Capítulo 9: Escavações

6 0 0
                                    


   O rapaz continuava olhando para aquele móvel posicionado ao meio do salão, sua aparência se aproximava a de um instrumento de tortura, aquelas amarras, a bacia com água aos seus pés e a luz concentrada apenas na cadeira contribuíam não ajudavam em nada do que diz respeito a se sentir a vontade ali.

_ Tire o paletó, a gravata e arregace as mangas. Orientou o professor.

Erik olha para Verônica. Ainda estava relutante em seguir as orientações do discente, porém, a moça sinaliza que está tudo bem. George também confirma. O jovem ainda estava em duvida se podia confiar naquelas pessoas que o levaram até ali, mas que escolha ele tinha? Após segundos de reflexão, ele segue as orientações do professor. Põe o paletó e a gravata numa mesa a alguns metros a esquerda, depois de arregaçar as mangas até acima do cotovelo, ele senta na cadeira.

_ Ótimo Erik, agora tire os sapatos, as meias e ponhas os pés dentro da bacia. Novamente, orienta o professor que estava em uma parte mais distante preparando alguma coisa.

_ Como isso funciona? Perguntou Erik.

_ Vamos supor que sua mente é um terreno e suas lembranças ficam armazenadas em caixas enterradas nesse terreno, sua memória é como se fosse o homem que tem que saber em que lugar está cada lembrança, para tal, este homem usa pequenas placas de identificação em cada buraco, para na hora em que você precisar acessar qualquer uma delas, ele possa desenterra-la. No seu caso, é como se as placas de identificação sumissem de uma hora para outra, e sua memória, por não saber onde está cada coisa decide parar de trabalhar com as lembranças antigas, operando apenas com lembranças recentes. Nesse caso, que sua memória começou a armazenar depois que você foi encontrado no deserto. Hemilton explica enquanto volta trazendo um espelho lubrificado e um relógio de bolso.

_ Então esse procedimento vai ajudar a "colocar as plaquinhas e volta no lugar"?

_ Quase isso, a água vai relaxar o seu corpo, agora eu vou afivelar seus pulsos para o caso de imprevistos, se é que me entende...

_ Na verdade, eu não entendo. Disse Erik.

_ É irrelevante, não se preocupe. Respondeu o professor, cortando o assunto.

Hemilton pega um pedestal que estava ao lado da mesa onde Erik deixara o paletó, põe a armação com o espelho de frente ao jovem.

_ Já ouviu fala em regressão?

_ Se sim, eu não lembro.

_ Evidente. Bom, vamos fazer sua memória "voltar no tempo", até quando as lembranças eram acessíveis, para isso, eu vou balançar esse relógio entre seu rosto e o espelho. Note que a parte de trás do relógio está apontada você e o lado dos ponteiros está virado para o espelho, enquanto eu balanço o relógio você vai olhar através do espelho para o número doze, depois disso, suas memorias vão começar a surgir, como se estivessem "pulando para fora de seus buracos". Pelo menos na maioria dos casos.

_ Então vamos começar. Disse Erik.

Hemilton começa a balançar o relógio de um lado para o outro. Erik mantém seus olhos atentos no número doze. Nos primeiros segundos nada acontecia, o relógio continuava a balançar enquanto o paciente o encarava atentamente.

Até que as vozes que costumam invadir seus sonhos voltam a ecoar pelo ambiente, só que dessa vez ele está de olhos abertos. O jovem procura de um lado a outro da sala, as pessoas as quais pertencem àquelas vozes, mas sem sucesso, só estavam lá: ele, o professor e os dois que o levaram até lá. Repentinamente, tudo escurece. Agora sua cadeira está posicionada em meio a um grande vazio, mas as vozes ficam mais intensas.

_ Como está a situação dele?

_ Um braço quebrado em dois lugares e alguns hematomas, ele vai ficar bem. Você é a mãe dele?

_ Na verdade sou tia dele, de onde veio esse peixe?

_ Uma moça deixou aqui, desse que é o peixe beta de estimação dele.

Peixe beta 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Peixe beta 

_ Posso ficar a sós com ele?

_ Fique a vontade. Sons de passos são ouvidos.

_ Você é capaz de coisas que nem sequer imagina.

Após essa ultima frase, ventos fortes levam o jovem do espaço vazio para o lugar onde foi acordou. Ele tem uma visão aérea da cabana de madeira, flutuando na cadeira onde estava preso. A voz da mesma mulher que ouvira segundos antes voltou alta e clara, como se estivesse sussurrando em seus ouvidos.

_ Na hora certa todas as respostas virão, mas até lá siga a corrente. Lembre-se, quem já morreu uma vez, só pode voltar para o mundo dos mortos pelas mãos do seu equivalente...

Em um sopro, o rapaz é puxado para cima além das estrelas até parar novamente no salão onde estava. Erik estava ofegante com a experiência, suor escorria de sua testa, a água da bacia estava evaporando e seu nível havia baixado pela metade.

_ Eu vi... Antes que pudesse completar a frase Hemilton interrompe.

_ Não precisa dizer nada, você descreveu tudo com detalhes enquanto estava em regressão. Disse o professor.

_ Agora acreditam em mim? Perguntou o rapaz.

_ É rapaz, você nos convenceu. Admitiu George.

_ Não tem como alguém mentir, nesse procedimento você troca de lugar com sua voz interior, tudo aquilo que está em sua mente é despejado para fora através de palavras. Poderíamos ficar nisso até a água da bacia evaporar completamente, mas me parece que suas lembranças não além das ultimas palavras que você disse antes de acordar. Parece que há algo bloqueando sua mente, de qualquer forma, está além do que posso fazer aqui usando esses materiais.

_ Só pode voltar para o mundo dos mortos pelas mãos do seu equivalente. O que isso quer dizer?

_ Provavelmente alguma metáfora que sua mente criou para dizer algo que só diz respeito a você. Lembranças também podem vir à tona em forma cenas subjetivas, como nos sonhos. Explicou professor.

_ Já que ficou provado que você não é um espião, vamos levar você conosco para dom Henrique, lá a custodia será cumprida. Contou George.

_ E depois? Perguntou o rapaz ainda preso ao móvel.

_ A decisão vai ser sua, poderá fazer o que bem entender.

_ Eu também vou com vocês, alguns assuntos que só podem ser falados pessoalmente vossa majestade. Disse Hemilton enquanto desafivelava os pulsos de Erik.

_Ótimo, quando mandei aquele telegrama para o senhor, mandei outro para o oficial de inteligência, no consulado, ele nos reservou seu navio para podermos sair daqui o mais rápido possível. Relevou Verônica.

Erik põe de volta as peças de roupa que estavam em cima da mesa, calça os sapatos e sai com o trio. Já estava anoitecendo e a temperatura baixara muito por causa dos ventos do crepúsculo. Erik fecha seu paletó com as mãos e segura o seu chapéu para que sai voando com as correntes de ar.

_ Professor, nos encontramos no porto as 19:00, a essa hora o navio já vai estar devidamente preparado para a viagem. Disse Verônica enquanto saía com seus acompanhantes, pelo portão oeste, mesmo lugar por onde entraram. 

A Odisseia de ErikOnde histórias criam vida. Descubra agora