Parte Dois
Dentro desses dois meses, este era o único final de semana que eu poderia ir para casa. Eu estava exausto, fazia algumas noites seguidas que eu não pregava o olho para conseguir colocar em dia leituras e pré-seminários. Meu reflexo no espelho me deixava angustiado, logo eu, repugnando-me por conta das fortes olheiras e o olho fundo. Passei a tomar remédio desde a penúltima quarta feira por conta de uma crise de estresse. Eu estava tão louco que desmaiei na faculdade. Hélio e Marcelo - os únicos colegas que estavam comigo - me levaram ao hospital e tive que tomar soro, a tarde toda. Perdi o grupo de estudos.
Má alimentação, insônia, estresse.
Eu já sabia do diagnóstico quando fui levado, mas era pior ouvi-lo em voz alta principalmente porque eu sabia que iria voltar a fazê-lo, só tinha que me precaver antes. Me alimentar melhor pelo menos. Hélio começou a me fiscalizar, comprava doces de vez em quando, barras de cereal, mas meu favorito era um donut com cobertura de morango que eu lambia primeiro, as vezes só a parte de cima e jogava o resto. Uma delicia.
Meus pais não ficaram sabendo, mas assim que a minha irma cruzou a porta do meu apartamento, as olheiras foram seus alvos. Dessa vez foi ela e não minha mãe a vir me buscar, o que me deixou profundamente aliviado porque eu não queria ouvir sermões. E era algo que a nossa mãe fazia com frequência, sobre muita coisa, sobre qualquer coisa. E minha cabeça não estava tranquila para receber sem me estressar. Além de Julia, Moisés também veio. Foi um pouco surpreendente, não tanto, mas de leve. Minha família gosta de viajar ou se infiltrar na viagem dos outros, então eu podia esperar qualquer um dos meus primos ou tios se oferecendo para acompanhar minha irmã. Porém, sabia que Moisés estava aqui pela falta de opção. Ele disse que saiu do emprego para cursar um curso de técnico em informática. Isso é Ok. Fiquei feliz por ele. Trabalhar no mercado com o pai não era algo que ele faria para sempre, eu entendo.
Nada nega, no entanto, que os amigos dele estarem estudando ou trabalhando nessa sexta-feira o convenceram a se oferecer.
Moisés encheu a boca sobre sua última fofoca: ele começou a sair com Amanda, a irmã mais velha de Yara. Ao contrário dele, eu não deixei escapar que disso eu já sabia. Os últimos dias falando moderadamente com Yara eu obtive algumas informações privilegiadas a respeito dos relacionamentos de suas irmãs, mas foi o máximo que pude arrancar, ela não se abria por nada e sua tática, sempre que eu perguntava sobre seu dia ou algo em particular, era encurtar uma resposta e passar o bastão da fala para mim. E eu, nenhum pouco tímido, contava todas as loucuras - inclusive as bobagens vergonhosas - que me aconteciam na faculdade. Ela ouvia tudo, no entanto. E ria bastante, o que eu gostava na mesma proporção. Ou talvez mais.
Não contar a ninguém, porém, que eu ainda conversava do Yara era algo meu. Nem minha irmã sabia, embora ela tivesse me fofocado sobre Yara naquela festa. Acredito que ela o fez sem nenhuma intenção, talvez para me deixar por dentro porque eu estava fora. Bem fora. Mas não falar sobre Yara significava muito para mim, eu não queria que as pessoas soubessem e colassem suas apostas. E a verdade que completava minhas atitudes reservadas era que não tínhamos nada. Ela voltará a estudar em um mês e eu estou fora por quase três, então isso não era prioridade para mim nem para Yara.
Estávamos bem assim.
Ouvindo Antônio - meu colega de apê - puxar assunto com a minha irmã me fez esquecer por uns minutos que já fazia quatro dias que não conversávamos. Ontem, rolando o feed de status do whats app, eu a vi num aniversário com duas garotas que frequentemente ela as acompanha. Caramba, vendo aquilo, vendo ela se divertindo, eu notei que Yara não estava nem um pouco preocupada com a minha situação ou com a gente. Ela saía, se divertia, respondia às minhas mensagens quando eu engolia o orgulho e ia atrás dela; atendia meus telefonemas, me deixava feliz para cacete e depois mais nada. Ela não movia um dedo para me achar, mas eu continuava dando murro em ponta de prego.
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32 Semanas e Algumas Musicas
Romance(baseado numa história real) Após conseguir uma vaga numa das melhores faculdades do Estado, o destino faz com que Caique conheça Yara, os empurrando para uma relação que tem tudo para não funcionar. *A história não é minha, é de uma amiga e estou p...