Ele

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Meus pais se separaram, não sei desde quando eles vem brigando, mas ontem eles chegaram a uma decisão. Meu pai vai embora e minha mãe e eu vamos ter que nos mudar para uma casa menor. Eu estou me sentindo um pouco incompleto, sempre tive essa figura de "mãe e pai" a minha vida inteira, agora que ele está indo embora sinto que uma parte minha também vai com ele. Ouvi minha mãe dizendo que isso poderia me afetar, mas vou provar para eles que eu não vou me deixar cair por conta disso, estou mais preocupado com a minha mãe do que comigo próprio, sei que ela não vai conseguir levar essa separação numa boa. Estou sentado com King debaixo de uma árvore na praça do bairro, está calor e a praça está praticamente vazia, hoje é domingo então todos estão na igreja ou na casa de familiares. Meu pai estava arrumando suas coisas, não aguentei ficar por lá para ver aquilo. Lembro de Sam, e lhe mando uma mensagem de texto, preciso destrair a cabeça. Ela responde 3 minutos depois dizendo que não está em casa, deve estar com seu novo "ficante". Pergunto onde está, nunca se sabe se está por perto, a cidade não é tão grande, ela responde que está na sorveteria do Moura, é a nossa sorveteria favorita e coincidentemente é a 10 quadras daqui. Pego King e vamos andando pela sombra. Chegando perto é impossível não visualizar Samantha de longe, ela simplesmente chama atenção só sendo ela, e como se eu estivesse previsto ela não está sozinha.

Thor!... Ah. Meu. Deus! Que cachorro lindo! - King é mais esperto que muita gente, ele deita aos seus pés e espera carinho. — Como se chama?
— King. - A partir daí ela me ignora totalmente e da toda sua atenção e afeto para o King. Percebo então a presença "dele". — Olá, me chamo Oliver, desculpas aparecer assim do nada.
— Que isso, não estávamos conversando nada de mais. Prazer em finalmente te conhecer, SamSam fala muito sobre você, me chamo André. - SamSam? Mais que tipo de apelido é esse? Ele estende a mão e eu aperto educadamente. — Senta aí cara, toma um sorvete com a gente.
Sam finalmente se lembra que eu estava ali, se senta direito e olha para nós dois.
Desculpas, eu não resisto a um cachorro fofinho, já se apresentaram? - Concordamos com a cabeça. — Ótimo! Estou tão feliz de finalmente vocês se conheceram, vocês são os melhores caras da minha vida. - Ela da uma piscadinha para André. — Então, Thor, não era para você estar na casa de sua avó? Você sempre vai lá aos domingos.
A partir de hoje não irei mais todos os domingos, meus pais se separaram então vai ficar esquisito só minha mãe ou só meu pai indo lá. - Eu disse isso tão tranquilamente que nem me toquei que ninguém sabe da separação, Sam me olhava com espanto.
Seus pais se separaram? Eu sinto muito. Fica aqui, vou te trazer um "consolador".
Ela se levanta e vai até lá no balcão conversar com o Sr. Moura:
Ei cara, eu sei como se sente, meus pais também se separaram ano passado e não foi legal, mas você acaba se acostumando e percebe que talvez seja até melhor, bom, pelo menos na minha casa foi assim. Hoje tenho duas casas e da para fugir de uma quando não se quer ficar por lá.
Gostei do jeito que ele tentou me dar um apoio, o André não é tão ruim assim, sei que Sam fez uma boa escolha.
Valeu cara, vou superar assim como superei um monte de coisas.
Sam volta com uma taça enorme de sorvete, coloca na minha frente, me dá uma colher, afaga meu ombro e diz:
— Só levante dai depois que a taça estiver vazia.
Lembro de ter dito isso a ela na primeira vez que a trouxe para comer o "consolador", dei esse nome porque ele se encaixa no momento, sempre comemos quando queremos nos consolar de algo, a primeira vez que trouxe Sam foi porque ela tinha tirado 3 em uma prova que ela estudou muito. Na segunda vez que viemos ela estava triste com a morte de seu avô, e daí em diante sempre arrumamos alguma desculpa, ou não, para vir aqui tomar um "consolador", Sam nunca conseguiu comer tudo, então eu comia com ela, dessa vez aqui estava eu, tomando um "consolador", coisa que nunca aconteceu.
Sam, começou a contar sobre o encontro que ela é André tiveram ontem, estava quase acabando com o sorvete, mas dei um pouco para King, ele me olhava com olhos de criança pidona. Ficamos mais 1 hora contando histórias e rindo, até na hora que minha mãe veio me buscar dizendo que íamos sair para jantar mais tarde. Sam fez questão de ir se apresentar para minha mãe, que foi simpática com ela. Me despedi de Sam e André, acomodei King no banco de trás e fui embora. Apesar do ocorrido com meus pais estou me sentindo melhor depois do sorvete e de ter passado um tempo com Sam e André.

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Nos acabamos indo jantar no shopping, minha mãe sabe que eu odeio shoppings por conta do barulho, das luzes, do cheiros e de pessoas esbarrando umas nas outras. Fiz um grande esforço para não parecer incomodado, estava tentando ao máximo deixar ela aproveitar um pouco, ela parece infeliz. Decidimos juntos comer uma pizza fresca, eu e ela não curtimos muito fast food. Ela começa um diálogo comigo sobre trivialidades, respondo e continuo a conversa também com trivialidades. Ela me pergunta sobre namoradas e eu acabo contando sobre Sam, simplesmente sai, ela se interessa pois conheceu Sam hoje e perguntou no caminho quem era aquele rapaz, que no caso era André. Eu contei para ela sobre aquele dia que tive um ataque de ansiedade no banheiro, e ela me disse que eu deveria ter contado antes.
Você sente algo por ela meu filho?
— Não mãe, ela só é minha melhor amiga, fiquei frustado porque eu não sentia o mesmo.
— E você queria sentir?
Nunca parei para pensar sobre isso.
Eu... Eu não sei, talvez.
— Você talvez goste dela mas ainda não percebeu.
A pizza chega e ela continua a conversar trivialidades.
O que ela disse fica na minha cabeça o resto da noite. Será que eu gosto da Sam e não percebi isso?

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⏰ Última atualização: Jan 26, 2018 ⏰

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