Prólogo: O Desfile

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O dia é 13 de Outubro. Provavelmente é uma data comum para o resto dos cidadãos do mundo, mas não para os moradores de Argentum. É o aniversário de vinte e um anos do príncipe e isso significa que a partir de agora, se o Rei morrer, ele poderá ser coroado e assumir o trono. Uma grande festa foi organizada tanto na Corte quanto na cidade, o reino inteiro está mobilizado a fazer o mais memorável dos eventos em homenagem ao menino que se torna homem. Na cidade, o clima de festa tomou conta de praticamente toda a população, há música tocando em cada esquina e diversos "Vida longa ao Príncipe!" podem ser escutados por todos os lugares: nas janelas dos cortiços proferidos por moças apaixonadas que imaginam a vida no castelo sem sequer terem posto os pés no território real; nas barracas de comerciantes que sorriem alegremente ao devolver o troco de seus clientes; nas padarias onde funcionários amassam a massa de bolos e pães para as festividades; nas ruas e nas praças as crianças brincam em fantasias de cavaleiros e princesas, todos saúdem a maioridade do jovem herdeiro. As bandeiras de Argentum com o símbolo oficial do país — duas espadas de prata cruzadas sobre uma gigantesca cerejeira — estão penduradas nas janelas, nos postes de luz, nas carroças e em todo local que se possa imaginar. No Castelo, a espera é grande para o horário de nascimento do príncipe, fogos de artifício estão posicionados em lugares estratégicos para um grande show de luzes antecedente ao desfile oficial, que acontecerá em instantes.

O dia é 13 de Outubro e o reino está em festa, mas há um jovem garoto que não está ligando nem um pouco para toda a comemoração. Na verdade, Jeon Jeongguk não entende o motivo de tanta adoração para um garoto mimado que não deve saber nem como forjar uma espada. Bom, ele também não sabia direito, mas se esforçava e mostrava orgulhoso para sua mãe quando conseguia fazer com que a lâmina não se separasse do cabo. Enquanto toda a cidade se prepara e canta cantigas de aniversário para o príncipe, Jeongguk está tentando mais uma vez — sem sucesso — afiar uma lâmina simetricamente na forja da loja de armas de sua mãe.

— Você tem que apoiar levemente, não com toda a força da sua mão — advertiu a mãe do garoto, apertando-lhe levemente a orelha — Você não vai mesmo para o centro da cidade?

Antes mesmo de as festividades começarem, Jeon deixou claro para sua mãe que não participaria da babação de ovo em homenagem ao príncipe.

— Já pedi para não me perguntar mais — o garoto respondeu rispidamente e evitando contato visual com a mulher, que apenas lhe lançou um olhar de reprovação.

— Jeongguk, é por atitudes assim que meninos da sua idade são condenados à morte por desonra — a mãe se levantou, ajeitando os longos cabelos negros em uma trança — você vai ao desfile, e não estou perguntando mais.

Antes que pudesse reclamar, ela já tinha jogado para ele uma muda de roupas limpas e subido as escadas até a casa, que ficava no andar de cima. Resmungou baixo e trocou suas roupas de trabalho pelas limpas após tomar um banho: camisa de mangas longas de linho e um pesado colete de couro amarrado no peito, calça comprida escura e botas também de couro. Jeon percorreu todo o caminho até o centro da cidade em silêncio, chutando todo o tipo de objeto que encontrasse em seu caminho e desejando estar em qualquer lugar menos ali enquanto sua mãe cumprimentava conhecidos e sorria docemente para as crianças que passavam. Após algum tempo de caminhada, chegaram à grande Praça da Prata, local onde toda a Família Real desfilaria com cavalos dali alguns minutos. Estava tudo completamente lotado e uma aura de fervor tomava conta de todas as pessoas que estavam ali esperando pelo grande momento, alguns riam e outros tremiam só de pensarem em estar na presença de nobres, mas todos pareciam igualmente felizes. Haviam muitas pessoas a sua frente, mas se Jeon se esticasse um pouco conseguia ver nitidamente o chafariz no centro da praça, o circuito que eles fariam e mais à frente em uma grande colina, o majestoso castelo onde morava a Família Real, com suas enormes torres de pedra concreta cinza e seus brutos portões fechados, as bandeiras balançando docemente ao vento sobre pedestais e amuradas espalhados por toda a construção.

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