Abri a porta do quarto tão lentamente que mal podia notar, mas ainda assim por causa da ferrugem e velhice, o ranger da porta foi alto. Fiz uma careta enquanto cruzava os dedos, torcendo para que as meninas não acordassem e depois de alguns segundos, tive a total certeza de que não acordaram.
Quer dizer, eu realmente não sabia se estavam dormindo de verdade. Bom, a Elisa com certeza estava apagada, mas vi Manu acordada agora pouco... De qualquer forma, não escutei nenhum barulho vindo dos quartos e caso aparecessem, naturalmente eu diria que estava ainda à cozinha.
Meu corpo todo tremia de nervosismo da cabeça aos pés. É inacreditável e ao mesmo tempo assustador que eu tenha visto um vulto exatamente às duas horas em ponto. No mesmo horário em que Louise havia dito para encontrá-la em sua casa.
Desci as escadas também na velocidade da porta, tanto que só agora notei o quanto a madeira era velha. Assim que pisei do lado de fora da casa, respirei aliviada. Parecia até que a minha própria respiração fosse barulhenta demais. Até então, por causa do medo de ser vista pelas meninas, meu outro medo —que era bem pior— que receava do que poderia encontrar na casa de Louise, se amenizou. Mas agora ao ver ela frente a frente, todo o meu corpo tremia. Não consegui decifrar o porquê do meu medo. Talvez fosse aquele vulto ou o sentimento estranho que senti ou até mesmo os dois juntos.
Caminhei por poucos metros pela calçada, sentindo o frio pelos meus braços finos e meu rosto estremecer. E só então entendi que o motivo disso era que eu ainda estava de pijama —que era uma camisola bem fina. Bati na porta de madeira escura, esperando ansiosamente que Louise atendesse e me tirasse daquele maldito frio.
"Finalmente!" Disse, "Entre!" Estranhei sua empolgação, mas entrei mesmo assim. Fazia muito frio lá fora.
Só então Louise me olhou estranho de cima a baixo. Senti que ia dizer alguma coisa sobre minha roupa, mas felizmente não disse nada.
Estava tão quentinho lá dentro que com certeza eu me sentiria mais à vontade se não fosse pelos objetos bizarros no cômodo. Até aquele momento, pensava que apenas a casa de minha vó era um pouco grotesca, mas aquela ali era impressionante. Ao percorrer os olhos à minha volta, observei as coisas que mais me chamavam a atenção. Ao meu lado esquerdo tinha a sala de estar totalmente mantida como em outra época, para ser mais específica, francesa —o que não era de se surpreender já que a casa era francesa. Havia um par de sofás vintage de madeira com um tecido marrom muito bonito, em frente, tinha a lareira acesa e percebi que ela estaria me esperando já fazia tempo! Tinha algumas plantas em alguns vazos pela sala, mas não foi isso que me chamou atenção... As paredes eram cobertas dos mais variados quadros de gatos, alguns extremamente fofos, mas outros extremamente aterrorizantes. E o mais estranho é que todos eram pretos.
Acho que esse meu incômodo em relação a casa não é anormal ou mal educado, afinal... Quem enche a parede inteira de quadros de gatos!?
Após observar mais um pouco, notei que em vários lugares onde poderiam apoiar objetos mais pequenos, como a mesinha de centro e a outra onde deveria colocar o abajur, tinham diversos tipos de pedras, muitas velas —inclusive em toda a volta da sala, certamente era o que ela usava para iluminar o ambiente— e uma quantidade exacerbada de livros, dos mais diferentes tamanhos e grossuras. Sem contar que há uma mesa logo no corredor atrás dos sofás onde se encontra um livro aberto e incensos.
Ela é uma bruxa? Não consegui pensar em outra alternativa.
"Assustada com alguma coisa?" Estremeci com a voz de Louise. Sim, eu estava extremamente assustada. Nunca em toda a minha vida eu tinha entrado em um lugar como aquele... Mas tudo o que eu disse foi: "Um pouco..." Bom, não era exatamente uma mentira.
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A Bruxa
FanfictionSegredos que agora foram revelados, atormentam a mente da jovem Emily. Algumas últimas palavras de um ente querido que mudaram sua vida completamente, torna tudo ainda mais difícil. Por mais que o mundo, aos olhos dela, tenha se mostrado ainda mais...