Terceiro Capitulo

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Parte 1

É um festival de música sertaneja, duas duplas estão para se apresentar nas próximas horas e a primeira já está com o seu palco iluminado enquanto parte dos músicos se preparam. Júlio envolveu a mão de Paula e os dois estão sendo nossos guias. De longe, como espectador, ela formam um bonito casal, mas como alguém da família, é como se fossem duas linhas paralelas, incapazes de se cruzarem. Dizem que os opostos se atraem, então isso pode fazer algum sentido olhando para eles, neste momento.

Moisés e Amanda se deram bem, tão bem quanto eu podia imaginar. Claro, eu entendi que eles se conheciam, mas parecem ter muitas coisas em comum. Algumas vezes ele faz uma pergunta a Yara e ela o responde, um sorriso tão grande no rosto que eu me pergunto se ela simplesmente gosta de sorrir por qualquer coisa. Seria um detalhe bonito se ela não fosse tão mesquinha. O vestido preto com franjas na barra da saia, a rasteirinha que amarra na canela, os brincos brilhantes e gigantescos, essa postura inflada de que o mundo é minúsculo sob sua perspectiva.

Ela é tão comum... Um produto claro da burguesia dessa geração com algumas alterações genéticas, mas é como esbarrar numa versão sua a cad...

Ela olhou para mim.

Assim, de repente.

Interrompendo meu raciocínio.

Não sei se ela me pegou encarando-a, mas se caso o fez, não demonstrou emoção ou curiosidade. Yara me verificou e, cautelosamente, diminuiu a velocidade dos seus passos e aumentou o espaço entre ela e a irmã. Ela estava tentando me fazer alcançá-los para não ficar de fora. Isso causou uma certa comoção dentro de mim que não soube explicar, só decidi me apressar. Meu primo e Amanda me notaram, mas isso não os impediu de continuar a conversa. E cacete, eles conversavam muito.

Lado a lado com Yara, senti-me acorrentado, de um jeito claustrofóbico da situação e olha que só tenho medo de altura, de resto eu sei lidar numa boa. Se tem algo que eu aprendi com a vida de estudante, era ser calmo, aceitar as coisas com facilidade e não perder o foco. Agora, ao lado dela, eu sou incapaz de conduzir minha própria respiração ou de produzir uma única palavra sequer para interagir.

Eu só conseguia ouvir e pensar.

Mas ela... Yara tagarelava e sorria bastante. Decidi-me que isso era um traço seu, sorrir à toa, simpatizei-me com isso. Além do episódio passado, não voltou a me olhar, as vezes afastava-se um pouco inconscientemente talvez para que eu coubesse melhor entre eles, nada a mais.

Subimos pela rampa para entrar no campo onde o show vai acontecer, seguimos pra lateral até a área VIP. Eles colocaram pulseiras amarelas que brilham no escuro em nossos pulsos para nos deixarem passar. Júlio e Moisés me chamaram para acompanhá-los nas tendas onde servem bebidas e escolhermos uma mesa. Paula ficou para trás com Amanda e Yara. Já tinha um bocado de gente, me atentei a ver algum conhecido, mas acabava me pegando olhando para alguma garota sem acompanhante. Havia muitas. E bonitas.

- O que vocês querem?

Demorou um pouco para que chegássemos a uma consenso. Voltamos uns dez minutos mais tarde com uma mesa, skol beats, cervejas, um litro de whisky e refrigerantes.

Eu fui o único a me servir com soda e whisky.

- Está vendo alguém? - perguntei a Moisés. - Acho que tenho vários amigos aqui... Só não estou vendo.

- Achei que você só tivesse a gente de amigo.

Eu achei graça. Espiei Júlio e a namorada, depois Amanda e Yara que cochichavam, embora sem olhar uma para a outra, ambas, assim como eu e Moisés, observando o ambiente. Sete metros de onde estávamos, fora da área VIP, estava uma turma do meu colégio, dois garotos eram amigos meus, a banda demorava demasiadamente para começar e já havia perdido - voluntariamente - meu terreno nesse lugar para Moisés, então, depois de alguns minutos de decisão, eu os avisei que ia me encontrar com uns amigos.

32 Semanas e Algumas MusicasOnde histórias criam vida. Descubra agora