James costumava ter o sono pesado. No início, quando chegou ali, fora difícil se adaptar aos barulhos incessantes da rua movimentada vinte e quatro horas por dia; ao sino da escola que tocava na quadra ao lado indicando entradas, saídas e intervalos; aos aviões que sobrevoavam o prédio deixando a impressão sonora de que estavam tão baixos; à obra do outro lado da rua que parecia não parar nem por um instante e que nunca parecia perto de estar pronta. Agora que se sentia em casa, tudo aquilo parecia familiar. Sua mente e seu corpo estavam em sintonia com o lugar que escolhera para chamar de casa, e dormir com aqueles sons passava uma sensação indescritível de segurança. Ele não se incomodava mais. Mas aquele som, o que se fez presente naquela madrugada especialmente silenciosa, fez com que ele acordasse antes mesmo da mulher ao seu lado, que demorou alguns instantes para perceber o que estava acontecendo.
– Você não me disse que tinha um telefone – foi o que ele murmurou ao se apoiar nos cotovelos e tentar identificar onde estava o aparelho que agora ecoava por todo o apartamento.
– Eu tenho – sussurrou preguiçosa, mas então se sentou com pressa ao se dar conta do que estava acontecendo – Eu tenho um telefone – repetiu.
Ele se jogou de volta no travesseiro enquanto a garota ia até a sala de estar atender quem quer que estivesse ligando aquela hora. Ficou apreensivo no início, mas a calmaria sempre presente na voz da namorada não se abalou uma vez sequer, fazendo com que sua preocupação se transformasse em genuína curiosidade. Àquele ponto, ele já frequentava mais aquele apartamento do que o seu próprio, do outro lado do corredor, e aquele telefone fixo não havia tocado nenhuma vez ou ele se lembraria da existência de um.
Não se deu conta de que a mulher estava de volta ao quarto até que ela o chamou, apoiada no batente da porta. – Buck? – sua expressão estava pensativa, mas àquela altura ele já sabia dizer quando ela já havia tomado uma decisão – É o meu irmão.
– Ele...? – começou a perguntar, embora nunca tenha encontrado coragem para completar a pergunta que se formou em sua cabeça no instante em que ela proferiu aquelas palavras.
– Piorou. Deram uma semana a ele – suspirou, coçando a cabeça de forma inquieta e ficando na ponta dos pés para alcançar algo em cima do guarda-roupa.
– Você está indo – não era uma pergunta. Ela não precisou responder quando conseguiu alcançar a mochila vazia e a colocou no chão – Ei – ele chamou –, vem cá.
Ela voltou para cama se aconchegando no abraço dele. Não disse nada, provavelmente nem conseguiria. O fato era que esteve se preparando para aquilo por muito tempo, mas estava tão feliz ultimamente que não esperava que o momento fosse chegar tão repentinamente.
– Você quer que eu vá com você? – Bucky perguntou enquanto acariciava a bochecha e a cintura dela, cada qual com uma mão.
– Só vai levar alguns dias – sentou-se de frente para ele, levando uma das mãos ao rosto do namorado que a encarava de forma preocupada – E não é como se você passasse num detector de metais tão fácil – deixou uma das mãos passear pelo braço metálico dele enquanto ele ria, se inclinando para deixar um beijo em seus lábios.
– Me diga o que posso fazer – ele pediu quando ela engatinhou novamente para fora da cama e começou a abrir as portas e gavetas do armário. Queria dizer o quão bem ela ficava usando as roupas dele, mas não achou apropriado. Tinha um péssimo timing, era verdade, e tomou notas mentais daquilo para dizer a ela mais tarde. Eles teriam todo tempo do mundo afinal. – Nadia, se você não falar comigo eu vou ficar preocupado.
Ela abotoou a calça jeans que vestia e olhou para ele com uma ruga entre as sobrancelhas e uma expressão divertida. Aquela fala era dela, ela diria em circunstâncias normais. Terminou de jogar de qualquer jeito as peças de roupa na mochila e a fechou, se aproximando mais uma vez da cama que dividia com o primeiro homem que conseguiu despertar nela a vontade de jogar as responsabilidades para o alto e voltar para a cama, para ele.
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Wires
FanfictionAntes da queda da SHIELD em DC, o Soldado Invernal era considerado um fantasma. E depois de tudo que tinha acontecido, ele havia voltado a ser um. As pessoas sequer tinham certeza de que ele existia de fato. E Nadia tinha muitos fantasmas em sua vid...