Nono Capitulo

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Parte Dois

Após três meses, eu estava voltando para casa, com uma profunda onda de alívio varrendo meu corpo porque havia conseguido tirar notas muito boas no meu semestre e terminado tudo aquilo da forma como eu esperava.

Recuperando meu ego, aliás.

Eu estou no ponto de ônibus ouvindo música no fone de ouvido. Como da última vez, sentindo a energia do dejavu levar a minha mente a uns seis meses atrás, mas nada de poças de lama e suor, eu estava indo para casa, feliz e bem limpo. Deixei um recado com Júlia, avisando que não seria necessário que alguém me esperasse na rodoviária. Como a cidade não era muito grande, coisa de interior e bem centralizada, eu não ia ter dificuldades em me virar.

Minhas provas terminaram ainda esta manhã, mas decidi passar o restante do dia com meu amigo Helio, jogando papo fora e fazendo planos. Ele disse para eu não deixar de falar com ele quando voltássemos para nossas respectivas casas, que não fôssemos aqueles amigos de faculdade que só se falam no período das aulas. Também jogamos cartas, falamos sobre a vida amorosa dele, depois a minha, depois sobre a cidade dele, e o convite que fez para que nas próximas férias eu fosse visita-lo. Eu disse que sim, se tudo desse certo. Meu ônibus estava marcado para meio dia e quarenta e cinco e o dele para uma hora e dez, então fomos juntos para a rodoviária. A cidade dele ficava há sete horas dali, mas se comparado a minha quase doze. Metade de um dia, isso é bastante exaustivo.

- Eu vou sentir falta da Sheila. - ele começou dizendo. - Ela trazia chocolate pra gente.

Sheila era a senhorinha da cantina.

- Eu falava com ela todo dia. Ah, vou sentir falta também.

- Me fala quando chegar em casa.

- Pode conversar comigo por mensagem. - eu avisei. - Até teu ônibus chegar.

- Tá bom.

Nós nos despedimos ali. Meu ônibus veio primeiro, me ajustei na poltrona de número 13 e na outra apoiei minha bolsa. Esperava que não fosse dividir meu acento. Eu me deito ali, ouvindo música e deixando meus pensamentos livres. Encontrei umas bandas nacionais no Spotify nas últimas semanas como Hotelo, Vanguart e Plutão Ja foi Planeta, então vou analisando elas e o caminho de volta para casa. Tenho pensado no que fazer nessas férias e isso inclui Yara. Temos conversado os últimos meses da mesma maneira de sempre, apesar de parecer que estamos progredindo, nada acontece. Ela diz umas coisas que impactam de primeira, mas nos dias seguintes é como se eu fosse algum leproso. Yara não facilita e isso me perturba a cabeça. Será que ela quer que eu prossiga ou isso é algum jogo particular seu? Fico frustrado, mas não deixo transparecer, não é o tipo de coisa que eu perco meu tempo pensando.

Eu consigo dormir metade da viagem, então quando acordo, eu reconheço as árvores que decoram a BR da minha cidade e a rodoviária. Pego minhas coisas e desço, esticando os músculos retesados. Como havia conversado com a minha irma, não pedi carona. Joguei a bolsa nas costas e pedi um moto táxi. Eu sei o endereço e nós seguimos para perto do posto d saúde central da cidade. Eu pago a ele quatro reais e agradeço. A porta de vidro da clínica veterinária está fechada, mas eu sei que é ela quem está lá dentro.

Bem, eu tenho esperanças.

Eu bato. Não escuto nada. Fico ajustando o meu cabelo que cresceu, o corte que foi consertado e que agora está do jeito que eu sempre quis que estivesse. Levanto os óculos de sol e quem me aparece é uma garota grávida. Pelé morena, cabelo curto e liso de prancha, olhos castanhos e com meio metro de altura. Eu não conheço ela.

- Oi, boa tarde. - a língua dela se prende no aparelho.

- Boa tarde. - eu penso numa mentira para mascarar a vergonha. - Quanto que custa um banho e tosa?

Foi a primeira grande ideia que passou pela minha cabeça.

- Trinta reais. - pensei em acrescentar algo, mas ela não terminou. - Mas a menina que da banho não está aqui. Ela só volta amanhã.

Eu penso que a garota de quem se referiu seja Yara.

- Tá certo. Vou ver se consigo vir amanhã. Obrigado.

Minhas coisas na bolsa pesam duas vezes mais agora. Sinto-me decepcionado. Gastei quatro reais à toa. Vou ate a esquina atrás de um moto táxi, não vou caminhando para casa com esse peso todo.

Se eu tiver sorte, talvez eu consiga vir amanhã e ver ela.

...

Estou na casa de um amigo meu, Victor. Nós estamos sentados em volta de uma mesa com cerveja embaixo de uma árvore. Ele está mandando mensagens para outros amigos nossos para que possamos nos reunir e conversar. Nos conhecemos desde o colégio, mas ambos tomamos rumos diferentes. Ele estava tentando me contar que havia quase voltado com a ex dele, mas todos nós sabemos como que esse tipo de história termina.

- Halyson e Rodrigo estão vindo. - disse devolvendo o celular a mesa. - Você deveria ter vindo duas semanas antes.

Eu pergunto o por que. Estou mastigando amendoim que ele me trouxe.

- Você perdeu a festa que teus primos fizeram no bairro de comemoração da abertura do bar do seu tio.

- Fiquei sabendo.

- Tinha cara nova. - ele quis dizer que tinha garotas novas. - Nunca tinha visto por aqui. Eu quase peguei ela.

- Quem era?

- Voce não conhece. Não deu certo porque teu primo ficou no pé dela à noite toda.

- Qual deles? - é estranho que tenha alguém novo na história e nenhum dos meus primos tenha me dito.

- Moisés. - ele diz e eu fico mais intrigado. - Ele ficou no pé dela à noite toda, não ficava com ela, mas também não deixava ninguém se aproximar. Eu ainda consegui falar com ela, mas depois sumiu a garota.

- Moisés não tá namorando? - pergunto inocentemente.

- Não sei. Mas a garota era linda, bicho. Alta, loira. Quilômetros de pernas. - enquanto ele ri, meu corpo todo se retesa.

- Qual nome?

- Acho que Yara. Foi assim ó - ele aproxima os dois dedos indicador e polegar. - esse tantinho pra poder ficar com ela, mas na próxima da certo.

Oh, merda! Merda! Merda!

32 Semanas e Algumas MusicasOnde histórias criam vida. Descubra agora