06. Where We Gonna Go From Here

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Bucky não sabia o que fazer com tanta informação. Havia encontrado no mínimo quinze trabalhos acadêmicos sobre si, sendo dez artigos e cinco trabalhos de conclusão de curso. Apesar de estarem escritos em línguas diversas, não teve problemas em ler cada palavra daqueles arquivos, do cabeçalho às notas de rodapé, tendo o cuidado de anotar cada um dos documentos citados nas bibliografias para que pudesse ler mais sobre aquilo depois. Sobre Steve Rogers. Sobre o Comando Selvagem. Sobre o Capitão América. Sobre a HIDRA. De alguma forma, tudo aquilo se relacionava e dizia respeito a quem ele era, a quem ele um dia deixou de ser. E as construções dos discursos sobre sua vida e sua breve trajetória tendo morrido como um herói de guerra o fizeram ver nele mesmo coisas que ele jamais teria visto sozinho.

Por Deus, as pessoas estavam analisando vinte e oito anos de uma vida simplória como se fossem repletos de feitos gloriosos e contribuições imensuráveis. Mas não precisou rolar muito a página para descobrir que era o simples que o tornava interessante, como no título de uma tese em história que foi batizada como "Do Brooklyn à Alemanha Nazista: A trajetória e o sacrifício de James Buchanan Barnes pela amizade e o patriotismo". Um artigo estampava um título ainda maior, dizendo em letras em negrito "A queda do Nazismo e a ascensão de uma nova História - Uma breve análise dos heróis condecorados que marcaram para sempre a História dos Estados Unidos". E, por fim, a associação que ele já esperava encontrar desde o momento em que Nadia mencionou o fato de existirem estudos sobre ele. "Capitão América: Como a figura de James Buchanan Barnes caminhou lado a lado com a construção de um herói nacional".

Era um contraste inegável com as informações que outrora havia recebido de Nadia. Para aqueles estudiosos, ele havia morrido em 1945, na queda de um trem. A única menção à HIDRA entre todos os textos acadêmicos ali era a que contava que ele havia sido prisioneiro da instituição nazista antes de ser resgatado pelo Capitão América e passado a integrar o Comando Selvagem junto a outros homens também resgatados. Nada se dizia sobre o Soldado Invernal. Sobre o queridinho do Capitão América ter sido enviado para matá-lo. E ao mesmo tempo em que se sentia aliviado, sentia que tudo que estava lendo não passava de mentiras. Que não seriam os artigos que lhe diriam quem ele era de verdade, mas sim sua segunda vida com a HIDRA.

Independente de seus dilemas internos, leu. Descartou aqueles que lhe exaltavam como um herói americano perfeito e salvou aqueles que não tentavam endeusá-lo, mas mostrar os impactos de sua vida após o seu suposto fim. Não viu nenhuma impressora por perto, então concluiu que Nadia não tinha uma. Rabiscou no papel os nomes dos trabalhos nos quais ele queria voltar para ler novamente e desligou o computador já tarde, provavelmente muito perto da hora em que a dona da casa retornaria.

Em seu próprio apartamento novamente, se pôs a pensar. Merda, ele tinha construído imagens muito vívidas em sua mente enquanto lia sobre sua própria vida descrita por historiadores e antropólogos, mas sabia que não eram memórias. Ele queria tanto se lembrar que estava construindo uma imagem que não era real para preencher as lacunas vazias que ainda se faziam presentes.

Evitando pensar naquilo e esperançoso de que o fato de saber aquelas informações fizesse com que ele se lembrasse delas pelo próprio ponto de vista, ocupou a cabeça com outras coisas. Tomou um banho, abriu as janelas de casa para deixar o ar fresco entrar e pegou a caixa de ferramentas que já estava no apartamento quando ele se mudou para consertar a tapeçaria danificada na noite anterior. Quando ele quase esmagou a cabeça de Nadia.

Enquanto trabalhava naquilo, pensou em como estaria naquele momento se tivesse sucedido em matá-la. Aquilo seria um gatilho irreparável para a sua recuperação, de fato, e ele jamais se perdoaria por ter cometido tamanha atrocidade. E também não teria evoluído nada em sua busca por si mesmo.

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