03. You Should Know Where I'm Coming From

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Apesar de ser uma cozinheira de mão cheia e de gostar de estar na cozinha sempre que possível, o emprego dos sonhos de Nadia não envolvia uma cozinha.

Infelizmente, era essa a realidade.

Bucareste era uma cidade grande, afinal, era a capital. E apesar de crises recentes, era um lugar estável para se viver. O problema da garota era que ela odiava se ver numa vida onde passava de oito a doze horas diárias fazendo algo por obrigação para chegar em casa cansada, dormir e repetir tudo no dia seguinte, e existia um número pequeno de empregos de meio-período que não fossem ocupados por jovens estudantes que tinham apenas aquela opção. Sua qualificação, então, a havia levado direto para aquele simpático restaurante executivo que funcionava apenas das 11h às 15h, o que fazia com que ela trabalhasse apenas das 9h às 16h. Não era ideal transformar seu único hobby em algo profissional, mas ela gostava de ter tempo para si, chegar em casa antes do pôr do sol e evitar todos os horários de pico.

Naquela sexta-feira, porém, não pôde evitar a movimentação na volta pra casa. Havia topado um happy hour com os colegas de trabalho depois do expediente e acabado do outro lado da cidade na melhor steak house local. Ela normalmente preferia o bonde ao metrô para fazer seu caminho diário — odiava se sentir sufocada no subterrâneo e não tinha boas memórias de lugares como aquele; além do mais, se sentia indefesa lá: vulnerável e suscetível a qualquer tipo de emboscada que pudesse ser pensada. Paranóica, era essa a definição que usariam caso ela dissesse aquilo em voz alta, mas ninguém havia vivido suas experiências além dela. Além dela e... bem.

Sentiu-se culpada por volta das 18h, quando se lembrou que tinha uma embalagem com comida na bolsa, já que tinha prometido levar um pouco da do restaurante para James, e depois de pagar sua parte da conta, não teve muita opção senão pegar o metrô para casa.

Fez o caminho para casa rezando para a única deusa que acreditava além de Thor, tendo flashes horríveis de momentos ruins vividos em espaços subterrâneos cada vez que as portas do trem se abriam em mais uma estação que não era a dela. Só queria chegar em casa logo e jurou nunca mais considerar o metrô uma opção viável, independente de quanto tempo ela demorasse no trânsito ou do quão cheio o bonde estaria. Respirou aliviada ao sair da estação que ficava na rua de baixo de casa, e murmurou um "obrigada" sutil, caso sua segurança algo tivesse a ver com suas preces.

Já podia ver o prédio antigo do ponto onde estava, e seu alívio muito tinha a ver com sua certeza absoluta de que estava em segurança agora e que nada de ruim poderia lhe acontecer. O pior já havia passado, pensou.

Não sabia se era o álcool no sistema ou se simplesmente estava com muita pressa para chegar em casa, mas assim que subiu o último lance de escadas e se deparou com o sétimo andar, se sentiu morta. Estava tonta, ofegante e muitíssimo necessitada de um copo de água, por isso deu uma breve olhada na direção do 703 se desculpando internamente por atrasar a comida um pouco mais; precisava passar em casa antes de qualquer tipo de interação humana. Franziu as sobrancelhas, porém, ao notar que a porta em questão estava entreaberta.

Na melhor das hipóteses, James havia saído e esquecido de trancar a porta, e o vento a havia empurrado. Na pior delas, ele havia sido levado e ela seria a próxima. Talvez estivessem esperando por ela em sua sala de estar agora mesmo.

Congelou no lugar. Muita informação passava em sua mente ao mesmo tempo e ela se obrigou a focar. Odiava estar tão paranóica desde a chegada de James, mas como não estaria? Então pensou em todas as possibilidades de ação a partir daquele momento. E se ela fosse para casa e eles estivessem lá? Mas, por outro lado, e se eles soubessem que ela iria pensar aquilo e recuar e já estivessem na entrada do prédio esperando-a sair? Olhou mais uma vez na direção do 703 e pensou em ir até lá só pra checar. Mas e se estivesse sendo previsível ao fazer aquilo e fosse exatamente o que eles esperavam que ela fizesse?

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