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APAGUEM AS MEMÓRIAS

Dois dias depois, que tive aquela tenebrosa visão, me senti como se fosse um vidro tão frágil, que está prestes a estilhacar. Eu não conseguia acreditar no que eu vi, naquela noite, nos meus sonhos. Isso só poderia ser um sinal, ou uma mentira. Olhei para meu braço, ainda machucado. Ontem eu havia enfaixado ele, para tentar cura-lo mais rápido, mas não houve muitos resultados até então. Como sempre, nesse horário, os soldados bateram na porta e passaram a comida pela fresta. Meus reflexos rápidos pegaram a marmita antes de cair no chão e espalhar meu café da manhã no chão. Com cuidado, coloquei a marmita em cima do criado mudo e abri, com medo que caísse, no chão e eu morresse de fome, mas isso não aconteceu. Eu sei um longo suspiro de alívio, e ataquei a comida. Os ovos mechidos, assim que os soldados chamavam, eram uma delícia e quase sempre eu recebia e café da manhã. Devorei os ovos e peguei o copo, cheio de café. Aquilo sempre me fez ficar acordada e alerta, e me perguntei se aquilo era algum suplemento de energia ou algo parecido.

Ao acabar meu café, o alarme tocou, me fazendo jogar a marmita vazia no chão. Eu me vidro para porta, agora aberta e os soldados entraram no meu quarto correndo. Um deles usava um jaleco branco e carregava uma seringa de ponta afiada. Dois dos soldados foram até onde eu estava e me seguraram com força. O homem de jaleco branco se aproximou e fincou a seringa no meu pescoço. Eu comecei a me sentir fraca e imponente, sem nem conseguir me mexer ou protestar. Antes de conseguir ao menos gritar, senti várias dores e fiquei quase inconsciente.

"Levem ela para a um novo quarto, mais seguro e implantem uma câmera no cérebro, para vigiarmos suas lembranças e isso não acontecer novamente. Ela logo irá recuperar a consciência" Disse um dos homens. Senti meu corpo ser carregado, e balançado de um lado para o outro. Eu senti cócegas, mas não gostava de ser balançada, ou carregada. Depois de um tempo, parei de balançar, e fui jogada em um local macio tanto, quanto a cama em que eu estava antes. Eu ainda não estava totalmente consciente, mas já conseguia abrir meus olhos por uns instantes. Tentei pegar alguma memória no fundo da minha mente, mas só conseguia me lembrar do meu próprio nome. Keane e nada mais, nem mesmo nomes de parentes, amigos ou algo do meu passado. Eu olhei para o lado e vi uma prateleira, com uma arma em apoiada na lateral. A prateleira estava cheia de balas, que por algum motivo, pareciam mais perigosas do que qualquer outra bala. Com um pouco de dificuldade, consegui me levantar, e percebi que antes estava deitada em uma cama. Ela era bem simples, mas tão macia que era como, como... Senti um forte estalo na minha cabeça, e decidi parar de tentar me lembrar do passado, ao menos por hoje. Suspirei de alívio, por poder descansar, mas estava com fome. Observei o outro lado da cama, e vi que havia um prato completo, com comidas que não soube identificar o nome, mas estava com meu estômago se devorando de tanta fome.

Agarrei o prato, e vi dois pares de palitos, ao lado. Eu presumi que eram para ajudar a pegar a comida e tentei. Na primeira tentativa, falhei, assim como na segunda e na terceira, então decidi comer com a mão mesmo. Foi meio nojento, tenho que admitir, mas foi melhor que ficar o dia inteiro tentando comer com palitos. Senti meu estômago grunir, satisfeito. Logo depois, senti vontade de ir ao banheiro. Eu procurei por portas que tivessem escondidas, mas não achei nenhuma. Quando achava que não havia nada que eu pudesse fazer, abri a enorme gaveta do criado mudo, e achei um pinico. Ao menos era melhor que nada.

Agora aliviada, senti um enorme peso nas costas, e seu um longo bocejo. Eu provavelmente estava com sono. Me arrastei até a cama e me enfiei de baixo das cobertas, esperando o sono vir. Tentar encontrar memórias teria que ficar para outro dia.

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Quando acordei da minha longa soneca, já eram, de acordo com uma espécie de relógio pendurado na parede, seis horas. Eu não estava mais cansada, e sim muito ativa. Eu estava tão cheia de energia, que nem percebi quando chutei por acidente a parede, torcendo meu pé. Quando me abaixei com um dos meus braços, senti uma dor ainda maior vindo dele. Olhei para meu braço e notei que pedaços de faixas, que deveriam ter sido cortadas, estavam em volta dele. Eu tentei mexe-lo, com sucesso, mas meu braço ardeu tanto, que decidi deixa-lo imóvel. O meu pé, decidi enfaixar com uma fita que achei no meio de tantas balas. Eu aproveitei e enfaixei melhor o braço, quem sabe o pessoal que me pois aqui não me da remédios ou algo para eu me curar mais rápido ? Talvez eles fossem legais. Tal - vez, não.

Mesmo que eu precisasse de resposta, eu ainda tinha medo que eles pudessem fazer algo comigo. Perto "deles" eu me sentia pequena, imponente, sem forças. Era como, como... Senti uma dor na minha cabeça. Era algo engraçado. Sempre que tentava me lembrar do passado ou de qualquer outra coisa, sentia essa dor na minha cabeça. Realmente, era algo estranho, ao menos para mim.

Olhei para o relógio na parede de relance, e percebi que se passará uma hora desde que fiquei pensando. Sem estar cansada, eu não queria dormir, mas parecia que seria dormir, ou ficar com dor de cabeça tentando decifrar meu passado ou ganhar pistas de como com parar aqui.

Andei até a cama e me deitei, encarando o teto cinza, acima de mim. Eu apenas queria respostas, por que tudo isso ? Por que ? Eu só precisava saber disso e nada mais, mas parece que eles não querem que eu saiba de algo. E eu teria que conviver com isso, por bem ou por mal e eu tenho quase certeza de que prefiro conviver por bem. Senti uma estranha sensação de sono, e me senti caindo no sono, mais uma vez.

[EM REVISÃO] Sephora - Torneio de GladiadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora