Ele

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Estava nervoso, Sam aceitou conversar comigo. Agora não tinha mais volta, eu tinha que ter essa conversa com ela, e aqui estava eu, sentado na sarjeta da sua calçada esperando ela sair. Escuto o barulho do seu portão abrindo e fechando, logo depois sinto ela se aproximar e por fim sentar-se ao meu lado.
Ninguém fala nada por uns 3 minutos, mas eu resolvo quebrar o silêncio:
- Como você está?
- Bem. - Pelo seu tom de voz ela não estava nervosa, parecia até um pouco feliz.
- Hm... Posso me explicar sobre ontem?
- Claro, queira justamente conversar sobre isso com você.
- Então ok, vou começar... Primeiramente me desculpe, eu não deveria ter usado aquela frase e nem aquele tom de voz. Quero que saiba que todas as coisas que vou dizer agora são sinceras porque eu sei que você odeia mentiras... Sam, eu não quero perder nossa amizade mas também não quero que as coisas fiquem estranhas depois de sua confissão. Se você não quiser me perdoar eu vou entender... Vou ficar um pouco mal, mas vou entender... Eu tive uma consulta hoje de manhã e o Dr. Vilela me disse para falar tudo o que estava preso dentro de mim, então eu vou falar, talvez não faça sentido nenhum ou talvez faça todo sentido... Bom, lá vai... Você sabe quando foi que eu comecei a te admirar? - Escuto um som de questionamento vindo dela, mas não paro de falar. - Você com certeza lembra do dia em que estava chovendo e eu subi em um banco e comecei a cantar singin in the rain. - Agora ela deu uma gargalhada. - E lembra o que aconteceu depois?
- Eu te ouvi cantando e não resisti, sai de onde eu estava e fui brincar na chuva com você. - Ela diz isso com uma voz nostálgica.
- E foi tão engraçado a cara que a diretora Marisa fez... Só não foi engraçado a parte em que nos ganhamos uma advertência e ficamos resfriados. Aquele dia eu estava muito frustado com a vida e queria extravasar de algum modo, e você foi a única que não riu de mim e teve coragem o suficiente para aproveitar a chuva sem ter medo de se molhar. A partir daquele dia eu sabia que não poderia deixar de te ter na minha vida, Sam! Você lembra aquele dia em que matamos 2 aulas e ficamos falando sobre como tínhamos vontade de viajar pelo espaço? Você me disse que gostaria de dar um abraço no sol porque ninguém quer chegar perto dele... Eu me sentia esse "sol", Sam. Eu acho que depois que eu te conheci, de verdade, não consigo mais ficar sem você... É como respirar... Tá, é exagero, mas você entrou na minha vida e de alguma forma está consertando as coisas dentro de mim... Por que está chorando? - Ela estava olhando para baixo e chorando baixinho - Sam? Eu disse algo que te magoou?
- Muito pelo contrario Oliver... Você é a melhor pessoa que conheci nessa vida, eu nunca poderia deixar de te perdoar... Você faz toda a diferença no meu dia, você tem um brilho único! Eu gosto muito de você, sei que nosso sentimento não é recíproco, mas eu vou superar, não se preocupe. Não quero perder nossa amizade, você é importante demais para mim! Você é como uma "irmã" que nunca tive, me sinto segura contando meus segredos e inseguranças para você. Você é... apenas você, e isso é incrível!
- Eu acho que só disse isso para meus pais, mas... Eu te amo, Sam. Você faz com que eu me sinta normal.
- Eu também te amo, Oliver. Você me faz sentir especial.
Não nos abraçamos, ela sabia que eu não gostava de abraços, apenas rimos para selar de vez nosso perdão.

*

Depois de 20 minutos de conversa Sam me chamou para entrar e me fez jantar com ela. Depois arrumarmos a cozinha juntos e ficamos falando sobre um novo filme que iria sair. Sam morava em uma casa simples, mas era aconchegante e bem decorada, ela me mostrou os poucos cômodos da casa e por fim seu quarto. Como ela sempre dizia, era o seu "tesouro secreto", o quarto tinha as paredes todas decoradas com folhas de revistas em quadrinhos em preto e branco, tinha uma estante de livros super organizada, uma escrivaninha com um computador antigo e uma luminária toda preta, sua cama era de casal e parecia ser bem macia, seu jogo de cama era de um cinza escuro quase preto, tinha um guarda roupas branco e isso dava um destaque no quarto, tudo ali era uma mistura de preto, branco e cinza. Isso sim era um quarto respeitável!
- Vai ficar aí na porta ou vai vir até aqui deitar comigo?
Ela realmente ficava a vontade comigo, se qualquer pessoa visse poderia nos confundir com um casal. Vou até a cama dela e tiro meus sapatos, sento na ponta da cama e olho para ela, ela sorri pra mim e faz um gesto para eu me deitar ao seu lado, sem pensar muito vou até ela e me deito. Ela apaga a luz por um interruptor que deve ter ao lado de sua cama, sem entender olho para ela e ela diz:
- Naquele dia em que estávamos falando sobre nossa vontade de viajar para o espaço eu comprei o espaço e colei no meu teto...
No mesmo instante eu olho para o teto e entendi o que ela quis dizer, ela comprou um kit de adesivos que brilham no escuro com o tema "espaço", e não havia só estrelas, tinham planetas e até o sol, o modo como ela posicionou todos os adesivos deixou a decoração incrível.
- Uau! Isso é lindo, Sam!
- Toda vez que não consigo dormir eu olho para as estrelas e me imagino pulando de planeta para planeta.
Rimos de sua confissão e ficamos admirando o "espaço"

*

Conversamos mais um pouco, parecia que tínhamos assunto para tudo. Quando era 22h meu pai me ligou dizendo que estava vindo me buscar. Sam me levou até la fora e conheceu meu pai, ele foi gentil com ela. No caminho confessou que achou Sam muito bonita e disse que eu era um rapaz de sorte... Mas ele não sabe o quanto.

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