Capítulo 3: ​Estou perdida.

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Holly

Não sei de onde surgiu aquela mão em meu ombro, para falar a verdade, essa mão me irritava, me deixava mais nervosa do que eu já estava, me mostrava que eu estava precisando de ajuda.

Porém, quando saí de Boston há cerca de quatro horas, eu não esperava precisar de ajuda, e sim ajudar a única pessoa a qual não quis oferecer meu auxílio quando precisou.

Era tarde de mais.

O apito do trem me mostrava quão distante ele já estava. Eu precisava sair daqui. Eu tinha que chegar antes da meia-noite na Filadélfia. Empurrei aquela mão pesada que tentava me consolar e me levantei, limpando as lágrimas que caiam sem parar.

—Vai se foder, idiota, me deixe em paz. — falei sem pensar, porém, quando me virei, percebi que era alguém que já tinha visto. Os olhos do violinista estavam carregados de preocupação, ele queria me ajudar. Mas eu não queria. Seus olhos esmeraldas mostravam muita pureza para se envolver na merda que estava à minha volta.

Não o sujaria justo em uma noite de Natal.

Já bastava eu na escuridão.

Por mais que minha vontade fosse continuar encarando aquele cara com as bochechas mais coradas que já vi, eu desviei meu olhar para a escada e caminhei sem falar uma palavra, tinha que voltar ao guichê. Era a minha única opção.

— Espere! — Com uma voz alta e marcante, o estranho me seguiu, subindo as escadas na mesma velocidade que eu. Não respondi, apenas caminhei. — Por favor, eu vi o assaltante.

Droga!

Uma ira surgiu de dentro de mim e, como se ele fosse o culpado de tudo isso, eu me virei para ele ainda caminhando.

— Se viu por que não pegou minha bolsa? — disse em um momento de raiva, fechando meus olhos por um instante e desejando arduamente que essa noite fosse riscada da minha vida.

— Eu tentei. — Seu rosto mostrava desgosto. — Mas não consegui alcançá-lo.

Inferno! Por que esse idiota-bonitão aparenta ser tão doce?

Revirei meus olhos e soltei uma longa lufada de ar. Não posso achar alguém legal a essa hora. Eu tinha que ser legal comigo mesma, o bastante para conseguir chegar na Filadélfia antes da meia-noite. Continuei caminhando e percebi que meu seguidor estava convicto de que aquilo era o certo a fazer.

Sem dar a mínima para o rapaz, eu cheguei ao guichê e a mesma atendente estava lá, sorrindo despreocupadamente.

Projeto de ciborgue, mentalizei, mas minha vontade era dizer em voz alta.

— Feliz Natal, em que posso ajudar?

Raiva, era isso que sentia quando escutava essa palavra: Natal. Se não fosse por ela, eu estaria feliz com minha avó. Como pude ser tão burra?

— Foda-se o Natal, eu preciso resolver meu problema.

— Em que posso ajudar? — a moça perguntou calmamente.

— Perdi meu trem, quer dizer, se isso aqui tivesse mais segurança, não teria perdido, um bandido levou minha bolsa, justo na hora em que eu estava entrando no trem.

De alguma forma, minha voz estava chorosa e isso era mais uma coisa que eu odiava em mim. Eu não era mais a garota mimada que falava dessa forma o mundo apressava-se para ajudar. Agora, eu só dependia da minha própria ajuda.

— Senhorita, vou comunicar à polícia, eles podem ajuda-la.

— Não... — gritei e, quando percebi que fiz isso, me encolhi, tentando falar o mais baixo que podia, policiais agora só piorariam a situação e, a uma hora dessas, era bem capaz de eles estarem à minha procura também.

Enquanto a neve cai. (Degustação) Onde histórias criam vida. Descubra agora