Parte Dois
Tinha uma rosquinha melada de cobertura de morango em cima da minha mesa, um saco de jujubas e uma caixa de chocolate. Do lado, um cartão apoiado nas minhas coisas com "Feliz Aniversário Seu Idiota" em canetinha vermelha. Eu não gosto de aniversário, não no geral, vou a todos, gosto do bolo, dos doces, dos salgados, dos amigos, eu me divirto. Eu não gosto mesmo é de comemorar o meu aniversário e ter dito isso não impediu que Helio e Rafaela montassem um kit e me desejassem os parabéns em frente à turma. Isso obrigou os meus colegas a virem me cumprimentar? É, pode até ser. Fez parte. Consequência.
As pessoas quando dizem que não gostam de aniversários elas querem dizer "não gosto, mas to aceitando festa surpresa". Quando eu digo que eu não gosto, isso vale para os parabéns também.
Deixou há muito tempo de ser uma data que me lembrasse algo bom.
Então estou aqui, mastigando meu donuts e fingindo que hoje é um dia comum, sentindo a brisa fresca do final de semestre abanar as árvores enquanto Rafaela está discutindo com o noivo pelo celular. As vezes, quando ele liga, eu me intrometo e pego seu telefone para falar com ele, jogando papo fora, perguntando do clima, do nome do cachorro, até dos filhos que eles ainda não tem. Eu sou esse tipo de cara. Hélio está na outra ponta do banco onde estou deitado e mastigando meu doce predileto da faculdade. Nós acabamos de entregar um pré-projeto que custou muitas horas do meu sono e juízo, então estamos perdendo tempo porque podemos.
Graças à Deus.
- Já se perguntou por que as pessoas não criam lagartixas?
Parei de mastigar.
- Que?
- Olha - ele aponta para uma que está, desde que nós chegamos, estática entre dois paralelepípedos. - elas não incomodam ninguém, tem um corpo aerodinâmico legal. Sobrevivem sem o rabo, tem uma carinha fofa. Parecem répteis em miniatura. Ah, o mais importante, - ele ergue o indicador para frisar. - elas comem mosquitos e aranhas.
Eu chupo os dois dedos que seguravam o donuts para então dizer:
- Hélio, você é um idiota esquisito.
Hoje é sexta-feira, então muita gente que mora fora está indo para casa, estão saindo de malas ou bolsas maiores, sacolas e outras coisas no geral. Eu não volto para a minha este final de semana, Hélio, Rafaela e eu temos um seminário para terminar, e eu fiquei com a parte de organizar os slides antes da apresentação, por isso preferi aturar mais esses dias longe de casa. Só um mês e eu estarei de férias, então eu posso me obrigar a esticar essa tortura, ok?
- Vamos pra casa da Rafaela amanhã? - ele pergunta.
- Não sei. Ela está de boa com Lucas? - o noivo. Ajusto-me no banco para poder apoiar a cabeça nos braços.
- Vamos ver. Mas acho que sim. Rafa faz almoço pra gente, então compensa.
- Caralho, deixa de ser interesseiro... Ela também faz pudim, vamos importunar até aceitar a gente lá.
- Esse é um trab... - consigo tirar uma foto de Hélio de boca aberta, as duas sobrancelhas grossas como limpadores de para-brisa. - O que tu vai fazer com isso, Caique?
- Postar, é claro.
Eu acesso meu WhatsApp e posto. É algo que costumo fazer com Hélio. Eu tiro fotos dele e monto memes. Ele é uma pessoa muito versátil e sem vergonha.
Dentro do aplicativo, eu atualizo o feed e vasculho os outros status. Vejo uma foto recente de Yara. Ela está de óculos, rosto cansado acompanhada de um bocado de livros em cima da mesa. Eu seguro bem o celular para digitar:
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32 Semanas e Algumas Musicas
Romance(baseado numa história real) Após conseguir uma vaga numa das melhores faculdades do Estado, o destino faz com que Caique conheça Yara, os empurrando para uma relação que tem tudo para não funcionar. *A história não é minha, é de uma amiga e estou p...