Os Diários de Charlie Fordy

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""Durmo, mas não durmo, se é que me entende. Depois de tudo que fiz, acho que nunca mais dormirei de olhos fechados. Provavelmente nem na morte.""

Nos refrescamos e brincamos na lagoa até enrugar a ponta dos dedos. Senhor Joaquim alertou que precisávamos voltar e avisar o restante do pessoal sobre a descoberta e coletar água para o acampamento.
“Espera aí, um lugar como este não deve ser visitado de tempos em tempos só para coletar água e voltar para aquele acampamento ridículo que estávamos morando”.
Então tive a ideia.
- Acho que deveríamos transferir o acampamento para cá. - Ambos me encararam de imediato e antes que qualquer um dos dois falasse alguma coisa, disparei a falar:
- Um local como este, com tamanha reserva natural de água e um ótimo terreno, tem de ser vigiado de perto. Eu acho que aqui daria um acampamento muito melhor do que onde estamos morando.
Os dois permaneceram a me olhar sem dizer uma palavra se quer. Apenas sorrindo admirados.
“É isso aí, Charlie. Acho que essa você ganhou”, pensei todo orgulhoso. Agora só precisávamos avisar para o restante do grupo sobre nossa descoberta. O que seria algo bem prazeroso na nossa ordem caótica.
°°°

Tudo saiu como planejado. Retornamos para o acampamento com a notícia que todos aguardavam ansiosos.
Notificamos todo o grupo que iríamos transferir o acampamento para junto da lagoa, como eu havia sugerido.
A ansiedade tomou conta do ambiente, todos encontravam-se inquietos para conhecer o local. 
Nosso acampamento não ficava muito longe do lago, acho que uns 15 minutos de caminhada pela mata eram suficientes para chegarmos ao local. Juntamos nossos pertences e levamos tudo para a lagoa em umas quatro viagens. Deu trabalho por que do ponto de partida do nosso velho acampamento até a área do lago não tinha como transportar os objetos nos carros, então demarcamos toda a trilha que ia, logicamente, do antigo ponto até o penhasco que eu me deparei com a área da lagoa. Decidimos marcar o perímetro só até ali para ocultarmos o lago de possíveis ameaças.
A tarefa de transportar os pertences e montar novos alojamentos levou toda a tarde e avançou noite adentro, consumindo o dia seguinte.
Edoardo Acosta, juntamente com Leon, foram a algumas áreas abandonadas com a picape de Edoardo e coletaram madeiras, pregos e telhas... encontraram até tinta!
Com esses materiais, senhor Joaquim projetou dois barracões na área plana do terreno, afastado uns 5 metros da margem da lagoa.
Embora tudo tenha sido improvisado às pressas, posso dizer que os barracões ficaram luxuosos.
A construção se consistiu evidentemente para nos abrigar. Senhor Joaquim ordenou que elevássemos o terreno onde seriam construídos os barracões para que dessa forma eles ficassem acima do nível do solo, fora do alcance das águas da chuva, o que conservaria muito mais os pisos.
Eles ficaram bonitos, os telhados tinham formato triangular igual de casinhas de desenhos animados que assistíamos na TV. Eram bem espaçosos e confortáveis.
Todos se acomodaram muito bem.
Ah, foram pintados de vermelho e branco, ambos é claro.
Desta forma tínhamos concluído nosso objetivo, mas para os adultos essa conquista merecia comemoração.
°°°
Senhor Ângulos já estava bem alterado segurando uma das garrafas de uísque que agora já estava pela metade.
- Passa pra cá essa garrafa, balofo -disse Leon, tomando a garrafa da mão do senhor Ângulos e levando-a a própria boca.
Todos estavam felizes, cantarolando suas canções favoritas e dançando no meio da noite que avançava madrugada adentro. Eu estava morrendo de sono, próximo da fogueira e as outras crianças há muito que já dormiam. Mas tenho certeza que no meio da festa vi Leon roubando um beijo de Lohaine que nem se deu ao trabalho de resistir. Acho que o senhor Ângulos tinha razão sobre Leon... Um verdadeiro galanteador.
Não dava mais para mim, o sono me venceu. Apaguei e não vi mais nada... assim se perdeu pela noite mais um dia na floresta.