Capítulo 4

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   Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento e os flashes da noite de ontem não saem da minha mente. Ainda não consigo me lembrar do quanto bebi, mas já não importa mais, não vai fazer diferença. Consigo lembrar claramente de Luke e dos seus beijos, aquilo foi bem inesperado e acredito que fora o calor do momento ou porque estávamos bêbados demais, mas não nego que gostei.

   É melhor deixar para lá o que aconteceu ontem e voltar para a situação atual dessa casa. Preciso limpar logo toda essa poeira e também preciso descobrir onde vou sumir com todos aqueles arquivos escondidos. Como eu poderia explicar aquilo para alguém? Acho que eu deveria queimar tudo de uma vez, assim ninguém irá saber o que tinha lá. Será que faria algum mal eu fazer isso? São tão antigos e parecem tão importantes, mas se não queimá-los o que irei fazer? Não posso simplesmente jogar fora, tenho que sumir. Tenho certeza de que não ficarei com tudo aquilo, talvez com o diário de minha vó, mas todos aqueles registros não são valiosos para mim, não vão fazer nenhuma diferença sem eles.

   Não pretendo sumi-los ainda, primeiro quero lê-los antes de fazer qualquer coisa. Talvez há algo que ainda não vi que possa ser importante, sei lá, mas quero ler. Assim que eu terminar de limpar toda a bagunça da sala e separar os pertences de Eva, vou revirar aquelas caixas. Há muitas ainda que não mexi.

   Ah, e também tenho que comprar uma placa de venda. Estou pensando em anunciar pela internet, como não conheço nada por aqui acho que será mais fácil assim.

   Minha mãe já me ligou umas dez vezes, até me implorou para não ficar em Nova Orleans e aposto que o motivo das ligações é para me fazer voltar, mas se eu não tomar conta desta casa, quem irá tomar? Não posso deixar que um desconhecido veja o que tem dentro do armário. Acho que está com medo de eu descobrir os segredos que escondeu de mim esse tempo todo, mas já não é mais segredo e sei mais do que ela imagina. Parece maluco e estranho, mas porque não contar tudo de uma vez? É horrível descobrir um segredo e ainda mais do jeito que descobri. Só de pensar que foram quase dezoito anos sem saber que minha família era caçadores, já me confunde sobre todo o resto. Quem me garante que não há mais segredos e mentiras, que já descobri tudo o que tinha de descobrir? Não consigo mais confiar em nada...

   Uma de suas ligações me fez pensar se ela sabia sobre o quarto secreto, mas acho que não. Se soubesse não deixaria qualquer um entrar na casa e fuçar, ou será que sabia e não queria que eu descobrisse? Sei lá, pode ser qualquer coisa.

   Outro assunto que me preocupa e que não é menos importante, é a faculdade. Já terminei o terceiro ano, mas um pouquinho depois de entrar na faculdade, saí. Tenho que resolver logo e não posso ficar sem estudar, ainda penso sobre o que minha mãe me disse, não posso continuar assim. Resolvi sair quando a situação de saúde de minha avó começou a piorar e eu não podia ficar tanto tempo com ela por causa dos estudos, então tive que escolher. Não conseguia estudar sabendo que minha avó estava sozinha naquele hospital assustador, minha mãe não podia ficar por muito tempo por causa do trabalho e minha irmã estudava, então eu saí para poder fazer companhia à ela. Não me arrependo nem um pouco de minha escolha, cada segundo que passei ao seu lado valeu a pena. Quando descobriu o que eu tinha feito, quase me matou com seus sermões, mas nada me faria mudar de ideia naquela altura.

   Sinto tanta falta dela que até dói. Quando separei suas roupas, senti seu cheiro e foi como se ela ainda estivesse ali, junto à mim. Foi maravilhoso e doloroso ao mesmo tempo, uma grande mistura de sentimentos...

   Quando eu era pequena ela adorava segurar minhas mãos e contar histórias, era ótima com isso. Amava ouvi-la e o melhor de tudo era que sempre tinha histórias novas, mas as do parque eram as mais emocionantes. Sinto muita falta disso.

A BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora