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LIBERDADE

Louca. Louca. E mais louca. Eu deveria estar ficando louca. E não era brincadeira. Depois do que eu fiz com aquela doce menininha, eu não me sentia mais eu mesma. Eu estava louca, sem quase nenhum traço de sanidade. Eu temia por todos que conheci que me ajudaram, me deram um lar, me deram comida, água, roupas. Mas eu ainda estava louca. Eu via coisas que não existiam, e tinha memórias estranhas. Isso não poderia em hipótese alguma ser normal.

Com medo de mim mesma, me tranquei no banheiro, e comecei a chorar desesperada-mente. Eu era um monstro e não merecia a ajuda de ninguém. Eu deveria ter ficado como Gladiadora. Agora, não era possível voltar e eu sabia disso. É a dor era tão grande que era como se algo me matasse por dentro. Eu queria gritar com alguém. Queria chutar, fazer birra. E o mais importante : ter alguém pra culpar. Poder gritar "A culpa é toda sua" e me livrar de tudo.

Isso não era possível. Ouvi alguém bater na porta e passar um prato de café da manhã completo, com um pouco de tudo, por baixo da porta.

Eu comecei a chorar mais e a tremer, mas não podia deixar isso me dominar. Eu tinha que voltar a sanidade, logo. Peguei o prato e comecei a comer. Estava com fome, mas fiquei tão ocupada chorando e tendo um ataque de pânico, que nem havia sequer percebido. Ata- quei a comida e passei o prato por de baixo da porta novamente.

Eu me sentia uma aberração, mas dentro de mim, ainda havia algo que me dizia que eu era humana. Que eu não era um monstro.

Enchuguei minhas lágrimas com a toalha, e me olhei no espelho. Cabelo espantado, olheiras, expressão cansada. Eu parecia um espantalho de fa- zenda. Dei uma risada amarga.

"Que irônico." Pensei "Tenho um ataque e pânico e viro um espantalho." É o melhor dia da minha vida.

Peguei a escova de dentro de umas das gavetas e escovei o cabelo. Menos uma coisa estranha. Com cuidado, peguei uma tesoura de cortar unhas e fiz vários arranhões em mim, até eu chegar em um estado em que não conseguia mais sentir nenhuma dor. Meu cabelo preto como a noite estava branco como uma nuvem. E a minha pele, estava pálida. Eu não sentia mais dor, mas não era mais a mesma.

Com a mudança repentina, decidi, que para fugir, teria que mudar de nome. Decidi me chamar de Amber.

Sai do banheiro e abri a porta do quarto. Agora que ninguém iria me reconhecer, era seguro sair por aí.

desviando de perguntas estúpidas, e pessoas e que me cumprimentavam sem parar, corri até a escada que eu havia encontrado, aquela mesma do buraco. Notei que havia um enorme botão azulado, na parede. Por curiosidade, apertei o botão, e ouvi um forte barulho.

A mesma escada que usei para descer apareceu, e eu comecei a subir. Dessa vez, ao chegar lá em cima, tive que fazer um esforço extra, devido ao alçapão abrir para cima e não para baixo. Me senti uma super heroína, mesmo apenas sendo eu mesma.

Dei um pulinho e sai para fora da sede da Revolução. Agora eu poderia voltar a ser Gladiadora.

Eu poderia viver uma vida mais agitada, mas sem as pessoas me julgarem. Eu poderia esquecer de tudo isso.

Mas não. Eu corri. Eu corri para longe, para algum lugar, em que alguém, pudesse me dar respostas concretas, ou que não tentasse me internar em um hospício.

Quando fiquei cansada de tanto correr, e minha perna, juntamente com meu braço começou a doer, me apoiei em uma árvore. Eu estava cansada, mas ainda precisava correr mais. Ao longe, avistei uma enorme floresta e decidi correr até a ela. Agora, com menos fôlego, entrei cada vez mais fundo na floresta, procurando algum lugar seguro, mas para minha grande sorte, não achei nenhum. Avistei uma árvore, relativamente fácil de escalar e decidi tentar, ao menos uma vez. Acho que meu plano daria certo.

Eu comecei a subir, e achei muito fácil. Em minutos, já estava no topo da árvore, um lugar tão calmo e tranquilo. O vento batia em mim e fazia meus cabelos voarem para trás. Era tão boa aquela sensação. Nessa hora, senti pela primeira vez, a sensação de estar livre, e ter liberdade. E eu soube que era isso tudo oque eu precisava naquele momento.

[EM REVISÃO] Sephora - Torneio de GladiadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora