Ele

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"Oliver, eu sou apaixonada por você...".

Essa frase não sai da minha cabeça. Não consigo pensar! Estou escondido numa cabine do banheiro masculino e nao vou sair daqui até que consiga colocar minha cabeça no lugar. Nunca imaginei que Sam poderia estar nutrindo esse tipo de sentimento por mim, e se ela estivesse dado sinais eu também não conseguiria entender... Por que eu tive que nascer com essa doença? Sempre penso que se eu morrer será melhor para todo mundo! Assim não estarei mais aqui para ferir o sentimento das pessoas, afinal, para que serve um autista? Nascemos e damos trabalho, crescemos dando trabalho, trabalhar é um problema, se relacionar é péssimo quando não encontramos alguém que tenha a paciência de cuidar de alguém com essa maldita doença. Não há nada de bom em ter autismo! Agora imagina só ter também depressão, ansiedade e ataque de pânico... Não consigo olhar para uma pessoa por mais de 8 segundos, não consigo conversar com uma garota que gosto sem ter uma crise de ansiedade, terei que tomar remédios minha vida inteira, não vou ter filhos porque me recuso a colocar mais um ser humano defeituoso no mundo, acho que nunca vou amar alguém de verdade... Eu sempre estrago tudo e tudo de errado que acontece é culpa minha. E se eu morrer? Vão colocar a culpa em mim por deixar "dor e saudades"...

"Oliver, eu sou apaixonada por você..."

Poderia ser qualquer pessoa, mas por que você Samanta? É a única pessoa que conheci que faz com que eu me sinta "livre", sua presença faz com que eu esqueça que sou doente... Não vou te magoar mais do que te magoei! Eu...Eu só queria ser normal.
Resolvo ligar para minha mãe vir me buscar, só saio daqui quando ela chegar. Não vou conseguir olhar para Sam...
*
Depois de 40 minutos minha mãe chega, escuto a voz dela me chamando então resolvo abrir a porta:

-Oliver! O que aconteceu meu filho? Fiquei muito preocupada, você não explicou o que aconteceu quando ligou... você está bem? Alguém fez algo para você?

Não respondi nenhuma de suas perguntas, apenas à abracei e chorei. Chorei por tudo e por todos, e ainda mais por mim. Eu nunca fui de chorar, eu apenas durmo para não chorar, mas hoje eu chorei, chorei para compensar todo esse tempo sem chorar.

*

São 18:56h, eu estou me sentindo péssimo, depois que minha mãe me trouxe para casa eu me deitei no sofá da sala de estar e dormi, não conversei nada com minha mãe e talvez nem converse, apenas sobre o ocorrido no coletivo hoje de manhã. Repasso todo o meu dia na minha mente, principalmente a conversa com Sam. Fico 30 minutos olhando para o porta retratos de meus pais que está na mesa de centro, então pego meu celular e mando uma mensagem para Sam, pedindo desculpas pelo jeito que falei com ela, mas ela apenas visualiza... Isso dói. Preciso encontrar um jeito de consertar as coisas e provar para todos que eu não sei apenas estragar as coisas!

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