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"Ninguém se lembra do caos que era isso aqui antes que eu tomasse conta do lugar. Mas agora, depois da ordem der sido restaurada, escuto os zumbidos queixosos dos residentes. Porcos ingratos! Não se lembram dos gritos de dor em meio aos estupros, roubos e assassinatos que se repetiam compulsivamente antes que eu os parassem! Mas não faz mal. Ah, não faz mesmo. É como diz o velho ditado, 'Nada como um dia após o outro dia'. Hoje me chamam de Tirano. Porem ontem, chamavam-me de Salvador. E amanhã, do que irão me chamar este povo ingrato? Isso só o tempo poderá dizer."

Era totalmente dia quando meu pai resolveu encostar para descansarmos um pouco. A chuva havia parado a poucos minutos, dando lugar ao sol que se exibia timidamente no céu com algumas nuvens persistindo aqui e ali.
A viagem durante a noite foi desgastante e precisávamos parar por alguns minutos.
Paramos no acostamento de uma estrada de terra. Bebemos água e comemos alguns biscoitos integrais para quebrar o desjejum. E novamente fomos surpreendidos.
- Olá, amigos, viagem longa? - Um senhor perguntou em tom amistoso.
- Afaste-se da gente! - Gritou meu pai, agora com uma chave de fenda em uma das mãos. - Nem mais um passo! Ou eu juro por Deus que rasgo sua garganta!
- Eu não quero lhes fazer mal... Meu nome é Joaquim Fênix. Abaixe essa chave, filho. Pelo amor de Deus. Não há necessidade disso. - O senhor falou, mantendo ambas as mãos para cima.
Joaquim era um homem de cor branca, magro e alto. Seu jeito de ser fazia-o se assemelhar a um doutor. Tinha aproximadamente uns sessenta anos de idade, de cabelos brancos como a neve e impecavelmente penteados para trás. Naquele dia ele vestia uma camisa branca e um suéter vermelho sobre a camisa, além de uma boa calça social preta e lindos sapatos italianos que se encontravam um tanto quanto sujos de barro.
Você deve estar se perguntando agora. Como um menino de doze anos saberia tantos detalhes de etiquetas assim?
Deixe me contar uma breve história.
Em dias normais meu pai não faria feio diante o senhor Joaquim. Ele era advogado, um homem branco com cabelos pretos penteados de lado, olhos verdes protegidos por um óculos de gral com armação redonda. Sempre cuidava do corpo. Não era magro nem muito menos gordo, tinha um bom físico eu acho.
E ele sempre se vestia com ternos de marca e caríssimos sapatos italianos, iguais aos do senhor Joaquim.
Meu pai sempre dizia: "Um bom advogado começa pela aparência que tem, lembre-se sempre disso, Charlie."
Uma pena que naquele dia, à frente de Joaquim Fênix, meu pai não estivesse tão apresentável como de costume.

Os Diários de Charlie FordyOnde histórias criam vida. Descubra agora