A Bruxa

Capítulo 15

•Casa de Eva Cooper, algumas horas antes•

"Emily?"

Louise a chamou ao descer as escadas. Descia sorridente de orelha a orelha por causa de um comentário engraçado e bobo sobre patos que Elisa contou. Conseguia ouvir as risadas distantes vindas do quarto, era da menina gordinha e fofa que esquecera o nome, estava na dúvida se era Madu ou Manu, mas logo deixou de lado, possivelmente mais tarde —ou algum dia— lembraria. Sem duvida o motivo das gargalhadas é Elisa com suas frases sem sentido e aleatórias, pensou.

   Parou em frente a sala, mas não viu a garota. Não é motivo para se preocupar, disse a si mesma. Poderia até ter perdido o tempo conversando com as meninas e esquecido completamente de Emily, mas em sua cabeça nada teria acontecido. Pensou, então, que se algo aconteceu ali embaixo ela certamente ouviria, mas nem sequer ouviu a campainha tocar. Enfim imaginou os lugares onde a moça poderia estar: o jardim, por exemplo. Concordando com seu próprio pensamento, caminhou até a porta e parou imediatamente quando a encontrou escancarada.

   Bom, ela pode ter esquecido de fechar, repetiu essa mesma ideia diversas vezes em sua mente, tentando ignorar as vozes sussurrando constantemente em sua cabeça. Era impossível ignorar as frases negativas e todas as situações ruins possíveis, mas sabia o motivo disso. Não diria seu interior, mas uma grande parte dentro de si não acredita em coincidências e foi isso que a levou até o lado de fora da casa. Mesmo dizendo o contrário, viu aquilo que interiormente já esperava: nada.

   Olhou ao seu redor com as mãos sobre os curtos cabelos ruivos enquanto sentia seu coração acelerar cada vez mais rápido. Sabia que aquilo não adiantaria, seja onde for que a tenham levado, por ali perto é que não seria, óbvio que não.

   Correu de volta para a casa com passos rápidos e longos, suas pernas não eram grandes e nem mesmo ela era alta, mas conseguiu ser mais rápida do que imaginava. Só diminuiu ao chegar na escada, respirando fundo e se ajeitando começou a subi-la. Tinha que parecer calma e do jeito que estava antes disso tudo, assim não levantaria grandes suspeitas —mesmo sabendo que as meninas nunca suspeitariam de uma coisa tão absurda.

   Passou pelas garotas que ainda estavam conversando no quarto onde Elisa está hospedada e entrou no antigo quarto de Eva. Mesmo sem querer, as lembranças e memórias surgiriam ainda assim. Não tem como escapar do passado, ele sempre está ali para te atormentar, pensou nas palavras que Eva havia dito e agora faziam ainda mais sentido. Incontrolavelmente, sabendo que aquilo trazia mais memórias ruins, caminhou lentamente até a janela. Era como se a chamasse de alguma forma inexplicável, como se fosse atraída de algum jeito e sabia exatamente o que encontraria lá.

   Morar dentro de sua casa era um verdadeiro horror para Louise, mas não podia deixá-la de forma alguma. Por anos tentou —e conseguiu— se desligar daquilo tudo, mesmo que custasse uma parte de si mesma, mas pagou pelo preço. Toda magia tem seu preço, uma vez disse sua mãe. Porém, ela não estava em casa, estava na casa de Eva.

   A luz do sol matinal batia sobre o seu rosto a deixando com os olhos estreitos e mais branca que o habitual, sem contar que os cabelos ficavam ainda mais alaranjados e brilhosos. A vista era bem ampla e fazia tempo que não a avistava daquela forma, podia ver todo o lado esquerdo de sua casa e um pouco do quintal mal cuidado, mas não era aquilo que estava procurando. A princípio não havia nada além de janelas escuras como olhos vazios e cortinas abertas e outras fechadas, mas subitamente lá estava ela. Louise a encontraria até mesmo no escuro ainda que fosse impossível por causa de seu problema de vista. A mulher apareceu num piscar de olhos na janela de sua sala, não era nítida mas conseguia ver sua silhueta mesmo estando borrada. Mais parecia um borrão preto do que uma pessoa, não dava para ver o rosto e nem as roupas, mas Louise completou sua imagem mentalmente.