Rê estava tagarelando sobre o Pedro, seu paquera da padaria, quando noto algo diferente no ônibus, algo não, mas sim alguém. Oh, não! O que ele estava fazendo aqui? Mas... tem alguma coisa errada com ele... Oh droga, eu já vi isso acontecendo muitas vezes, ele está prestes a ter uma ataque. Levanto do banco e deixo Renata com uma expressão de confusão em seu rosto. Tento chegar até ele o mais rápido possível, quando estou quase ao seu lado ele nota minha presença. Olho para ele e vejo seus lindos olhos cor de ocre assustados:
— Sam - Ele diz meu nome com a voz quase falhando - Eu não vou conseguir... - Agora ele apenas sussurra, e eu entendo o que ele quer dizer.
— Me de sua mão e olhe para elas - Ele paga minha mão com força e à segura, olha na direção de nossas mãos e começa a respirar profundamente, agora eu sei o porquê dele não conseguir olhar nos olhos. - Você vai conseguir sim. - Eu sussurro para ele.
O ônibus continua a encher, mas assim que ele para no terminal metade das pessoas desembarcam, e o ônibus fica praticamente vazio, olho para o fundo e vejo Renata me olhando com um olhar questionador e ao mesmo tempo preocupado. Mais uma vez sussurro para ele:
— Hey, vamos nôs sentar um pouco, nosso ponto já está próximo mas você precisa se acalmar um pouco mais. - sem desgrudar os olhos de nossas mãos ele deixa que eu o conduza. Coloco ele sentado em um banco único, pois colocar ele sentado ao lado de alguém só pioraria a situação. Fico segurando sua mão até nossa parada, desembarcamos e ele solta minha mão, andamos uns 2 metros e ele continua sem fazer contato visual e sem falar nada, mas eu entendo que ele está com vergonha por quase ter tido um ataque dentro do ônibus. Por fim eu quebro o silêncio:
— Rê, muito obrigada por pegar minha bolsa, eu esqueci totalmente dela... Será que você poderia fazer um favor gigante para mim? - Ela me olha desconfiada - Te compro um pastel.
— Tá, o que é? - ela diz toda empolgada.
— Quero que você vá caminhando sozinha hoje, preciso conversar com o nosso amigo em particular - digo isso sentindo muita tensão, não perguntei se ele queria conversar.
— Não recurso um pastel de forma alguma. Até depois chuchu - Ela me da um beijo na bochecha, e vai embora chacoalhando seus cabelos e seus quadris como se estivesse dançando. Depois de mais 5 passos ele quebra o silêncio.
— Sam?! - O jeito como ele diz meu nome me dá frio na barriga - Como sabia?
— Oh, eu... eu tenho um primo aspie. - damos mais alguns passos, percebo que ele não quer falar sobre isso agora - Você está chateado por eu ter percebido?
— Um pouco, terei que ter mais consultas com meu psicólogo, e eu odeio ter que passar por especialistas que não sabe o que se passa na minha cabeça - Continuamos andando sem presa e em silêncio, até que ele fala de novo:
— Obrigado... Você... Você poupou o trabalho que eu iria dar para os bombeiros, o motorista, os passageiros e até para imprensa.
— Não fale assim, eu sei que você conseguiria com ou sem mim ali. - continuamos caminhando, ele ainda não olhou para mim. O silêncio prevalece e eu o deixo perdido em seus pensamentos
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Seu amor diferente
Short StoryE se você se apaixonasse por alguém que rejeita o amor, porque tem medo que sua doença machuque a outra pessoa? É, eu acabei me apaixonando por um garoto com uma doença. Foi a melhor coisa que fiz na minha vida... Ok, não tinha esse pensamento antes...