Marvel
— Pronto, já tomei o café.
A garota dos olhos mais ariscos que já vi, colocou a sua xícara na mesa e se levantou apressada, ela não tirou seus olhos do meu punho que carregava meus cordões de couro, eu sei que ela queria saber o que significava aquilo, porém, como ela estava sendo misteriosa comigo, achei justo ser com ela também.
Não era uma característica minha fazer mistério, por eu ser solitário, aproveitava os momentos que não estava só e, por isso, falava muito. No entanto, percebi que Holly gostava de descobrir as coisas, e eu entraria em seu jogo.
— Não quer comer algo? Você pode me contar por que está fugindo? — Ela nega, batendo sua mão na mesa.
— Eu não estou fugindo.
— Então por que não quer os policiais?
Holly examinou o ambiente para ver se estávamos chamando atenção. Sua sorte era que a estação estava completamente vazia, e nós éramos os únicos clientes na cafeteria
— Eu não preciso de policiais, — mais uma vez, ela examina o local — você já teve o que queria de mim, agora, vamos, você me deve um táxi.
— Acho que quem está me devendo aqui é você. — Forcei meu olhar sério, mas eu sabia que ele não parecia ser tão sério assim. Nunca dava certo.
Não tinha tido nada dela, ela não tinha me dado nada, além de alguns sórdidos sorrisos e olhares arredios. Porém, eu estava satisfeito com toda essa loucura, era um começo de Natal diferente dos últimos que me lembro, nesses muitos anos em que vivo em Nova York. Concordei, tinha prometido isso a ela, mas também queria que ela ficasse mais um pouco comigo. Estava curtindo essa sua maneira rebelde de ser.
Essa noite eu estava só e, do nada, apareceu uma garota que parecia ser legal, mas estava se fazendo de durona.
— Tudo bem! — Levantei da mesa, indo em direção à saída da estação.
Encarei-a quando ela colocou sua touca que escondeu um pouco seu cabelo comprido. Ela era linda. E eu notei que ela poderia ser qualquer coisa, fugitiva, sereia, até mesmo uma Serial Killer, mas nada disso tinha importância agora, ao ver aquela garota me olhar daquela forma, eu aceitaria tudo dela.
Holly passou por mim sorrindo, sabendo que eu estava hipnotizado por sua beleza, sem saber por que, mas, ainda hipnotizado, eu a segui em silêncio até fora da estação.
O vento estava forte, e eu agradeci por ter trazido luvas e gorro, peguei ambos do meu bolso e quando estava prestes a colocar minhas luvas, vi que Holly massageava suas mãos.
— Cadê suas luvas? — Ela olhou para suas mãos como se estivesse as procurando também.
— Se foram com minha bolsa. — Não pensei e ofereci as minhas, ela precisava delas mais do que eu.
— Tome. — Eu ofereci sem pensar, ela olhou para o par e depois para mim.
— Não, e você? — Sorri, percebendo que ela poderia ser durona, mas havia um coração bem grande por trás de seu escudo.
— Eu me viro, tenho bolsos.
Holly pegou e, mais uma vez, seus dedos tocaram nos meus, fazendo com que as luzes natalinas da rua brilhassem mais ainda sobre meus olhos.
Era eletrizante o toque dela.
— Como vai fazer para me ajudar? — Eu enfiei uma de minhas mãos no bolso e retirei minha carteira.
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Enquanto a neve cai. (Degustação)
Novela JuvenilEnquanto a neve cai Tudo o que Holly tinha que fazer era fugir, sim ela ainda era um adolescente para pensar dessa forma, mas sua realidade estava tão dura que ela não via outra forma a não ser fugir. Fugir do seu passado. Fugir da sua maldita vida...