o 4º bimestre e só consigo me sentir cada vez mais indisposta para viver no mundo lá fora. Vou à escola duas ou três vezes por semana. No máximo, muitos dizem que vou acabar por repetir, isso me preocupa, mas ao mesmo tempo me deprime. Não sei o que pensar realmente, se me dedico com a força de vontade que eu com certeza não tenho, ou desisto e vejo a vida passar sem fazer nada para melhorar. Sempre quis que as pessoas me notassem e por ser um pouco "nerd", as pessoas prestavam mais atenção em mim. Mas hoje em dia, só gostaria de não notar as pessoas.
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Pequenas Artes
RandomEste livro é a União de escritores e aspirantes de vários estados do Brasil, que usaram sua criatividade e doaram suas obras para o projeto pequenas artes, com o único objetivo em ajudar instituições de caridade. Não podemos ficar parado e a União...