02. Who Lives, Who Dies, Who Tells Your Story

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Fazia duas noites que Nadia não dormia.

Não era como se estivesse se sentindo cansada, todavia. Reorganizou todos os móveis e rearranjou toda a decoração da casa na primeira noite, e repetiu incansáveis séries de exercícios físicos na segunda. Não parecia como alguém que não tinha pregado os olhos à noite quando chegava no trabalho no dia seguinte; não se sentia como alguém que tinha chegado perto de seu ponto máximo de exaustão sem sentir os olhos pesarem nem mesmo um pouquinho. Mas lá estava ela, indo para a terceira noite de insônia e sem ideias do que faria para ocupar seu tempo.

Já havia dançado às músicas mais animadas de sua playlist usando apenas moletom, calcinha e fones de ouvido; já havia ficado entediada de jogar dardos sozinha; já estava pensando em ficar apenas encarando o teto enquanto o dia não amanhecia e ela podia recomeçar sua rotina diária, mas pensou que bem, ela sabia muito bem se defender caso o pior acontecesse e dar uma volta pela rua parecia ser uma boa ideia.

Colocou uma calça de moletom, uma jaqueta por cima da blusa de mangas compridas e esperou que aquilo fosse suficiente para protegê-la do frio do começo de fevereiro. Pegou o maço de cigarros, o isqueiro, a chave e algum trocado por precaução. Na saída, ainda se esticou para pegar a touca que estava pendurada no cabide de casacos e abriu a porta equilibrando os objetos na mão que não estava ocupada pela maçaneta. Encarou o relógio da sala uma última vez antes de fechar a porta atrás de si. 4h33. Talvez algo nas ruas geladas de Bucareste fosse mais interessantes do que as quatro paredes de seu apartamento.

A expectativa fez com que ela tentasse fazer tudo de uma única vez — colocar a touca, equilibrar as coisas em uma única mão e tentar agarrar a chave com o mindinho para trancar a porta da frente. O resultado não poderia ser outro, e ela paralizou o corpo quando ouviu o barulho do isqueiro, das chaves e moedas caindo no chão ecoando pelo grande vão central do prédio pelos andares abaixo. Xingou baixinho e parou a última moeda giratória com a sola do tênis desamarrado. Com sorte, não teria acordado ninguém.

Abaixou-se para amarrar os tênis e recolher suas coisas, e ergueu a cabeça a ponto de ver a porta de entrada do 703 sendo aberta.

Antes da queda da SHIELD em DC, o Soldado Invernal era considerado um fantasma. E depois de tudo que tinha acontecido, ele havia voltado a ser um. As pessoas sequer tinham certeza de que ele existia de fato. E Nadia tinha muitos fantasmas em sua vida, seu passado; mas sabia que suas noites em claro tinham a ver com apenas um deles.

– Eu acordei você? – a garota praticamente sussurrou porque sabia que, com o silêncio da madrugada, qualquer coisa seria capaz de acordar o prédio inteiro por conta do eco. Sabia que seu pequeno ato de desastre provavelmente o tinha feito, mesmo que James fosse o único a ter aberto a porta para entender o que estava acontecendo.

Ele a encarou rapidamente antes de olhar em volta e responder – Não, eu... – gesticulou por cima do ombro indicando o próprio apartamento e dando de ombros.

– É, eu tenho insônia também. Às vezes – Nadia sorriu minimamente enfiando as moedas no bolso da jaqueta e girando a chave na fechadura – Eu estava descendo pra fumar um cigarro, não queria deixar cheiro nas cortinas. Desculpa a bagunça.

Ele arqueou uma das sobrancelhas – Tá fazendo três graus lá fora – comentou.

Em resposta, o sorriso dela se abriu um pouco mais revelando divertimento – Talvez um pouco menos por conta do vento. Quer me fazer companhia? – ele uniu as sobrancelhas em curiosidade e ela terminou de ajeitar a touca enquanto continuava – A menos que tenha algo super divertido pra fazer aí – deu de ombros.

Ele relaxou a expressão e ela jurava que tinha visto uma breve sombra de divertimento passar pelos olhos do homem – Eu vou precisar de alguns casacos.

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