Capítulo 2

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   A casa de minha vó é bem antiga, mas a nova camada de pintura ajudou bastante na imagem. Faz um mês que ela se foi e às vezes não acredito que isso realmente aconteceu, ainda está muito fresco em minha memória. No seu túmulo, coloquei dois buquês de flores antes de ir viajar, uma com dálias e a outra com tulipas. São duas de suas flores favoritas, são tão lindas e vibrantes que trazem uma sensação boa ao olhá-las. Um dos momentos mais tristes foi a despedida e o receio de que não pudesse me ouvir, a tristeza de não ter me despedido antes ainda corrói meu peito.

   A imagem do caixão descendo suavemente e logo após a terra úmida o cobrindo foi aterrorizante. Acredito que esta terrível parte estará para sempre presa em minha memória.

   Alice tentou não chorar o enterro inteiro, mas assim que cobriram o caixão, desabou em lágrimas. É horrível vê-la daquele jeito, realmente não queria que tivesse que passar por aquilo, mas não é do meu controle decidir algo. Sei que não deveria estar em Nova Orleans agora, isso significa que a deixei sozinha. Sei também que há ainda minha mãe, mas estará no trabalho a maior parte do tempo.

   Antes de ir, minha mãe e eu tivemos uma conversa. Disse à ela sobre levar Alice ao médico e tentar ajudá-la a enfrentar essa situação.

   As coisas não são mais como eram, todas nós mudamos. Rose, minha mãe, age como se nada tivesse acontecido, sempre mudando de assunto e evitando o máximo conversar, mas sei que está sofrendo tanto quanto suas filhas. Já Alice, não tenho muito o que falar, se antes não estava bem, agora está ainda pior.

   Eu, por outro lado, não sei explicar direito. Ainda sinto aquele vazio de um mês atrás, ele ainda permanece e não faço ideia de como arrancá-lo de mim. É como se agora fizesse parte do meu corpo.

   Tive que convencer minha mãe sobre a viagem, só assim para ela deixar eu fazer alguma coisa. Disse à ela que tomaria conta da enorme casa até que conseguimos vendê-la, não foi suficiente para aceitar na hora, mas com custo, cedeu. Realmente não era um boa ideia essa viagem repentina, até porque não estou em boa condição de fazer isso. Era para eu estar arrumando um emprego.

   Talvez eu esteja maluca. Okay, eu sou maluca. Estou perdendo meu tempo por causa de uma historinha que me deixou confusa, chega até ser engraçado. Não acredito que realmente passou pela minha cabeça que poderia haver uma porta secreta, um baú secreto, cartas e caixas misteriosas.

   Ao olhar a casa, milhões de sentimentos surgem, mas estou mais forte agora. O suficiente para enfrentar tudo o que está por vir. O jardim está bem descuidado devido o tempo que minha avó ficou fora, mais ou menos cinco meses desde que fora internada. A relva é alta e vou ter que pedir ajuda para arrumar tudo aqui fora, nunca fui boa com jardins.

   Assim que giro a chave da porta e abro, fico impressionada com a organização que Eva mantinha. Já estive aqui antes, mas foi há muito tempo e quase não lembro direito. Olhando agora, parece tudo muito diferente e a casa parece irreconhecível, como se eu nunca a tivesse visto. Os móveis foram trocados por outros mais modernos e outros nem tanto, apesar da poeira por todos os lados, a mobília está em perfeitas condições.

   Logo na entrada é possível ver a escada para o andar de cima, ao lado direito há uma passagem para a sala de estar que está perfeitamente organizada, com um par de sofás antigos, uma mesa de centro, lareira e televisão, fora os objetos de decoração espalhados pelo cômodo. Ao outro lado está a cozinha junto com a mesa de jantar, que é grande o bastante para uma enorme refeição. Os móveis da cozinha são mais modernos do que os da sala, mas a combinação é deslumbrante, fora o destaque que a mesa dá ao ambiente. Não imaginava que minha vó gostava desse estilo de decoração. Vendo por este lado, até eu gostei daqui.

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